Capítulo 5

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  Ir ao bar era um dos programas favoritos de Patrícia e Solange. Elas já frequentavam esse ambiente durante o ensino médio, ainda que não pudessem beber legalmente. Nesses poucos meses de vida adulta elas já criaram o hábito de frequentar bares e ingerir bebidas alcoólicas. Elas não exageravam a ponto de perder o controle, apenas o bastante para se divertirem ainda mais.

  No bar não só elas podiam conversar e beber como podiam fazer uma coisa que as duas adoravam: fofocar. Elas não faziam questão de tentar escutar conversas privadas, mas se divertiam com comportamentos inusitados que sempre aconteciam em bares e que eram impossíveis de ignorar.

  Naquele domingo em um lado do bar tinha uma mesa animada com pessoas de seus trinta anos cantando um samba em alto volume. Do outro lado, um grupo pequeno em outra mesa cantava uma sofrência sertaneja enquanto choravam, bêbados, e se consolavam. A dupla de amigas acompanhava e discutia qual mesa era mais afinada. A conclusão é que a galera do samba era mais animada e até harmoniosa às vezes, mas a da sofrência ganhava no quesito de interpretação da letra.

  Elas não precisavam saber o contexto, só ver a cena ao longe era o bastante para teorizarem sobre por alguns minutos antes de seguir adiante. O assunto eram sempre pessoas desconhecidas, que nunca viram antes e nunca veriam de novo, então não tinham o menor interesse de se meter na vida alheia. Só que a situação muda quando se encontra uma pessoa conhecida no mesmo lugar.

  一 Ei. Eu posso estar enganada, mas aquela ali não é a Luana? 一 Patrícia chamou atenção da amiga enquanto olhava para o lado.

  Solange se virou. Parecia irônico que elas estavam novamente em uma ocasião em que Patrícia falava de Luana para Solange e ela a procurava entre as outras pessoas. Dessa vez não era pelo interesse, ou sequer pelo desdém, e sim pela curiosidade. Diferentemente de uma boate, não era difícil encontrar alguém sentado em uma mesa, então ela não demorou muito para ver a garota e confirmar que de fato era Luana. Agora, uma distinção evidente é que a jovem não estava sozinha em seu canto. Ela estava dividindo a mesa com um rapaz. Não havia dúvidas que estava em um encontro. Solange fechou a cara, incomodada com o que viu.


  Depois de alguns meses no Rio de Janeiro sem conseguir formar uma relação, de amizade que fosse, com pessoas novas, Luana percebeu que se dependesse das habilidades sociais e verbais dela, ela jamais chegaria nesse ponto. Por isso decidiu partir para aplicativos de encontro como seu plano B. Ela não estava necessariamente procurando um namorado. Caso se conectasse com alguém de tal forma seria ótimo, mas a princípio o que ela esperava era vencer a timidez e fazer contatos com cariocas.

  Desde que decidiu partir para os aplicativos de encontro, ela começou a conversar com alguns rapazes. Para evitar um mal entendido, ela sempre deixava claro suas intenções. Muitos desfizeram contato, alguns mais rudes do que outros. Um deles, no entanto, disse que não se importava. Eles continuaram se falando e Luana se sentiu confortável com ele.

  Seu nome era Heitor, ele tinha 19 anos assim como ela, estudava em outra universidade do Rio, e era divertido e gentil nas conversas. Quando ele a chamou para sair, ela pensou um pouco antes de aceitar. "É só uma saída com alguém legal e sem compromisso, vai ser divertido", concluiu. Após um nervosismo inicial, Luana logo ficou animada com a ideia. "Finalmente estou conhecendo pessoas novas". Era algo a se comemorar.

  Quando o encontrou no bar, ela estava feliz e até aliviada porque ele parecia exatamente a pessoa que imaginava. A foto de perfil dele condizia com a realidade, com seu cabelo castanho, a barba por fazer e o porte físico de alguém que cuida do corpo, ainda que não chegasse no mesmo nível de um atleta. As primeiras conversas também. Ele a recebeu com um sorriso e começaram a conversa como qualquer outra. "Como foi a sua semana? E para achar o bar, foi fácil?", entre outros assuntos.

Sol e Lua [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora