Capítulo VI

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Aquilo me fez pensar ainda mais. Quem estava tentando matá-lo? Há quanto tempo isso estava acontecendo? Qual era o risco que Elliot poderia trazer para alguém tentar feri-lo? Eram tantas perguntas sem resposta que me sentia enlouquecendo.

Decidi não dizer nada sobre Noah, mas isso não mudou o fato de eu começar a observá-lo de perto, caçando qualquer atitude suspeita da parte dele.

O que me surpreendeu foi o rosnado que desprendeu de minha garganta quando o vi sorrindo para Elliot no refeitório. Era como se eu me tornasse um cão raivoso, espumando pela boca e em posição de ataque toda vez que alguém passava perto de seu território. Eu não era um animal raivoso e Elliot muito menos era algo meu para me incomodar com olhares.

Essa foi a primeira vez que percebi que teria que tomar cuidado, não com Elliot, mas com um sentimento que estava surgindo em meu peito de uma maneira que nunca havia acontecido, era um sentimento de posse mesclado a carinho. Eu o queria bem e ao mesmo tempo longe de qualquer um que pudesse oferecer algum mal a ele.

Naquela mesma semana trouxe um maço de cigarros para Elliot, após uma de nossas sessões que não passava de uma conversa sobre a paisagem e o que gostávamos de fazer para passar o tempo tirei o pequeno pacote de Lucky Strike do bolso e deslizei sobre a mesa até ele. Não disse nada a respeito e ele passou alguns segundos observando a embalagem para depois sorrir e guardar no bolso.

Não queria que ele agradecesse ou sentisse que tem uma dívida comigo. Queria que, com esse pequeno gesto, ele entendesse que eu não queria que ele continuasse o que tinha com Noah, porque eu lhe daria qualquer coisa que ele me pedisse sem exigir nada em troca.

Ele pareceu entender meu recado, porque não o vi passando nem perto de Noah por toda a semana seguinte e aquilo aqueceu meu coração.

Ele começou a ir todos os dias em meu consultório apenas para sentar quietamente perto da janela enquanto eu ficava trabalhando. Quando eu perguntei por que ele estava vindo todo o dia, ele disse que eu havia permitido que ele ficasse em meu consultório quando queria ficar sozinho, acabei perguntando se ele preferia que eu saísse para lhe dar espaço e, para minha surpresa, ele sorriu e disse que gostava quando eu estava por perto.

Nem preciso dizer o quanto fiquei encantado com isso, naquele momento percebi que estava fascinado pelo meu paciente e isso me aterrorizou, mas não o suficiente para que eu me afastasse dele.

[...]

Sua sanidade ao longo desses dias me fez pensar sobre o caso de Elliot não parecer realmente verdade. Minha cabeça fervia com milhares de teorias para explicar essa situação.

Listei mentalmente todos os pontos de seu caso:

O pai morre.

A mãe casa-se novamente.

Elliot tinha quase quatorze anos, mata o irmão de dezessete afogado.

Ele foi internado e não tem contato com a família.

Mãe engravida e alega não deixar nada da herança para ele.

Tudo parece estranho demais, parecia ter pontas soltas.

Passo metade do dia pensando e pesquisando explicações para tudo que se passava em minha mente, como um flash uma luz se acende em minha cabeça, uma ideia que poderia explicar tudo, uma ideia que poderia mudar o rumo da vida de uma pessoa.

Esperei Elliot aparecer em meu consultório novamente. Aguardei ele se sentar para colocar as cartas na mesa.

" Elliot, sei que odeia falar sobre isso, mas temos que conversar sobre seu irmão." – digo ciente que isso o incomoda.

"O que quer saber?" – ele pergunta desdenhoso, fuçando os bolsos atrás de um cigarro.

"Seu irmão morreu afogado?" – começo meu interrogatório.

"Eu o matei na piscina de casa." – ele acende o cilindro em seus dedos e começa a fumar tranquilamente, sem dar atenção ao assunto.

