Entre Verdades

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  Quando as luzes douradas da White Tower batem contra seu corpo dão a ele um ar diáfano, o tornando quase como um ser celestial, o vento parece brincar com seus cabelos fazendo-os dançarem junto das estrelas, suas vestes negras moldam seu corpo que junto da iluminação fazem-o parecer uma pintura a óleo, seus olhos fitam-me de forma tão intensa que sou capaz de ver as trevas ameaçando toma-los, os mesmos olhos pelos quais me apaixonei e que um dia já me olharam com amor, agora encaram-me com fúria e frieza, sua postura é dura e imponente, seus lábios estão separados em um sorriso maligno, mostrando suas presas medonhas. Xingo-me internamente por ainda ser afetada pela sua presença, mesmo depois do que aconteceu ainda o desejo com tudo o que sou, "qual é o meu problema?!".
   E lá está ele exibindo-se novamente, sem quebrar o contato visual ele avança, dando um paço para frente, caminhando para a luz, mostrando seu poder e força, mostrando o quão é superior a tudo e todos.
  Ele permite que o vento o toque enquanto cai em direção ao chão, então elas surgem, negras e grandes, além de brilhantes e esplendorosas, suas mãos unem-se e seus olhos vão de verdes para brancos em milésimos, quando suas mãos se separam elas o cobrem por completo, a última coisa que vejo antes que elas o possuam é um sorriso ladino em seu rosto sereno.
  Como que se fosse automático, reviro os olhos, já sei muito bem o que vai acontecer, mas ainda sim meu corpo tenciona, as imagens de nossa última conversa vem em minha mente, coro ao lembrar da forma como ele me encarava, de como observava meu corpo de maneira descarada, das suas palavras e promessas. Mesmo sabendo que tudo que me diz não passa de mais uma de suas mentiras ainda sim minha mente insiste em questionar-se se ele realmente acha que temos uma chance, porém ao pensar nisso prefiro ser enviada ao inferno por suas mãos a dar-lhe uma segunda chance, a ama-lo novamente, ele nos levou a isso, por sua causa me tornei um monstro, matei pessoas por atenção, para mim o que as pessoas vêem como amor eu vejo como carência e sexo, a necessidade de atenção, de reciprocidade e desejo, os humanos não amam, temem a solidão por medo de seus pensamentos, usam uma palavra para esconder suas verdadeiras intenções, o desejo de atenção e prazer físico, eles não se importam com nada além de si mesmos, além da realização de seus desejos, de sua satisfação.

  - Eu lhe disse... Deus sabe como eu lhe disse, mas você nunca aprende. - sussurra, de repente sinto seus lábios roçando contra os meus, sua mão em minha cintura, inevitavelmente fecho meus olhos, ele leva a outra mão para meu cabelo, sinto um arrepio na nuca. Seu toque repentino me leva de volta ao passado, fazendo quase com que eu me entregue quando recupero os sentidos, o empurro com toda a força que tenho, o que apesar de não ser muita é o suficiente para me trazer de volta a realidade, "o que há comigo?! Por quê estou fazendo isso?".

- É um bela noite, não acha? - sibilou, parecendo indiferente com minha atitude repentina.

  Ele encara o céu por um momento antes de levar seus olhos ao encontro dos meus,  por uma fração de segundo tenho a impressão de ver um menino assustado, uma criança quebrada e incapaz de entregar-se ao amor, mas então me lembro de que tudo o que vejo e sinto em relação a ele não passa de uma farsa, tudo o que sei sobre ele é uma ilusão a qual eu sou seu brinquedo, ele não é real, tudo o que fiz e sou, foi graças a ele, as pessoas que matei, o pecados que cometi... Mas então por que há algo dentro de mim gritando o contrário, perguntando-se: "como eu posso ter sido capaz de deixar algo como ele me controlar?", "por quê ele faz isso?", meu subconsciente implora para que eu faça algo além de servir como seu passatempo favorito, mas por alguma razão me mantenho calada, não faço nada, mesmo sabendo que tudo isso não passa de uma brincadeira e eu sou seu peão nesse jogo sádico e doentio, permaneço parada, o observando e desejando o que não posso ter, o que mesmo que tenha me quebrado me fez sentir viva, até ouso dizer que amada, eu o desejo independente do que penso, necessito sentir seu corpo sobre o meu, ouvi-lo dizer palavras chulas em meu ouvido enquanto nos satisfazemos, eu sei o que fiz, os erros que cometi, o peso dos pecados que carrego e tenho certeza que nada disso teria acontecido se não tivesse cedido aos desejos da carne, se não tivesse deixado o meu lado irracional dominar-me, fui fraca, cedi as tentações mundanas, mas não consigo me arrepender,  não, eu não posso me arrepender, o arrependimento não me salvará, não impedirá quando um de nós sucumbir, ele não passa de um ser medonho, algo deplorável que vageia por este mundo atrás de uma alma pura para corromper, esse é o seu dever, corromper, destruir e matar pessoas, não com suas mãos ou trevas, mas com suas provocações, seus jogos doentios e principalmente com suas palavras, as mesmas palavras que ele usou para me conquistar, usou para tornar-me sua máquina, usou como desculpa para me livrar dela, para me fazer mata-la, e depois para se livrar de mim, quando incendeie o convento a seu mandado ele me fez assistir enquanto o lugar que eu cresci se desfazia em cinzas, me fez ouvir seus gritos de lamúria e desespero até que a última alma se desfizesse em pó e depois me fez admitir como se eu fosse a responsável por aquilo, como se fosse culpa minha as portas para a vida eterna estarem trancadas, como se eu fosse a responsável pelos pecadores presentes ali, ele me manipulou com suas palavras quando a única coisa que queria era seu amor, quando tudo o que eu queria era que suas promessas se tornassem reais, que ele me amasse plena e completamente assim como eu o amava, mas então tudo virou de cabeça para baixo, o que antes era o paraíso ao seu lado havia se tornado o inferno e foi aí que eu descobri que o homem que tanto amava não passava de um monstro cruel e que nunca seria capaz de sentir nada por uma mortal como eu, uma mortal patética e desprezível cujo a única utilidade era satisfaze-lo. 

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