Capítulo I

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Nada é tão libertador como se formar na universidade.

Quando eu terminei o curso de medicina estava fazendo residência no Hospital de Oxford, influência do meu pai, obviamente. Mesmo sem eu saber ele conseguia vagas impossíveis nas melhores universidades, melhores hospitais e melhores cursos especializados na área da psiquiatria.

Eu sempre fui um aluno aplicado, eu merecia a chance de trabalhar nos melhores lugares, mas não suportava mais ser dependente de alguém. Apesar de eu amar meu pai e ser grato por tudo que ele já me fez, eu tinha que aprender a andar com minhas próprias pernas e estar sempre sob suas asas era sufocante e me tirava o mérito da conquista.

Ser filho único geralmente nos priva de muitas coisas, ainda mais quando seus pais são superprotetores, talvez tenha sido isso que me fez aceitar a primeira oportunidade de emprego que apareceu no Hospital Psiquiátrico Severalls, estava me especializando em psiquiatria forense e isso estimulou minha decisão impulsiva.

Talvez se eu esperasse mais alguns meses tudo seria diferente, mas como minha mãe costumava dizer: Tudo acontece no momento que deve acontecer e não há nada que possamos fazer. Eu nunca a contrariei com relação a isso.

Apesar da aparência pouco agradável, o hospital era aclamado pela sociedade aristocrática, era capa nos tabloides de jornais regionais e era referência em novos estudos sobre transtorno ou enfermidade mental, além de utilizar tratamentos trazidos da França em seus pacientes. Isso me estimulou a estudar mais, saber mais. Era como uma bíblia do conhecimento internacional caindo no meu colo.

Nunca me esquecerei de meu primeiro dia naquele lugar, quem me atendeu foi a enfermeira Katherine, com seus longos cabelos ruivos e seus olhos escuros como petróleo. Ela era simpática, tinha o sorriso amplo e um carisma estonteante, isso deve ter mascarado sua real personalidade. O sorriso é a melhor máscara de uma alma solitária.

Talvez todos naquele hospital, desde pacientes a funcionários, usavam máscaras que escondiam quem realmente eram e eu era o único exposto demais para estar preparado para enfrentar aqueles corredores.

"Bem-vindo, doutor Olivier! Sou Katherine Morgan, enfermeira-chefe, é um prazer finalmente conhecê-lo." - ela sorriu com entusiasmo. - "Infelizmente a Senhora Armstrong não poderá recebê-lo hoje, mas irei lhe apresentar o hospital e auxiliá-lo no que precisar!" - sua recepção aquietou meu nervosismo. Apesar de já ser formado e ter trabalhado em outros lugares, ser 'o novato' sempre me trouxe ansiedade de ser aceito.

"Obrigado por me receber, Katherine." - retribuo o sorriso, enquanto ajeito minhas duas maletas com minhas coisas pessoais em cada mão. - "Sei que deve estar atarefada, então peço desculpas pelo incomodo".

"Não é incomodo algum. Entre, por favor." - ela convida abrindo as grandes portas da recepção.

Ela me apresentou aos faxineiros, cozinheiros, enfermeiras e seguranças. Todas as enfermeiras possuíam arma de choque para caso algo saísse do controle e os seguranças possuíam também cassetetes e tranquilizantes. Eu perguntei se possuíam pacientes com potencial agressividade para que essas medidas sejam necessárias, ela riu e assentiu com a cabeça.

"Tem alas realmente perigosas nesse hospital, fica na ala leste, mais distantes dos outros pacientes, mas ainda sim temos pacientes realmente violentos." - eu assinto ainda assimilando suas palavras, me preparando psicologicamente para o que terei que lidar.

O hospital é frio e cheira a desinfetante barato e amônia, as paredes são pintadas em tons brancos e cinzas, mas boa parte delas já começou a descascar em seus rodapés, todas as janelas possuem grades de ferro e apenas os seguranças e algumas enfermeiras possuem as chaves das portas, o que me faz pensar no real grau de periculosidade daquele lugar.

Lost Boy {Romance Gay}Onde histórias criam vida. Descubra agora