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Acordou.

Simon estava em sua cama, suando frio. Fora apenas um pesadelo, afinal. Riu sozinho. Que sonho amaldiçoado aquele!

Olhou para o lado e viu um bilhete de Yasmim, avisando que fora trabalhar mais cedo naquela manhã. Não se preocupou em olhar calendários ou relógios. Não iria trabalhar, mais uma vez. Queria conversar com Allen. Queria saber sobre a porta fechada.

Tomou seu café da manhã apressado, nada além de um pão e um achocolatado. Decidiu que, antes de partir para o Sanatório Municipal, tiraria as fotos de sua câmera para liberar uma quantidade razoável de memória.

Se arrependeu profundamente dessa decisão.

De início, encontrou apenas fotos comuns, dos pacientes. Lá estavam Eleonora, Bill, Allen e outros tantos com os quais Simon não conversou.

Então, as fotos começaram a ficar estranhas.

—Mas que merda é essa?

Viu fotos do parque, pela tarde. Então, das ruas, já escuras. Uma foto confusa da lua cheia, outra com os dedos na frente da lente. A próxima foto era da frente da sua casa, uma segunda focava uma chama azulada. Seguiu, viu pior. Uma foto de um homem ao longe, quase que em silhueta.

Um homem vestido em branco.

Terminou de passar as fotos e desligou a câmera. Era apenas uma coincidência, isso. Nada além de uma coincidência.

Mas Simon não se lembrava de nenhuma daquelas fotos.

O que estava acontecendo?

Quando percebeu, já estava na rua. Não sabia que dia era, se tinha de trabalhar ou não. Sabia pouco de si e do mundo. Caminhava, sem ter certeza de onde chegaria, mas não fez questão de se prender. Deixou que suas pernas, e uma força sobrenatural que as controlava, guiassem-no para onde quisessem.

E elas o levaram até o Sanatório Municipal.

Cumprimentou Mirian com um aceno singelo, o qual ela retribuiu, hesitante. Passou pelos guardas como quem passa por velhos amigos, sorriu para um deles, que não fez questão de sorrir, em retorno. Chegou à sala de estar, onde a loucura contagiava, onde eles sempre estavam.

Sentou-se diante de Eleonora, que ainda parecia abalada, mas lá estava, alisando com os dedos uma mesa com textura áspera.

—Como vai a senhora? —perguntou ele.

Ela demorou a responder.

—Bem, acho. Não sei ao certo. Acho que me doparam. Eu gritei demais, também. Minha garganta ainda dói.

—Por que gritou?

—Onde está a sua câmera, agora? Pensei que teríamos novas fotos. Fiz questão de vestir minhas melhores roupas para a ocasião.

Ela ainda se vestia nas mesmas roupas que todos os outros.

—Ela ficou em casa —Simon falou, se dando conta disso apenas naquele instante. Não tinha levado nada consigo. —Hoje eu não vim para anotar ou fotografar. Vim apenas para fotografar.

—Está gostando muito desse lugar, jovenzinho. É melhor tentar não se acostumar, ou nunca mais vai sair.

Simon escutou um grito infantil, então uma gargalhada. Risada e choro, tudo ao mesmo tempo.

—Você está bem? —Eleonora perguntou, franzindo as sobrancelhas.

—Estou, sim —disse ele. —Ouviu isso?

—Isso o quê?

Estranhou.

—Deixa pra lá. Como vão os nossos mundos, Eleonora?

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