Diário de uma poetisa

Madrugada

Apenas mais um horário incoveniente para esse surto, situação essa que seria evitada se eu soubesse filtrar as coisas. Mas de certo modo ocorreu pois ela sabia da verdade, sabia como eu ficaria após esse fato ser exposto, e ainda me oferece ajuda para melhorar meu corpo, "ficar bonita", escolher roupas, como se algo assim fosse me mudar.
Não, eu realmente não quero mudar, não quero deixar de ser quem eu sou, quem eu fui, e não quero atrapalhar o desenvolvimento de minha pessoa.
Você não tem noção do que aquelas frases verdadeiramente me causaram, uma dor absurda, uma rejeição corpórea que eu não imaginava ser possível a essa altura do campeonato.
Minha vida nunca foi fácil, eu sempre fui a D.U.F.F entre as minhas amigas, a nerdzinha fofa e sociável que você pode se aproximar para conseguir informações sobre as amigas gatas e gostosas dela.
Ninguém se importa verdadeiramente sobre como as D.U.F.F's ou eu me sinto, ninguém vai me perguntar o que eu quero para um encontro, pois eu nem posso me dar ao luxo de determinadas coisas como essa.
Eles não vão me procurar para saber de mim, e eu queria não me importar, queria mesmo, mas o meu cérebro começa a odiar cada canto do meu corpo, como se ele fosse errado, inválido, injusto, e minha mente me pergunta porque justamente eu tinha que passar por algo assim?
Essa insegurança, esse ponto de interrogação que parece nunca achar uma resposta descente para a sua pergunta original, pergunta essa que eu me proíbo de pensar, mas em momentos como este, ela aparece em minha mente sem ao menos me pedir permissão, questionamento que fica em minha mente e me impossibilita de dormir: "Será que eu posso ser verdadeiramente amada?"
E eu só chego a uma resposta, seja em momento de crise ou um momento normal da minha vida cotidiana, "não", não posso, não vou e nem fui amada assim como elas, ninguém ousa me tocar desse modo, eu devo ser repugnante ou algo assim.
Em suma, escrever esse texto me permite deixar toda a frustração de lado e dormir como eu desejo fazer a tanto tempo, mesmo que eu esteja com o coração acelerado, as lágrimas secas e os olhos inchados, mesmo com o meu nariz não me deixando respirar direito por conta do choro.