Sombras do passado

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   Há um longo corredor em minha frente. Suas paredes estão sujas e seu piso gasto, além do forte cheiro de poeira presente em todo o ambiente, há muita úmidade devido às goteiras no teto. O que um dia já fora uma linda mansão agora não passa de uma mera lembrança do passado, mesmo depois de tantos anos eu ainda sinto como se fosse a minha primeira vez nesse lugar, as paredes que um dia tiveram cores alegres e vibrantes agora não passam de meros destroços.
    O estrondar dos trovões por alguma razão me mantém calma, seus gritos me tranquilizam como uma mãe que afaga o cabelo do filho para fazê-lo dormir, apesar de não haver ninguém sinto que não estou só, como se houvesse não uma pessoa, mas outro tipo de criatura, algo místico? Talvez.

- Você cresceu bem... - diz.

    Essa voz... Não importa quanto tempo passe eu nunca vou esquece-la, sendo nessa vida ou em qualquer outra, seus sussurros estão presos em minha mente me rasgando de dentro para fora, consumido tudo o que sou, tornando-me vazia. Sinto-me vulnerável, minha respiração falha e minhas mãos suam, isso não pode ser real, ele não pode ser real. Apesar de teme-lo sigo em frente, sinto como se meu coração fosse saltar do meu peito a qualquer instante, dando um passo de cada vez vou recitando a oração que aprendi no convento.

- Vejo que você ainda tem o colar da sua mãe. - sussurra sorridente.

   Sinto seu corpo colado no meu e sua respiração em meu ouvido, ele sobe uma de suas mãos  lentamente do meu braço ao busto, enquanto firma a outra em minha cintura, seu toque é quente como o próprio inferno, ele sabe o poder que tem sobre mim, sabe como me controlar, como tornar-me sua. Quando ele alcança o colar meu coração bate mais forte, não de um jeito bom, como quando vemos a pessoa que gostamos, mas de um jeito doloroso, como se ele estivesse esmagando-o, tentando tornar-me vazia novamente.

- Pare... Por favor... - imploro, mas não adianta, ele parece não me ouvir com se estivesse tão imerso em seus próprios pecados quanto eu. O aperto em meu peito aumenta a ponto de tornar-se insuportável, não consigo ver, respirar ou sentir mais nada, é como se eu estivesse me perdendo cada vez mais dentro de mim, não sei quem sou, onde estou ou como cheguei aqui, só sei que quando abri meus olhos eu estava em um lugar sujo, escuro e fedorento. Então esse é meu destino? Passei a vida tentando descobrir quem ele é, por que me controla, por que me persegue... Para acabar assim? Morta sem mais nem menos por um ser que sequer existe? Eu sei que errei, e me arrependo amargamente de tudo que fiz, não tem um dia em que eu não me arrependa de tê-la deixado ir, de não ter dito que a amava, de não ouvi-la quando disse que me arrependeria de tentar descobrir a verdade, ela tinha razão, eu esperei treze anos por isso, para no fim acabar assim: vazia, fria e morta.

A Procura da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora