capítulo 15

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Um mês depois...

Acordei com o coração disparado. Hoje era o dia! Sem pensar duas vezes, pulei em cima de Ana, sacudindo-a até que resmungasse.

— É hoje! Estou tão feliz, meu coração está palpitando!

Ela abriu os olhos lentamente, claramente irritada.

— Júlia, sai de cima de mim! Eu sei que você está animada, mas não se esqueça do que aconteceu ontem. Não faça tanto esforço.

Bufei, me afastando um pouco.

— Foi só uma indisposição... Mas esse aperto no peito está ainda mais forte. Kyara não se comunica comigo há dias, estou me sentindo tão fraca... Acho que o que me mantém de pé é meu lado bruxa.

Passei a mão no rosto, tentando afastar aquele incômodo.

— Mas hoje acordei melhor! Deve ser felicidade de ver Lucas!

Ana me olhou com hesitação antes de suspirar.

— Tá... Tudo bem.

Nos arrumamos rapidamente e descemos para a sala. Assim que chegamos, encontramos Marta parada no meio do cômodo, segurando uma bolsa.

— Ontem, Santiago me disse que as bruxas querem despertar Ágatha. Vou com vocês.

Franzi o cenho.

— A senhora não pode se colocar em perigo.

Marta sorriu de leve, mas seus olhos eram determinados.

— Eu treinei a maioria daquelas bruxas, Júlia. Sei que te treinei bem, mas para derrotar Ágatha vai ser preciso mais do que um mês.

Não tive como rebater. Ela estava certa. Sem mais delongas, saímos de casa. Marta fez um feitiço de selamento antes de partirmos. Caminhamos por horas, e meu coração só acelerava. Parecia que a alcatéia estava mais distante do que nunca.

Talvez fosse ansiedade...

Quando finalmente chegamos, um aperto esmagador tomou meu peito, me deixando sem ar. Assim que entramos, vi Paulo nos esperando. Joguei as bolsas no chão, alarmada.

— Cadê o Lucas? Por que essa cara?

Paulo hesitou antes de responder.

— Ele está no quarto, Júlia... Vocês ficaram muito tempo separados. Lucas está fraco... E ainda tem o feitiço que Ágatha lançou sobre ele.

Meu sangue gelou. Não esperei mais nada. Corri até o quarto, sentindo o cheiro de Lucas pelo caminho. Isso me deu um mínimo de alívio.

Abri a porta com pressa. Lá estava ele, deitado na cama, sua pele marcada por hematomas roxos.

Meu peito se apertou.

— Ágatha vai me pagar.

Me aproximei, deslizando os dedos pelo seu rosto com carinho.

— Que saudade... — Sua voz saiu fraca, mas carregada de sentimento.

— Você acordou!

Lucas sorriu, mas logo fechou os olhos por causa do cansaço.

— Quero te falar tantas coisas... - ele sussurrou

— Amor, fica caladinho. Eu vou te curar.

— Eu te amo, meu amor... - seus olhos se abriram e olhar para minha alma.

Engoli em seco, tentando conter as lágrimas.

— Remedium duritiam incantatorum tuorum vehementem.

Vi sua expressão suavizar um pouco.

— A gente... - ele tentou falar

— Shhh, descansa, vida.

Ele fechou os olhos, entregando-se ao sono.

Mas eu não ia descansar.

Virei as costas e saí do quarto. A raiva dentro de mim crescia como fogo descontrolado.

— Júlia, onde você vai? — Ana chamou, mas a ignorei.

Minhas mãos estavam queimando.

Saí da casa e corri até o meio da floresta. E então gritei:

— Eu vou matar quem fez aquilo com o Lucas!

Uma risada cortou o silêncio.

— Estou aqui. Vamos brincar.

Meus olhos brilharam com fúria.

— Você não é quem eu procuro.

— Mas fui eu quem colocou seu lobinho para dormir. Lucas, não é?

Minha visão escureceu por um instante. O ódio era sufocante.

— Não ouse falar o nome dele!

Levantei as mãos, e as raízes das árvores começaram a crescer ao redor do corpo daquela bruxa, apertando-a como correntes vivas.

Ela riu.

— Pelo visto, você andou treinando. Mas só essas raízes não vão me matar.

Sorri de lado.

— Tem razão.

Meus olhos brilharam mais intensamente, e as chamas começaram a consumir seu corpo.

— Bruxas como você merecem queimar na fogueira... Mas nada que eu não possa improvisar.

Os gritos dela ecoaram pela floresta.

Era música para os meus ouvidos.

Até que ouvi passos apressados.

Júlia, estou muito fraca. Vamos voltar.

— Não! Quero minha vingança!

Se eu estou fraca, você também está. E essa bruxa dentro de você não vai te manter de pé sem mim.

A ignorei.

Continuei correndo atrás da pessoa que tentava fugir.

O cheiro não mentia.

— Você não é uma bruxa... Nem um feiticeiro.

O estranho parou e me encarou.

— Sou Arthur. Vim dar um recado ao Supremo.

Apertei os olhos.

— Vou te levar até ele. Mas se ousar machucá-lo, eu te mato.

Voltamos à alcatéia. Assim que chegamos, Ana arregalou os olhos e correu até Arthur, abraçando-o.

— Arthur! Quanto tempo!

Ele sorriu.

— Cadê seu irmão?

— No quarto, descansando.

— Preciso falar com ele.

— Espere. Vá tomar um banho. Vou mandar roupas para você. Depois conversamos.

Arthur subiu, e me virei para Ana.

— Onde está Sabine?

— Foi descansar. Disse que estava exausta. Levou Marta com ela. Santiago foi também.

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No clã...

Duas bruxas observavam o corpo carbonizado.

— Achamos o corpo assim.

— As raízes nem queimaram.

— Ela era uma das mais fortes entre nós.

— O que você acha que foi?

Uma voz fria e calculista preencheu o ambiente.

— A híbrida está mais forte do que eu pensava.

As outras duas bruxas se entreolharam, tensas.

— Nunca ouvi falar desse feitiço.

— Não é um feitiço. É um dom especial do clã dela.

— Temos que reforçar a guarda.

— Não deixe que ela venha até mim.

cuidarei da loba / ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora