Capítulo IX

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Nos dias seguintes eu já tinha organizado as datas de todas as consultas de Elliot e pedido para Zoe me auxiliar em coleta de sangue de todos os pacientes da ala sul.

Eu iria fazer exames periódicos, mas isso era apenas um pretexto para coletar sangue de Elliot sem que ele percebesse que havia algo errado. Eu havia notado como sua saúde decaiu ao longo daquelas semanas e minha intuição dizia que ele estava consumindo algum tipo de droga, pensei na possibilidade de algum dos enfermeiros estar dando a dosagem errada de medicamento para ele, mas isso só seria confirmado após os resultados dos exames.

Quinze dias depois todos os resultados estavam organizados em uma pasta sobre minha mesa. Pacientemente procurei o de Rurik entre todas aquelas papeladas e quando o encontrei agradeci por estar sentado em minha cadeira.

Solicitei sua presença em meu consultório na mesma hora e ele apareceu surpreendentemente rápido. O cabelo úmido penteado para trás por seu recente banho e as olheiras de antes estavam notavelmente menores.

"Seu exame de sangue chegou." – informo.

"Okay." – ele diz e se acomoda na cadeira na minha frente. – "Estou doente? Qual o motivo de me chamar com urgência?"

"Preciso que seja sincero comigo." – peço e ele assente receoso. – "Seus exames chegaram e foram encontrados vestígios de cocaína e oxicodona no seu sangue, mas não há qualquer vestígio dos medicamentos que eu receitei para você." – digo realmente preocupado com ele e seus olhos arregalam com minha descoberta.

"Achei que exames de sangue só mostravam se você estava doente ou não." – ele diz ingenuamente devido sua falta de conhecimento médico, nitidamente desconfortável.

"Eu não sei se você tem ciência do quão perigoso é consumir esse tipo de coisa. Consumir isso com seus medicamentos pode levá-lo a ter uma overdose e até mesmo deixá-lo em coma, entende isso, Elliot?" - ele assente receoso.

"É por isso que não estou tomando os remédios." – ele brinca zombeteiro e eu suspiro zangado.

"Não brinque com isso, você precisa dos medicamentos, não estou receitando por nada." – digo e ele revira os olhos.

"Não estou doente, não preciso tomar nada aquilo, se você me escutasse saberia."

"Não vou discutir isso com você de novo."

"Okay, tanto faz.

"Como consegue essas coisas?" – ele não responde, mas eu apostaria meu carro que era o canalha do Noah. - "Desde quando você usa isso?" – questiono novamente e ele finalmente volta a responder

"Não sei, desde os 17, eu acho. Não uso tanto quanto você está pensando, é só o suficiente para eu me desligar quando não estou bem." – assinto, mas talvez essa não seja a real verdade, pois o grau de toxina em seu corpo não era tão baixo, ele estava usando drogas fortes para fugir dos problemas, era compreensível, mas ainda assim era errado e perigoso.

"Não é saudável usar esse tipo de droga para fugir dos problemas."

"Não estou fugindo dos problemas, estou apenas deixando os dias mais fáceis."

"Elliot me escute, eu sei o quanto deve ser difícil estar aqui, mas preciso que pare de usar essas coisas. Entendo que não vai conseguir de uma hora para a outra, mas preciso que tente." – eu peço enquanto seguro suas mãos nas minhas.

"Tá bem, eu não sou um viciado, posso parar." – ele diz, quase ofendido com minhas palavras.

"Vou reduzir seus medicamentos e solicitar um monitoramento do seu exame de sangue."

"Certo, tudo bem." – ele sorri e eu subo minhas mãos por seus braços, sinto sua pele se arrepiar sobre o meu toque e eu olho atentamente para seu rosto, ele fecha os olhos e suspira.

Eu sabia que era errado. Nós não podíamos fazer isso, por Deus sodomia era tratado como distúrbio em diversos hospitais. Era quase um crime ter relações com alguém do mesmo sexo, haviam diversos tratamento de choque e banho de gelo para conversão do interesse por alguém do mesmo sexo, era cruel, e eu já havia acompanhado esses tratamentos em outros hospitais.

Eu nunca me senti atraído por um homem antes, mas naquele momento parecia tão certo segurá-lo entre meus dedos e trazê-lo cada vez mais perto. Eu escolhi esquecer naquele momento onde estávamos e o que nós éramos.

Seus lábios estavam úmidos e vermelhos, os cílios longos tocando as maçãs do rosto, o cabelo molhado exalava o cheiro de shampoo barato fornecido por Severalls, mas nunca imaginei que pudesse ter um cheiro tão bom nele.

Eu me aproximei mais, uma de minhas mãos tocando seu rosto cuidadosamente, ele abre os olhos e me observa com atenção, seus olhos sendo uma recordação linda da imensidão do mar que eu já visitei tantas vezes nas férias de verão.

Elliot espera que eu me mova, tão receoso quanto eu. Eu umedeço meus lábios e ele sorri para mim antes de ficar na ponta dos pés para alcançar minha boca, seus braços envolvem meu pescoço e eu deslizo minhas mãos por suas costas.

Sua língua deslizou pela minha boca, quente e molhada. Nós começamos lentos, mas em questão de segundos eu me vi carregando-o pela cintura e colocando-o sentado sobre minha mesa enquanto me mergulhava novamente em sua boca tentadora e me perdia na imensidão de seus olhos.

Só me afastei dele quando escutei um barulho no corredor ao lado de fora, ele suspirou retomando o ar e ajeitou o cabelo bagunçado.

"Você está bem?" – eu pergunto apenas por educação, porque era nítido que nos dois estávamos mais que bem, minhas calças se tornando justas por apenas aquele breve momento.

"Estou." - ele suspira, minhas mãos descem de seu rosto para seu braço acariciando suavemente com o polegar quando ele faz uma careta de dor. Olho para meu dedo e sob ele esta um hematoma arroxeado quase completamente escondido pela manga da camiseta.

"O que é isso no seu braço?" – pergunto alarmado puxando seu braço para mais perto do meu rosto, avaliando melhor.

"Não é nada. – ele recua puxando o braço de volta e descendo a manga da camisa. E como um gatilho eu já sabia quem havia o machucado.

"Foi o Miller que fez isso em você?"

"Jacob deixa pra lá, eu já resolvi isso." – ele desconversa levantando da mesa.

"Resolveu isso? Resolveu ficando com um roxo no braço? Isso está indo longe demais, eu vou levar esse assunto para a direção e vão demiti-lo, assim ele nunca mais vai pôr as mãos em você ou em qualquer um." – eu rujo, a raiva fervendo em meu interior.

"Jacob, relaxa, Noah é inofensivo." – ele garante, mas isso não me convence. – "Eu o tratei mal e ele ficou bravo, já está tudo resolvido, ele não vai mais me atormentar. Por favor, não se envolva nisso." – ele olha em meus olhos em quando implora.

Inofensivo...Eu duvidava que fosse verdade, ainda mais que eu já tinha visto como ele olhava para Elliot, um fascínio quase igual ao meu.

Lost Boy {Romance Gay}Onde histórias criam vida. Descubra agora