Continuação, 13 de Março
Depois daquele lanche na lanchonete, Lorenzo e Flora seguiram para o bosque, por que vias eles mudaram em cinco dias? Essa é uma grande questão a se questionar, de uma vivência turbulenta à algo sincero, engraçado e irônico de ser, coisa que os dois sempre foram.
Sentados na alta raiz daquela imensa árvore, Flora contava as quantidades de teias de aranha que tinha ali e Lôlo digitava em seu mais novo celular. Os dois foram para discutir as propostas da semana, mas parece que suas mentes estavam distantes do mundo real. Um escrevendo para si seus problemas e a outra tentando não parecer interessada no assunto, Flora queria encontrar uma maneira de descobrir o que ocorria naquele mistério todo. Aquele dia Flora se sentia um tanto leve consigo mesma e até usava a pulseira que recebeu do ser que ali estava perto, escondia o seu novo acessório nas mangas de seu moletom rosa pastel um tanto grande, o dia era de sol, mas a temperatura era baixa e o frio deixava algumas pessoas a desejar um pouco de calor.
— Então que dia a gente pode escolher para... - a menina distraída no momento respondeu com um breve "sim" o que fez Lorenzo contorcer o rosto em uma risada sarcástica, o que para ela parecia bobeira dele. — Você está nas nuvens? - pergunta o mesmo descendo de um dos troncos ali caídos, deixando sua mochila cair no chão de folhas secas e pequenos gravetos. A menina o olha indiferente, "ela realmente estava nas nuvens", pensou o rapaz. — Que tal começarmos amanhã?
— Amanhã eu tenho um encontro... - ela disse um tanto distraída e Lorenzo teve o julgamento dela já estar namorando outro ou conhecendo outra pessoa, isso, ele julgou antes mesmo dela terminar a frase incompleta. — Com as minhas amigas e colegas. - sorriu ao descer da raiz grossa e alta, um tanto de altura necessário para alguém se sentar. Aquela árvore centenária guardava lembranças de muitas pessoas, até mesmo pelo fato de se encontrar algumas siglas de nomes cravados em seu tronco e galhos mais abaixo, alguns até mesmo com corações, demonstrando os casais que ali foram.
— Então... Nos domingos? - perguntou o menino um tanto sem graça mentalmente por ter suposto algo antes dela completar a frase.
— Pode ser, contando que me ensine algo útil. Não tão rebelde. - riu alto, aquela risada espontânea. Logo depois um silêncio se instaurou no local, algo incomum entre os dois, eles não entendiam como aquilo se tornou algo confortável, de compartilharem coisas simples. Por muitos anos não se permitiram tentar se aproximar de novo e por mais que culpassem a si mesmos os dois entendiam que deveriam ignorar um passado de semanas e meses atrás, e de tudo que ocorreu na semana trouxe os pequenos vizinhos de volta, só que de uma forma mais jovem e madura.
Naquele momento uma voz familiar surgiu entre as árvores.
Não podia ser, pensou Lorenzo. Aquilo já era perseguição, embora o jovem não queria brigas e nem socos, só uma conversa.
— Desculpa atrapalhar o momento, mas eu preciso muito falar com você. - Antônio nunca foi o tipo de pessoa manipuladora ou mal intencionada. Sempre se viu gentil até um certo ponto, aquela vida desconfortável até os seus 12 anos não saía da cabeça. Embora fosse contornada por uma família um tanto chata e muito religiosa e que não ligava para ele, apenas nas ocasiões das quais precisavam dele. Sempre o trataram bem e com qualidade, mas o afeto era algo que faltava, e no começo era muito unido, mas depois que um dos filhos deles faleceu Antônio ficou para escanteio, culparam o menino. No caso, era a única filha deles entre os dois filhos adotados. Que desde seus quinze anos começou a trabalhar e depois de completar seus dezessete a família Belga negaram a ele um sorriso ou mais afetividade. Hoje ele mora junto com dois amigos, dividem o aluguel da casa e isso ajuda muito a se manterem. Os almoços aos domingos e os cultos eram normais, mas depois da porta da igreja os pais adotivos transformavam seus rostos felizes em feições tristes e magoadas por um passado recente e tortuoso. Ele ainda era afetado, e naquela época existia verdade em seus sentimentos desregulados.
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Entre o Arco-Íris
RandomNão estariam apenas procurando por algo irrelevante, para salvar seus amigos e colegas era preciso abrir uma exceção, talvez um grupo para ajudar uns aos outros. Cheios de diferenças e crenças de suas próprias culturas, um grupo de onze adolescentes...