Capítulo II

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Na manhã seguinte, eu resolvi começar uma sessão de terapia com alguns pacientes selecionados. Os menos complexos primeiramente, como eu ainda era novo não queria acabar me atrapalhando e agravando os distúrbios de alguém.

Foi no quinto dia que finalmente convoquei Elliot Rurik para ir ao meu consultório, tentei conter a ansiedade para ele não usar isso contra mim e aguardei pacientemente em minha mesa sua chegada – esta que veio com quase uma hora de atraso. – Obviamente foi proposital, apenas para me provocar, mas não quis implicar para não criar um conflito desnecessário tão cedo.

"Bom vê-lo novamente Elliot. Sou o doutor Jacob Olivier, é um prazer conhecê-lo finalmente após a recepção que tive no meu primeiro dia. Por favor, sente-se." – convido o mais cordial que posso. Ele não me olha, apenas corre os olhos claros pelo meu consultório e se aproxima das estantes as quais preenchi com alguns exemplares que li na faculdade e colecionei durante todo o curso, cuidadosamente limpos e organizados, ele tira alguns livros do lugar folhando-os vez ou outra depois devolvendo fora de ordem.

Ele vasculha o cômodo com os olhos curiosos e repuxa os lábios em um sorriso dissimulado.

"O que é isso, doutor? Onde está seu divã para que eu possa me deitar enquanto falo dos meus problemas?" – ele zomba, uma diversão azeda em seus lábios e eu escolho ignorar seu sarcasmo.

"Eu li seu prontuário, tem uma estória interessante, senhor Rurik." – informo analisando sua reação, isso parece não o atingir, o que é esperado devido suas possíveis doenças.

"Todos acham." – ele dá de ombros, finalmente se sentando e me dando a devida atenção, não antes de levantar os pés calçados por um tênis branco de elástico sobre minha mesa de madeira italiana polida.

"Aqui diz que você foi diagnosticado com esquizofrenia hebefrênica e tendência sociopata." – digo empurrando sutilmente seus pés para que ele se sentasse direito. Ele novamente dá de ombros e sorri, parecendo satisfeito. – "Parece orgulhoso disso." – aponto.

"O que posso dizer? Não sou eu que me dei esses títulos." – ele se gaba zombeteiro e eu anoto sua reação em meu bloco de anotações.

A esquizofrenia é uma doença complexa. A hebefrênica geralmente pode se manifestar a partir dos 15 anos de idade. No caso de Elliot se manifestou aos 13, o que é incomum, porém o diagnostico explica a cena que eu vi no salão com todo seu exibicionismo. Esses pacientes são geralmente imprevisíveis e irresponsáveis, propensos a fazer travessuras.

"Fale-me sobre sua família." – peço e seu sorriso some. Pretendo avaliar seu grau de bipolaridade e sua incerteza em responder perguntas.

"Tudo está no prontuário." – ele corta.

"Eu quero saber sua versão. Seu pai morreu quando você tinha 10 anos, sua mãe se casou novamente com Brian Collins, correto? Ele é um investidor que cresceu quando casou com Anya Rurik." – ele dá de ombros fazendo pouco caso de minhas palavras. – "Fale-me sobre seu irmão." – suavizo a voz falando o mais calmo que posso, nesse momento sei que o atingi, pois seu olhar congelou como um dia frio de inverno e sua voz cortou o ar como lâminas afiadas.

"Isso não tem relevância."

"Não?" – insisto, pois quero que ele fale, ninguém obteve sucesso com este paciente, recluso demais e manipulador demais, como muitos já o descreveram.

"Não."

"Ele te machucava? Falou algo que não gostou?" – insisti querendo forçá-lo a dizer algo a respeito. Ele levantou seus olhos azuis para mim, um olhar distante de alguém que quer esconder muito. Elliot se dobrou sobre a mesa parando próximo do meu rosto. – "O que aconteceu?"

Lost Boy {Romance Gay}Onde histórias criam vida. Descubra agora