A calmaria que você trouxe

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12 de novembro de 2017

Acordei tarde, algo que não era costumeiro.

Estava mais que acostumado a virar madrugadas vendo o sol nascer, então ao fazer o feitiço de tempo e ter constatado que já passava das dez horas, entrei em leve desespero. Mas aquilo era culpa de Potter, que havia me convencido noite passada que seria genial fazermos nosso próprio jantar, resultando em uma bagunça gigantesca, minha mãe quase tendo uma síncope e muito trigo para limpar. Pelo menos a noite havia rendido duas coisas boas: Harry sujinho de trigo, parecia, de um modo fofo, empanado; e em uma surpreendente boa bolonhesa.

Foi impagável a cara que Narcissa fez ao comer, ela havia amado, mas não queria incentivar a zona em sua cozinha. Agradeci por isso, pois apesar da experiência, cozinhar definitivamente não era para mim.

Saí do quarto ainda sonolento, mesmo depois do banho, e acabei tropeçando em um livro.

Harry deixava em frente a porta do meu quarto algum livro trouxa, sem bilhetes, sem cobranças, apenas deixava ali, e eu sempre lia, sempre amava. Eu deixava para ele livros de ficção, não sabia por que, mas sentia que Harry apreciaria meu acervo de ficção sobrenatural, os autores eram bruxos, então parecia uma troca justa, um livro bruxo por um trouxa.

Gostávamos de ler sentados no jardim, ou, como hoje, quando a neve realmente assolou de forma pesada o local, resolvemos sentar próximo à lareira, onde as labaredas faziam luzes irregulares e alaranjadas que atrapalhavam nossa leitura, mas era aconchegante. Notei que não era o calor, a luz, ou o ambiente em si que me deixava tão confortável, era a presença de Harry ali, era a forma que seu rosto se torcia em caretas conforme o caminhar da história, o modo como ele precisa tirar os óculos e coçar os olhos para voltar a ler quase toda hora, ou o jeitinho que ele mordia o lábio inferior e puxava o punho do moletom usando os dedos com as cenas tensas do livro. No final era o fato de que eu notava tudo isso, e ele também parecia me estudar, que tornava aquelas tardes silenciosas tão perfeitas.

No geral eu não gostava de silêncio, preferia o chiar de minha velha vitrola a ele, mas quando se tratava de Potter o assunto mudava, amava nosso silêncio. Era acolhedor, calmo.

— Eu terminei, digo, lhe devolvi o livro a quase três dias, você não trouxe a continuação e sim outro — murmurei meio indignado com a falta de atenção daquela tarde em especial para comigo, ele estava totalmente alheio ao mundo real preso na ficção, e mesmo que apreciasse o fervor que ele devorava minha recomendação, queria um pouco de atenção.

— Você gostou? — Harry finalmente fechou o livro e me olhou, apoiando seus braços no carpete ficando meio sentado meio deitado, definitivamente ele teria problema nas costas com os anos.

— Sim… — Não costumávamos exigir os livros, ou falar sobre gostar ou não deles, apenas discutimos os pontos das histórias.

— Eu não tenho a continuação, aquele que lhe emprestei era uma duplicata, o original é de Hermione; estava lendo o livro no tempo que estávamos na Toca, não terminei, então dupliquei ele; terminei o livro semana passada e achei que faria seu tipo, ainda não tive como pegar o segundo exemplar, sinto muito, mas se te acalenta, eu também estou curioso — falou me olhando com um ar de desculpas, e toda a enrolação e explicações excessivas normalmente seriam coisas que me irritariam, mas eu gostava de saber como ele me considerava ao ponto de dar todos os detalhes, era estranho ser aquele que recebe a história completa.

— Tudo bem, você não precisava me dar o parecer completo. — Tentei tirar por menos, e cruzei as pernas.

Harry estava jogado no carpete olhando para mim, que permanecia sentado de pernas cruzadas no sofá de couro, era discrepante nossas posturas distintas; enquanto minha coluna estava ereta, minhas roupas alinhadas e o livro fechado com um marcador, ele estava de tronco erguido, pernas abertas, o jeans surrado com o moletom grande, todo desgrenhado e marcava a página com o indicador.

Quando Mais Te Amei ✠ DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora