Capítulo IV

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Oi! Feliz 2021 para todos que estão lendo, que esse ano seja melhor para todos nós, pq 2020 foi osso. Beijos de luz para vocês!
Comentem e votem se puderem por favor é muito importante pra mim :3

⚠️AVISO: O capítulo possui menção a suicídio e pode conter gatilhos para algumas pessoas.⚠️

[...]

Elliot está em confinamento.

Alexia exigiu que ele ficasse em confinamento por uma semana a contar pela manhã seguinte a discussão na recepção. Ele não teria contato com ninguém com exceção de Katherine que lhe entregaria as refeições e medicamentos.

Não se escutou mais sobre o ocorrido, Zoe disse que é comum alguns surtos de Rurik durante o mês, ela diz que pode estar relacionado ao Sanatório estar em época de visitas de familiares. Elliot não recebe visitas a mais de cinco anos.

Para falar a verdade, ele recebeu apenas uma visita da mãe três dias depois de ser internado e depois ela nunca mais apareceu ou ligou. Os cheques para pagamentos da internação continuavam em dia e encontrei alguns documentos assinados por Anya em seu prontuário médico aprovando tratamento de choque e alguns testes por dosagem alta de medicamentos controlados.

Não me surpreende uma mãe assinar esses papéis para punir o assassino de seu primogênito. O que me deixa indignado é ela assinar os papéis sabendo que estava aprovando a tortura de seu filho caçula quando ele tinha apenas quatorze anos, independente do que ele tenha feito.

Elliot tem um grande histórico de terapia de eletrochoque no período de quatorze e dezessete anos de idade. Nos últimos dois anos esses casos foram raros e específicos, apenas para correção de mau comportamento.

Eu penso em como esse garoto deve estar sofrendo durante todos esses anos. Ele está sendo punido por ter um distúrbio, por não saber se controlar, por matar o irmão quando ainda era uma criança e não sabia o que havia de errado com ele, agora estava sozinho em um hospital psiquiátrico sem sequer receber uma ligação de felicitações de aniversário ou Natal.

A solidão tornando-o cada vez mais quieto e isso justifica a dificuldade no trabalho dos antigos médicos, por isso ninguém progrediu com ele.

[...]

Zoe me chamou para beber uma cerveja depois do expediente, eu aceitei apesar de, dessa vez, irmos apenas nós dois, já que Katherine teria um compromisso e Noah ficaria de plantão.

Não sei se foi realmente sua intenção, mas essa saída de amigos acabou parecendo um encontro até a metade da noite, com flertes distintos sendo pronunciados e risadas discretas.

Seus grandes olhos claros piscaram para mim com adoração por toda a noite e na manhã seguinte percebi a burrada que fiz quando acordei ao seu lado na cama.

Independendo do quão bem nós nos demos e o quanto ela era bonita. A pior coisa é se envolver com alguém do trabalho, ainda mais quando eu não sinto atração por ela além da física momentânea.

Culpei o estresse do trabalho pelo deslize e tentei seguir em frente sem que aquilo afetasse nossa amizade e esperava que ela entendesse meu lado sem ressentimento.

Naquela mesma manhã, Elliot foi liberado. Os olhos cansados rodavam quietamente o salão de visitas, pela primeira vez em muito tempo ele receberia uma visita, mas não era de sua mãe, era do advogado da família.

De longe e do outro lado na porta assisti através do vidro espesso o velho homem lhe explicar algo, Elliot assentia e não dizia nada. A conversa foi curta, Rurik se levantou e cruzou os braços em torno do corpo em sinal de autoproteção, assentiu novamente para o que o homem havia dito e saiu da sala rumando para seu quarto.

Ele não falou com mais ninguém por três dias, até aparecer em minha sala para nossas consultas não agendadas.

"Bom dia, Elliot." – cumprimento como de costume e ele senta-se em minha frente.

"Bom dia, doutor, já faz um tempo." – ele sorri fracamente, raspando a unha curta no braço da cadeira para se distrair. Ele nunca tocou no assunto que o levou a confinamento e parece levemente envergonhado com aquilo.

"Como você está? Soube que recebeu uma visita, já faz um longo tempo desde a última vez." – ele não parece muito disposto a falar sobre isso, apenas vasculha entre os bolsos da calça e tira um maço de cigarros de lá, ascende um e se levanta indo até a janela e se sentando ali. – "Quer falar sobre isso?"

"Minha mãe está grávida." – ele murmura tragando o cigarro sem olhar para mim.

"E como está se sentindo?" – ele dá de ombros voltando a fumar. – "Está magoado? Sente como se ela estivesse tentando substitui-lo?" – ele ri fracamente e olha para mim.

"Ela já me substituiu há muito tempo, doutor. Agora ela está substituindo o Vincent. O advogado passou para me dar as felicitações por meu novo irmãozinho, além de dizer que não terei direito a qualquer herança, pois todas estarão no nome desse novo bebê." – ele diz, a voz fria e distante, parecendo não se importar realmente com o que é feito de sua herança.

"Deve ser difícil saber que sua família está seguindo em frente tão longe de você." – eu digo tentando esconder o pesar na voz, imaginando o quanto ele deve estar chateado, Elliot suspira e apaga o cigarro no batente da janela.

"Não, só é difícil saber que, de acordo com Smith, aparentemente o juiz não quer reabrir o caso e estou preso nesse inferno pelo resto da minha vida." – suponho que Smith seja o advogado e nesse momento vejo a verdadeira magoa em seus olhos, isso me comove e impulsiona a me aproximar lentamente e confortá-lo. Toco seu ombro pedindo silenciosamente permissão para me aproximar, seu rosto na altura do meu tórax. Ele me olha surpreso, mas logo suaviza a expressão enterrando o rosto em meu estomago e suas mãos agarram firme meu jaleco enquanto ele me abraça e aceita o carinho que deixo em seus cabelos enquanto chora.

Na tarde daquele mesmo dia recebi um alerta urgente. Elliot estava sendo levado às pressas ao hospital mais próximo por tentativa de suicídio. Uma pancada de adrenalina atingiu meu corpo pelo inédito medo que me tomou.

Quando cheguei ao hospital encontrei-o consciente e quieto, as marcas de seu enforcamento visíveis em torno de sua pele clara enquanto suas mãos e tornozelos permaneciam presos firmemente à cama. Eu entrei no quarto e ele me observou me aproximar, toco seu pescoço para ver o estrago que havia na pele ferida sob meus dedos.

"Não havia uma maneira melhor de fazer isso?" – pergunto irônico e zangado, me sentindo magoado por sua tentativa de suicídio como se eu tivesse direito sobre o que ele faz com sua vida, não era certo trata-lo assim, mas para um médico que já viu tantas pessoas lutando para ter um pouco mais de tempo para viver é extremamente triste ver alguém querendo perde a vida dessa maneira.

"Não consegui pegar os comprimidos de Katherine e nem algo realmente afiado para fazer isso rápido." – ele responde, uma sinceridade que me assustou. Não era impulsivo, não era um desequilíbrio de seu transtorno. Era simplesmente o que ele queria e não parecia arrependido por ter feito, apenas triste por não ter chegado ao final.

Eu hesito antes de deslizar os dedos sobre sua mão, uma tentativa de transmitir conforto quando ele estava se sentindo tão ferido. Queria mostrar que, independente das circunstâncias, ele não precisava se sentir sozinho, porque se dependesse de mim ele nunca estaria. 

Lost Boy {Romance Gay}Onde histórias criam vida. Descubra agora