"Certo. Achei históricos do colégio que seu irmão estudava. Aqui diz que Vincent ganhou três competições de natação na cidade que moravam." – afirmo verificando as copias dos documentos em minhas mãos.

"Sim, ele gostava de nadar." – ele afirma, os olhos tornando-se atentos a qualquer palavra que eu dizia.

"Tenho certeza que sim. Você nunca foi chegado à água, certo? No seu prontuário diz que aos cinco anos quase se afogou em um rio pescando com seu pai."

"Sim."

"Agora, me diga... como um garoto pequeno de 13 anos que não sabe nadar consegue afogar um campeão municipal de natação de 17 anos com o dobro de seu tamanho sem ao menos se machucar um pouco? Porque, de acordo com o laudo, você não possuía escoriações pelo corpo, diferente de seu irmão."

"Eu apenas fiz." - ele diz, sua voz não parecia amedrontada ou arrogante com o feito, ele apenas estava atento para ver onde eu ia chegar, o que me mostrou que eu estava no caminho certo.

"Não, Elliot. Você não fez." – afirmo, suspirando para finalmente dizer o que estava em minha mente.

"E você está insinuando que...?"

"Que alguém matou seu irmão, alguém mais velho, que tinha acesso a casa, que ganharia algo com a morte de seu irmão que estava quase assumindo as empresas milionárias de seu falecido pai. Alguém que conseguiu eliminar dois coelhos com uma cajadada só, você e seu irmão Vincent." – ele me olha atentamente, devorando minhas palavras com os olhos sérios. – "Alguém como seu padrasto, talvez." – sugeri, olhando-o sorrir e apagar o cigarro em minha mesa, eu costumava repreende-lo toda a vez que ele fazia isso, mas com o passar do tempo achei interessante permitir que ele marcasse meu consultório como quisesse.

"Dou créditos por descobrir tudo sozinho, doutor." – ele me parabeniza suavemente, olhando em meus olhos. Sua confirmação me entristece, porque não sei se era melhor saber que ele era culpado e ficou preso legalmente ou se ele era inocente e perdeu longos anos de sua vida sendo torturado por um crime que não cometeu.

"Por que esconde a verdade?" – pergunto confuso. – "Você é inocente, Elliot. Condenado a ficar confinado em um sanatório que já está há quase seis anos!"

"Você é um tolo, Jacob!" – ele afirma, sinto o carinho em sua voz quando meu nome deslizando por seus lábios.

"Me diga o motivo então!" – exijo, zangado com essa mania sua de não ir direto ao ponto.

"Eu tentei, merda!" – ele grunhe, se exaltando pela primeira vez em muito tempo. – "Tentei dizer a verdade nos dois primeiros anos, mas quando começaram o tratamento de choque não aguentei mais, sempre foi mais fácil ficar em silêncio. Eu implorei para minha mãe acreditar em mim quando ela veio me visitar. Na época, eu não sabia quem o havia matado, só sabia que eu era inocente e não tinha um álibi que me salvasse. Fui taxado como maníaco por todos que eu conhecia, não importava o quanto eu falasse que era inocente ninguém deu atenção!" - ele declara me deixando em choque, porque ele tentou falar por anos.

E então tudo parecia fazer sentido, o fato de tentarem mata-lo, o tratamento de choque para silenciá-lo...

"Nem mesmo aqui? Nem as enfermeiras? Katharine ou Zoe?" – eu pergunto, tentando ao menos continuar a confiar pelo menos em meus colegas de trabalho.

"Como eu disse... Você é um tolo. Isso é muito maior que eu ou qualquer um nesse hospital. Ninguém pode fazer nada mesmo que quisessem." – ele diz, acomodando-se na cadeira novamente.

"Eu irei fazer algo." – prometo para ele, mas seu olhar confirma sua pouca fé em minhas palavras.

"Isso é um covil de cobras, doutor. Não entre muito a fundo, pode não achar a saída ou acabar envenenado."

Lost Boy {Romance Gay}Onde histórias criam vida. Descubra agora