- Eu nunca vi sua ousadia como um empecilho, pelo contrário sempre achei que fosse sua maior qualidade, mas assim como você eu estava enganado, como os outros da sua especie você não passa de uma criatura burra e patética.- declara, em alto e bom som.
Sinto meu rosto queimar com sua declaração, afinal o que estava esperando?! Eu comecei essa troca de farpas achando que sabia mas do que necessário para vence-lo e como das outras vezes ele provou o contrário, ele tem razão em uma coisa: sou mais do que tola para fazer isso, prometi a mim mesma que iria leva-lo de volta para o inferno no dia em que pisei nesse país pela primeira vez e é isso que irei fazer.
Ignorando suas palavras vou em direção a porta e adentro novamente o edifício. Eu tinha razão sobre haver menos pessoas nesse andar do que do inferior, me permitindo um pouco de paz para realocar meus pensamentos, preciso me livrar dele o mais rápido possível, te-lo sempre por perto está me sufocando, por mais que eu negue eu sei que ele tem consciência sobre sua força em meu corpo, não sei como ou por que mas irei descobrir, eu estava perto de solucionar esse problema quando nos encontramos pela primeira vez, e mais próxima ainda quando ele me fez queimar o convento, não sei o que minha mãe ofereceu a ele, bom, talvez eu tenha uma ideia nada boa do acordo feito entre eles e saber disso me agrada muito menos do que antes, assim que eu descobrir o que negociaram para prende-lo a mim terei uma chance de saber como me livrar dele e seguir minha vida.- Sabe, eu ainda lembro dos seus clamores para sair daquele lugar, da forma que descrevia ele quando estava nas sombras - diz, ele não me encara, como se lembrasse de algo, seu peito sobe e desce rápido e seu corpo está tenso. Após uma longa pausa ele continua -... Eu a tirei de lá, se hoje você está viva é por minha causa, sua mãe estava a beira de um declínio e eu a salvei.
Minha cabeça gira e minha mãos tremem, do que ele precisaria salva-la?! Se ele realmente a ajudou então esse acordo deve ser seu pagamento, apesar de repentina me parece uma declaração valida, ele e minha mãe tinham algum tipo de relação desde muito tempo antes do meu nascimento, o que não me é nada bom, pois me parece que ele sabe bem mais do que eu imaginava sobre mim.
Tentando parecer o mais neutra possível me afasto da estante e caminho em direção a escada para me retirar o mais rápido possível deste recinto. Ao abrir a porta de madeira eu já não o tenho mais comigo, ele deve ter reparado que sua declaração me abalou mais do que deixei transparecer, ele e minha mãe, juntos, eu não posso com essa informação, por mais que eu já soubesse que eles tinham algo, mas agora isso muda tudo, não é mais como se ele tivesse aparecido na minha vida assim de repente como uma rachadura na parede, ele já está nela muito antes de saber que eu viveria, isso o torna ainda mais difícil de ser cortado, ele não é só mais uma rachadura, ele é a mais profunda.
Tranco a porta e me jogo no sofá, sua espuma parece me abraçar mais cada vez que eu colo o meu peso nesse móvel, mesmo depois de tudo o que eu passei, ver que ainda sou capaz de melhorar e construir uma vida como uma pessoa normal é incrível, eu me sinto como uma garotinha que acabou de ganhar seu primeiro presente de aniversário, eu sei que isso não torna as coisas que fiz mais fáceis de serem carregadas e nem quero isso, mas saber que eu posso recomeçar em um lugar novo, muda tudo.
Encaro o teto bege com um pequeno lustre de cristal que brilha cada vez que se movimenta, vou abaixando o olhar para os quadros na parede, suas molduras pretas tem um contraste agradável aos olhos junto da cor das paredes, o assoalho de madeira escura trás equilíbrio para o apartamento dando um contraste fino ao ambiente. Levanto do sofá indo até a cozinha, pego uma taça e uma garrafa de vinho Rosé. Sinto o liquido descer queimando de leve minha garganta com um sutil contraste de álcool na língua, viro o resto do conteúdo da taça e o sabor de álcool se torna mais forte, pego uma fatia de torta de chocolate com morango e saboreio devagar.
Fecho os olhos por um momento e posso sentir o vento rugindo nos meus ouvidos, a grama fazendo cócegas nos meus pés, o vestidos chicoteando no meu corpo e estalando com o vento, sinto o cheiro da água do riacho e o toque macio das pétalas das flores sobe meus dedos, penso em dar um passo para a frente mas temo me machucar, mesmo conhecendo este campo como a mim mesma ainda hesito em seguir meus instintos, a madre sempre costuma dizer que cuidado nunca é de mais e eu sai que ela tem razão, por isso sempre que penso em fazer algo assim minha mente reproduz a voz dela me transportando para a segurança, eu sei que ela faz de tudo para me ver bem, e também sei que ela entenderá minha decisão, eu o amo e sei que ele sente o mesmo por mim, se queimar minha casa com todos que amo é o preço para ficarmos juntos eu preciso me arriscar, o que sentimos um pelo outro é algo que durará para sempre, nada nem ninguém irá destruir isso, eu sei, sinto isso como os batimentos fortes do meu coração quando ele está por perto, quando isso acabar ficaremos juntos pela eternidade.
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A Procura da Verdade
ParanormalUma mulher que está atrás da verdade sobre seu passado, da razão pela qual é perseguida por um ser que a controla, e ela pretende descobrir a verdade até seu último suspiro. Dizem que somos moldados pelo passado, mas como posso ter certeza de que is...