Acordo com uma luz suave sobre o rosto, e percebo Lucas já desperto, seus olhos escuros fixos em mim, me observando como se quisesse guardar cada detalhe. A expressão dele é um misto de ternura e algo mais profundo, uma sombra que nunca entendi completamente.
— Bom dia, lobinha — ele sussurra, com um meio sorriso.
— Bom dia — respondo, a voz ainda arrastada pelo sono, mas logo me lembro do peso das palavras que preciso dizer. — Desculpa por não ter te contado antes...
Ele toca meu rosto suavemente, num carinho que faz meu peito apertar.
— Você só estava com medo — responde, a voz cheia de compreensão. Mesmo assim, sinto uma distância entre nós.
Hesito antes de continuar. — Eu não sei o que você pensa sobre Sabine… eu só preciso que você me ajude a entender.
Ele me interrompe, o olhar antes suave se torna sombrio.
— Eu não confio nela, Julia.
— E por quê? Por ela ser vampira? — questiono, tentando entender aquele rancor crescente.
Ele balança a cabeça, o maxilar travado. — Porque ela mentiu para mim.
Eu engulo em seco, lembrando de como o segredo entre nós me corroía. — Eu também menti para você...
Lucas suspira, desviando o olhar. Em silêncio, ele se levanta da cama, os ombros tensos.
— Preciso ir, tenho coisas para resolver. Quando ela chegar, mandarei um dos meus betas para acompanhar. Não quero que ela te machuque.
Eu me levanto, tentando conter a onda de frustração e insegurança. — Ela não vai me machucar, Lucas. Você não entende…
Ele respira fundo. — Você a conheceu ontem, Julia.
Paro na porta do banheiro e o encaro, os olhos ardendo. — Não faz nem uma semana que te conheci, e confiei em você. Sabine pode me ajudar a controlar quem eu sou, a correr transformada sem medo de ferir ninguém. Eu estou disposta a arriscar por isso.
Ele me olha, mas fica em silêncio. Tranco a porta do banheiro e tento ignorar o som abafado da sua voz do outro lado, que murmura meu nome. Sinto como se houvesse uma barreira entre nós, uma distância imensa, e algo em meu peito começa a desmoronar lentamente.
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Mais tarde, desço as escadas, e um dos betas de Lucas me avisa que Sabine chegou. Ao sair, vejo-a perto da estufa, ao lado de um homem loiro de olhos verdes, que me observa com uma intensidade enigmática.
— Olá, pulguenta — Sabine diz, com um sorriso carregado de provocação.
Eu sorrio de volta, breve e desconfiada. — Olá.
Ela indica o homem ao lado. — Este é Santiago, o feiticeiro que vai te ajudar a entender sua magia.
Ele me cumprimenta com uma reverência elegante. — Senhorita.
— Prazer — digo, sentindo a curiosidade crescer dentro de mim.
Nos reunimos ao redor de uma mesa de vidro repleta de flores que pareciam misteriosas, como se guardassem algum segredo. Santiago começa a falar, a voz grave e hipnotizante.
— Essas flores foram criadas por antigos feiticeiros para honrar seus clãs. Cada linhagem escolheu uma para representá-los. As tulipas para os Shipates, os lírios para os Marsedirios, e a dália negra para os Darkstorm.
— O que eu preciso fazer? — pergunto, sentindo uma mistura de curiosidade e receio.
— Tente fazer uma dessas flores desabrochar — instrui ele, indicando as flores.
Estendo a mão para a tulipa. Nada. Tentei o lírio, mas também não respondeu ao meu toque. Então minha mão se aproxima da dália negra, e antes que eu pudesse tocá-la, ela se abre, como se respondesse à minha presença.
Santiago murmura, seus olhos fixos em mim. — Darkstorm.
Sabine sorri ao meu lado. — Parece que encontrou sua linhagem, Julia.
Eu a encaro, atordoada. — Isso significa que...
— Você é a última descendente dos Darkstorm — Santiago explica, com uma solenidade inesperada.
— Meu pai... ele era um feiticeiro?
Ele confirma com um olhar sério, entregando-me um ovo encantado. Durante horas, ele me ensina os primeiros passos para controlar minha magia, até que o céu se tinge de laranja ao anoitecer.
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Mais tarde, enquanto volto para meu quarto, Ana me encontra no corredor.
— Oi, não te vi o dia todo.
— Estava treinando minha magia.
Ela sorri e se afasta. Quando chego ao quarto, sinto uma estranha mistura de cansaço e ansiedade. Ao entrar, vejo Lucas deitado na cama, me observando em silêncio.
— Oi — ele murmura, mas minha mente está longe, confusa. Pego uma toalha no guarda-roupa e vou em direção ao banheiro.
— Vai continuar me ignorando? — ele pergunta, aproximando-se de mim, os olhos cheios de arrependimento.
— Sai da minha frente, Lucas. Preciso de um banho.
Ele segura meu braço, mas com uma gentileza que desarma minha resistência. — Fala comigo, lobinha. Me desculpa por antes… por tudo. Só não me ignora, isso machuca. Julia... eu te amo.
Engulo em seco, e a voz falha quando respondo. — Eu só... só preciso de um banho.
Ele se aproxima, sua expressão suave, os olhos intensos. Seus lábios tocam os meus, em um beijo leve que, por um momento, me faz esquecer de tudo. Mas de repente, algo dentro de mim se parte; em um flash, uma memória se insinua, uma lembrança de outra vida. Os olhos de Lucas se misturam com outros olhos, um olhar sombrio, manipulador.
Recuo, sentindo o coração disparar. — Para, Lucas...
— Por quê?
Olho para ele, mas por uma fração de segundo, vejo outro rosto, outra presença. Meu corpo treme enquanto sussurro, quase inaudível. — Eu... eu não quero, Lucas.
Ele se afasta, respeitando meu espaço, mas o rosto que vejo por um breve momento não é o de Lucas. É Sebastian, uma sombra do passado que ainda me assombra, um feitiço ou um toque que ficou marcado em mim de forma irreversível.
Lucas me observa com um olhar confuso, mas ainda amoroso, enquanto eu luto contra a confusão em meu peito. Mesmo sabendo que ele está ali, sinto como se estivesse dividida entre duas realidades. E quando ele finalmente sai do quarto, o eco do que eu vi permanece, uma presença de alguém que talvez eu nunca consiga realmente afastar.
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cuidarei da loba / Concluído
WerewolfComo minha história se inicia aqui mesmo vou logo dizendo que os vampiros não queimam no sol e só tem a fraqueza da estaca de madeira. A muito tempo os lobos e os bruxos viviam em harmonia porém as alcatéias se atacavam constantemente não existia um...