O conforto que veio contigo

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28 de agosto de 2017

A guerra havia acabado cerca de  três meses atrás, digo cerca pois minha noção de tempo andava distorcida. Haviam dias que eu ficava apenas observando o sol sair e a lua entrar, e o contrário também, e em outros momentos me via perguntando se já havia chegado a hora de ir para Hogwarts, quando estamos longe até mesmo do natal e o enorme castelo ainda estava sendo reconstruído.

Era insano pensar que o lugar, o qual me serviu de casa, havia quase virado pó, ou pior, covil de um louco. As batalhas haviam acabado, pelo menos as que resultavam em carnificina, pois eu me sentia em uma guerra constante comigo mesmo. Desde o julgamento minha mente parecia me trair e nem os dias extras de terapia faziam muito por mim.

Minha família foi uma das primeiras a serem julgadas e haviam tantos jornalistas quanto cabiam no saguão do ministério. O tribunal ficou tão lotado quanto, com familiares de pessoas prejudicadas, ou pior, mortas pelas mãos de um dos Malfoys ou pelas ações de um deles. Só faltavam entrar pelas janelas.

Me sentia exposto como um manequim na vitrine de uma loja em uma avenida lotada.

Normalmente ser o centro das atenções não me era cômodo, mas eu não estava passeando, estava prestes a descobrir se veria meus pais novamente, se eles se veriam e se voltaria a praticar magia algum dia...

Gostaria de demonstrar surpresa ao ver o Santo Potter entrar no tribunal, mas não podia, o Veritaserum não permitia mentiras e eu não estava verdadeiramente surpreso com o ato. Fiquei um pouco com o depoimento totalmente a favor para mim e minha mãe. Obviamente sua fala prejudicou meu pai, mas eu nem consegui ficar realmente sentido com isso. Parte de mim estava até feliz em não ter que lidar com ele, o que me fez sentir ainda pior. Que filho quer o pior para o próprio pai?

O engraçado disso tudo, se posso dizer assim, foi que apenas as suas palavras não serviram e, mesmo que isso tivesse me devastado — pois ainda havia esperança dentro de mim sobre não passar o resto da vida em Azkaban —,  naquela altura da vida eu já deveria ter ciência que Harry Potter não desiste.

Todos voltaram do pequeno intervalo e agora o cicatriz não estava sozinho. O trio de ouro estava ali e Potter entregou um frasco para o juiz. Demorei para assimilar que ele estava dando suas lembranças. O ato me pareceu insano na época, depois idiota e logo se tornou heróico como tudo que o Santo Potter se propunha a fazer. Foi vergonhoso imaginar o júri me vendo ter uma crise no banheiro, foi pior ainda lembrar de todas as nossas brigas, honestamente não sabia o que poderia me livrar da prisão naquelas memórias, mas deu certo.

No fim, fui inocentado. Minha mãe recebeu uma sentença com direito a fiança que foi paga no mesmo dia e, bem, meu pai perpétua em Azkaban. Muitas pessoas odiaram o resultado, acho que era um sonho particular da comunidade bruxa nos ver definhando lentamente, e quase desejei isso. Será que ainda teria algo para um dementador sugar de mim?

Mas aquele dia não foi uma enorme surpresa, pois uma parte de mim realmente tinha esperança de voltar para casa naquela tarde.

A surpresa mesmo veio no final do primeiro mês de inverno, quando o mórbido ambiente de casa se transformou em caos. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas minha mãe parecia atordoada, andava de um lado para o outro botando flores e trocando quadros. Por mais estranho que aquilo fosse, não era a primeira vez. Toda vez que recebíamos visitas ela fazia aquilo, mesmo que em maioria fossem apenas pessoas do ministério e aurores. Na primeira vez eu quis acreditar que ela fazia aquilo tudo pela pessoa vindo, mas na terceira, eu finalmente entendi. Quem não queria reparar semelhanças do local antigo era a própria Narcissa.

Era uma tarde estranha em todos os sentidos, tudo parecia caótico dentro de casa e em uma paz mórbida fora dela, como se o mundo lá fora tivesse parado para olhar a neve cair.

Quando Mais Te Amei ✠ DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora