Encontrei-me com o olhar do Marcel e suspirei. Preferia isto do que me insultasse. O som da voz despedaçada do Harry de há uma semana atrás ainda se repetia na minha cabeça nos momentos de silêncio e solidão. Só esperava que algum dia desaparecesse da minha mente. Mas sentia-me mal por ter partido o seu coração. Estúpida por ter dito que não às suas súplicas. Mas ao mesmo tempo furiosa porque tinha ido para a cama com a Stacy e ela era a pessoa mais insuportável do mundo.
-E o Harry? - a voz do Niall tirou-me dos meus pensamentos. Encontrei-o a caminhar na nossa direção com uma sanduíche na mão, no entanto não podia dizer de que era essa sanduíche, porque parecia que tinha metido aí o frigorífico inteiro.
-Foi-se embora.
-O que é isto? - perguntou abrindo o álbum de fotos com a mão que tinha livre. Ri ao ver que o Marcel o fuzilava com o olhar. - Quem é este sem pontaria? - soltou uma gargalhada. - Que fotos.
-É o Harry. - disse. O loiro soltou uma gargalhada.
-Pára de te rir, que descobrimos o mamilo de silicone da tua namorada. - disse Marcel tirando-lhe o álbum.
-Oh, céus. - exclamou o loiro. - A coisa é nojenta.
-Porque é que a tem?
-Não sei. Nem a mim me diz.
-Essa rapariga é estranha. - declarei.
Ouvimos a porta do quarto da Lottie abrir-se e calámo-nos.
-Já estou pronta! - informou chegando a nós. - Vamos, amor. Hoje vamos saber se é menino ou menina.
-É menina. - exclamámos os três ao mesmo tempo, já que todos estávamos muito convencidos de que ia ser menina e de que o Niall lhe ia escolher o nome.
-Isso é o que vamos ver na consulta. - declarou com desconfiança pondo o seu casaco preto. - Vamos.
Sorri divertida ante a atitude decidida da minha amiga morena.
-Até logo! - exclamei. - Que corra bem!
-Digo o mesmo! - concluiu Marcel.
Eles despediram-se e saíram da casa. Suspirei olhando para o meu relógio, eram as oito e meia do noite. Já era hora de jantar e morria de fome, mas não tinha vontade nenhuma de cozinhar, por isso optei pelo mais fácil.
-O que preferes, Marcel? Pizza, kebab ou hambúrguer e batatas fritas? - perguntei atirando-me para o sofá.
-Uhm. - murmurou pensativo enquanto deixava a caixa no espaço entre o sofá e a parede. - Não sei, o que é que tu preferes?
-Kebab, sabes que adoro comer isso.
-Então que seja kebab.
-Boa! - exclamei estendendo a minha mão até ao meu telemóvel. - Sabes que te adoro, não sabes? És como o irmão que nunca tive.
-Obrigado por isso. - disse. - Acho.
-De nada! - sorri marcando o número de telemóvel do lugar de onde nos trariam os kebabs. - O que é que preferes, os rolinhos ou os de pão?
-Os rolinhos.
-De frango, carne ou misto?
-Misto.
-Dito e feito!
Carreguei no botão de ligar e pedi o jantar. Ultimamente tínhamo-nos habituado a este tipo de comida todos os dias e, que devo dizer? Era comida rápida mas era muito boa. O Marcel sentou-se ao meu lado e acendeu a televisão para começar a mudar de canal de seguida, com a vaga esperança de encontrar algo decente. Desliguei e deixei o telemóvel em cima da mesa. O Marcel olhou despreocupadamente para mim e passou o seu braço por volta dos meus ombros. Suspirei apoiando a minha cabeça nele.
-Não há nada de jeito. - queixou-se.
-Ainda o amo. - sussurrei quando o sorriso de um Harry acordado recentemente apareceu na minha mente. Marcel suspirou. - E não sei se teria gostado que se mostrasse mais distante antes, no entanto gostava de o ver animado.
-Não deixas de amar uma pessoa do dia para a noite. - disse. - Dá-me a sensação de que te esforças continuamente para o fazer, dá-te um tempo. Não te sobrecarregues, Bella, se não não vais conseguir.
-É que a tua voz é tão igual à dele.
-Eu sei.
O Marcel deixou de mudar de canal quando no ecrã saiu um filme: "Todos os os dias da minha vida", esse em concreto. Adorava esse filme, era tão romântico, tão bonito, tão perfeito. O amor deles era tão forte que ultrapassava tudo. Um completo amor de contos de fada. Às vezes perguntava-me como seria ter um amor como esse. Um amor de filme, de novela romântica. Onde tudo é perfeito, onde os protagonistas discutem mas depois voltam a estar juntos apesar de tudo, para assim se amarem por toda a vida.
De repente ouvi um leve golpe na porta da entrada. Suave. Franzi a testa. Outro golpe. Que seria isso? Outro, mas desta vez mais forte. Não parecia ninguém gentil que pedia a nossa atenção amavelmente. Já que para isso estava lá a campainha. Eram golpes milimetrados, violentos, calculados. Outro golpe e senti que o meu coração se acelerava, mas isso não era algo estranho, eu era uma pessoa muito medrosa. E tinha a certeza que esse não era o distribuidor de kebab.
-O que é isso, Marcel? - perguntei.
-Não sei. Vou ver. - disse levantando-se. Peguei-lhe no braço.
-Vou contigo. - disse com a voz temerosa, ele elevou uma sobrancelha.
-Não é preciso. Não te assustes.
-Não estou com um bom pressentimento. - disse caminhando até à porta de entrada. Outro golpe. Desta vez, muitíssimo mais forte.
-Quem é? - perguntou Marcel sem obter resposta. Silêncio. Franziu a testa e um papel deslizou por debaixo da porta.
Abaixei-me e peguei nele. Desdobrei o amarelado papel com as mãos tremulas para depois o abrir.
"De ilusões se vive e de mentiras se aprende. Olha o que fazes, Bella, porque tudo aponta para desastre. Dr. "
Abri a porta de entrada para ver quem raio me tinha mandado isso, mas a única coisa que encontrei foi vazio. Não havia absolutamente ninguém. Nada. O Marcel saiu e olhou à sua volta mas também não viu nada.
-Isto é demasiado estranho. - disse, enquanto os meus pensamentos não conseguiam deixar de dar voltas às palavras do papel.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Trigémeos Styles 3: Déjà vu (tradução)
Fiksi PenggemarTerceiro livro da coleção "Os Trigémeos Styles". 3/5