Eu, ele: Nós

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Quando se vive presa por mais de dezesseis anos em um convento, você pode acabar esquecendo que todas as criaturas foram criadas por Deus, até mesmo aquele que me foi ensinado odiar, e acima de tudo nunca confiar, mas como eu falei, ficar presa por mais de dezesseis anos muda a sua cabeça, faz com que você pense, Veja e sinta coisas...

Ouço batidas fortes na porta, tiro minha atenção do laptop em minha frente e caminho em direção ao som, espio pelo olho mágico para ver quem me encomoda a essa hora e vejo a peça de cabelos curtos e fios brilhantes parada em frente a minha porta com cara fechada e maquiagem marcante.

Abro a porta e sou pega desprevenida quando ela me abraça, Liah Ross é de longe o melhor sinônimo de gentileza, fazendo com que sua beleza e língua afiada a tornem ainda mais brilhante e mortal, esse rosto de boa menina a ajuda a se misturar facilmente durante nossas missões, lembro bem quando fomos solicitadas para acabar com uma quadrilha de traficantes na África, ela os matou sem hesitar momento algum, gosto da forma como equilibra as coisas, a torna mais fácil de ler, e manipular.

- Vai ficar aí me encarando, ou vai se arrumar? Temos trabalho.

- É pra já, chefe.- respondo de maneira irônica, enquanto corro em direção ao meu quarto antes de ser atingida por uma almofada.

Meu braço queima e minha cabeça lateja assim que abro os olhos, as lembranças da noite passada invadem minha mente quando passo a mão no tecido macio e leve do vestido, analiso o ambiente e vejo que estou em casa, menos mal já que ontem tivemos que sair às pressas antes de sermos pegas pela polícia, quem diria que trabalhar para uma agência seria tão cansativo, a contra gosto decido levantar, afinal um tiro no ombro não vai cicatrizar sozinho.

A rua estreita me traz um ar de familiaridade, vejo um casal passando de mãos dadas, uma idosa com sacolas do mercado e uma criança passeando com seu cachorro, eu com certeza estaria no chão de tanto rir pelo esforço da criança para tentar manter o cachorro na coleira se meu braço não estivesse com um buraco do tamanho de um botão, mesmo tendo desinfetado e costurado ainda preciso de analgésicos, então me forcei a levantar do sofá e ir até a farmácia mais próxima. Apesar de ser organizada e meio feia, até que o atendimento não é ruim, deve ter alguém limpando, ou ter sido limpa a pouco tempo já que o cheiro de produtos de limpeza invadem meus sentidos assim que passo pelas portas, devo parabenizar os donos já que não deve ser tão simples assim limpar esse lugar, tem muitas estantes e mercadorias variadas. Sigo em direção a um dos corredores quando o ouço...

- Você fica linda corada, pena que dessa vez é por causa do frio.- sibila analisando uma das estantes.

Sinto minha respiração falhar e minha mãos suarem, tento me convencer de que é pela dor causada pelo tiro e não por sua presença, caminho até o caixa ignorando a sensação causada por seu olhar em  minhas costas quando de repente.

- O senhor gostaria de ajuda?- perguntou de forma suave, olho para traz meio assustada e vejo a atendente parada ao seu lado com um olhar tanto malicioso quanto curioso, seus olhos âmbar o encaram com admiração e cobiça, por um instante minha mente gira e minha visão embasa, ela pode vê-lo?!

- Não senhorita, agradeço sua gentileza mas estou apenas esperando minha mulher pagar para irmos embora.- responde indiferente, apontando na minha direção com a cabeça, parecendo decepcionada e meio irritada a atendente finalmente me encara e caminha até mim a paços rápidos.

Sai da farmácia quase correndo em direção a igreja mais próxima, como ela pode vê-lo?! Não faz o menor sentido, como ou por que são as palavras que rodeiam a minha mente quando ele surgui em minha frente, isso é impossível, por que só agora, ou por que com ela.

- Eu acho melhor acalmar seus pensamentos, sua confusão está me dando dor de cabeça.- indaga, enquanto se joga em meu sofá de maneira desleixada.

Respiro fundo e junto todas as forças que tenho para não explodir antes de  perguntar.

- Como? Por que? Quando?- cuspo as palavras com se fossem veneno, quando saímos da farmácia ele me disse para esperar até chegarmos em meu apartamento, mas agora vejo que foi uma pessima ideia trazê-lo até aqui, estou com um mal precentimento.

A Procura da VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora