Capítulo 3

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  Manter a distância de uma pessoa que passa pelos mesmos corredores da faculdade que você não é trivial. Dentro da mesma sala de aula é mais complicado ainda. Com a sorte que as duas tinham, nenhuma delas se surpreendeu ao encontrar a outra na mesma turma do primeiro período. A essa altura parecia inevitável, elas teriam que se acostumar com a presença da outra pelo menos até o fim do semestre.

  Apesar do convívio diário, as histórias universitárias de cada uma não podiam ser mais diferentes. Solange fez amizades com praticamente todos da turma 一 e de outras turmas 一 rapidamente. Sua personalidade alegre e convidativa trouxe muitas pessoas para o seu lado. Convites para festas não faltavam e ela, claro, não recusava. No quesito de estudo ela não ficava para trás. Apaixonada pelo curso que escolheu, ela se admirava com o conhecimento dos professores, escolhia se sentar bem no meio da sala e se saía bem até nas matérias consideradas mais chatas.

  一 Ô, Sol, vê se não esquece e me ilumina 一 Jonathan entrou cantando assim que viu Solange na sala.

  一 Bom dia, Jonathan 一 ela riu. Seu novo amigo todo dia chegava com uma música nova envolvendo "sol" por causa do nome dela.

  一 Oi para você também, viu. Não é só a Solange que tá aqui não 一 Renata retrucou. Ela estava sentada ao lado de Solange, colocando a conversa em dia.

  一 Bom dia, Renata Renatinha 一 ele acrescentou.

  一 Agora sim 一 ela riu.

  Solange podia se dar bem com quase todos, mas ela era particularmente próxima de Jonathan e Renata. Logo na primeira semana eles tiveram um debate sobre as melhores séries do momento e não pararam mais.

  Do outro lado da sala, sempre bem no canto e no fundo, Luana chegava quieta e saía quieta. Ela, que já tinha dificuldade para agir socialmente, se sentia como se estivesse em um mundo alienígena. Não é como se ela ficasse completamente isolada. Ela conversava com alguns colegas de turma com certa frequência e apreciava a companhia deles, mas para ela não passavam de colegas de turma. Ela preferia focar na aula. Queria ir bem, mas não era a melhor aluna e tinha dificuldades em uma disciplina ou outra... Ou quase todas, melhor dizendo.

  Um pouco por conta disso, sempre que tinha um intervalo entre aulas Luana ia para o seu lugar preferido no campus: a biblioteca. Lá ela podia reforçar os estudos sem ser interrompida. A verdade é que ela não gostava de estudar, mas sabia que não podia negligenciar a faculdade e acabou encontrando na biblioteca um lugar de conforto. Luana gostava ainda mais da biblioteca porque sempre tinham outros alunos em silêncio e com seus livros nas mesas de leitura. Mesmo sem conhecer ninguém por ali e muito menos ousar trocar palavra com algum deles, para variar ela sentia que pertencia àquele lugar.

  O hábito de Luana fez com que ela logo se entendesse com a matéria, para o próprio alívio. Dois dos maiores medos de Luana na faculdade eram não gostar do curso ou não conseguir acompanhar a matéria. Ela não queria ver seu esforço jogado fora por uma decisão ruim, afinal. Podia até ser só o primeiro semestre, mas para ela era um bom sinal.

  Certo dia, enquanto procurava na estante por um livro que cairia na prova de Teoria da Comunicação, ela se deparou com outro que captou seu olhar. Era um livro que um professor tinha mencionado, mas que não fazia parte da bibliografia de nenhuma matéria sua. O assunto pareceu tão interessante para Luana que foi um dos responsáveis por despertar o interesse da jovem pelo curso.

  Seus olhos praticamente brilharam quando viu a lombar o livro e automaticamente a sua mão se estendeu para pegar a cópia da estante. Um pouco antes de alcançá-lo, uma outra mão chegou no livro e o pegou. Ela olhou para o lado e viu Solange que folheava o livro sem dar importância para Luana ao seu lado.

Sol e Lua [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora