Shatter Me |Larry Stylinson!|PT!|

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   Estou aprisionado há 264 dias.

            Não tenho nada senão um caderno e uma caneta quebrada e os números na cabeça para me fazer companhia. Uma janela. Quatro paredes. Espaço de 1,48 m. Vinte e seis letras de um alfabeto do qual não fiz uso em 264 dias de isolamento.

Seis mil, trezentas e seis horas desde que toquei outro ser humano.

- você vai ganhar um companheiro ''de cela''- disseram para mim.

- ''A gente espera que você apodreça neste lugar.'' Por bom comportamento -Disseram para mim.

-'' Outro psicotico igual a você''. Acabou o isolamento- Disseram para mim

       Eles são os asseclas do restabelecimento. A iniciativa que supostamente deveria ajudar nossa sociedade agonizante. As mesma pessoas que me arracaram dos meus pais e me trancafiaram em um porão  por causa de algo que me fugia do controle. Ninguém se importa com o fato de que eu não sabia do que era capaz. De que eu não sabia o que estava fazendo.

      Não faço idéia de onde estou.

Só sei que fui transportado por alguém dentro de um furgão branco que levou 6h37min para me trazer até aqui. Sei que fui algemado em meu assento. Sei que fui amarrado em minha cadeira. '' Sei que meus pais jamais se preocuparam em se despedir''. Sei que não chorei enquanto era levado.

       Sei que o céu desaba todos os dias.

O sol cai dentro do oceano e respinga marrons e vermelhos e amarelhos e laraja no mundo exterior a minha janela. Um milhão de folhas de uma centenas de diferentes ramos mergulhavam no vento, flutuando com a falsa promessa de vôo. A rajada de vento atinge suas asas secas apenas para forçá-las para baixo, esquecidas, deixadas ao pisoteiro dos soldados ao chão.

   Não há tantas árvores como antes, é o que dizem os cientistas. Eles dizem que nosso mundo custumava ser verde. Nossas nuvens custumavam ser brancas. Nosso sol era sempre o tipo certo de luz. Mas tenho frágeis memórias desse mundo. Não me lembro muito como era antes. A única existência que conheço agora é a que me foi dada. Um eco do que costumava ser.

    Pressiono a palma da mão contra a pequena vidraça  e sinto frio cingi- la em um abraço familiar. Estamos ambos sozinhos, ambos existindo como a ausência familiar de qualquer coisa.

    Apanho minha caneta quase inútil e de pouquíssima tinta, e cujo o uso aprendi a racionar um dia após o outro, e olho fixamente para ela. Mudo de idéia. Abandono o esforço necessário para escrever. Ter um companheiro de cela deve ser bom. Conversar com um ser humano de verdade poderia facilitar as coisas. Pratico usando a voz, moldando os lábios á forma das palavras familiares que me são estranhas á boca. Pratico todos os dias.

     Fico surpreso por lembrar como se fala.

     Enrolo meu caderninho e o enfio na parede. Sento- me de um lado para o outro e espero.

      Espero muito tempo e caio no sono.

       Meus olhos se abrem a dois olhos dois lábios duas orelhas duas sobrancelhas.

  Contenho meu grito de urgência de dominar o horror paralisante que me toma os membros.

- Você é um ga-ga-garoto...

- E você é um garoto também. - ele ergue a sobrancelha. Ele se inclina, desviando-se de meu rosto. Ele força um riso, mas ele não está sorrindo.

  E eu quero chorar, meus olhos se desesperam, aterrados, lançando-se em direção à porta  que perdi quantas vezes que tentei abrir. Eles me trancaram com um garoto. Um garoto.

   Deus!

   Eles estão tentando me matar.

    Eles fizeram isso de propósito.

    Para me torturar, para me atormentar, para eu nunca mais dormir durante a noite. Seus braços são tatuados até o pulso. Na sobrancelha falta-lhe uma argola, eles devem ter confiscado. Olhos verdes- escuros, cabelos castanhos- escuros. Linha da mandibula definida. Físico forte e magro.''deslumbrante''. Perigoso. Aterrorizante. Horrível.

    Ele ri e eu caio da cama e corro para o canto.

    Ele avalia o pequeno travesseiro sobre a cama vaga que eles empurraram para o espaço vazio esta manhã, o reduzido colchão  e o cobertor surrado nem mesmo grandes o bastante para dar conta da metade superior de seu corpo.

   Ele olha para minha cama. Olha para sua cama.

   Junta as duas com uma mão. Usa o pé para empurrar as duas armações de metal para o seu lado do quarto. Estende-se sobre dois colchões, tomando meu travesseiro para amortecer seu pescoço. Comecei a tremer.

      Mordo o lábio e tento ocultar-me no canto escuro.

     Ele robou minha cama, meu cobertor, meu travesseiro.

     Não tenho nada senão o chão.

      Não terei nada senão o chão.

      Jamais irei me opor porque estou petrificado demais paralisado demais paranoico demais.

- Então você é... o quê? Louco? É por isso que está aqui?

      ''Não sou louco''.

Ele se apoia suficiente para ver meu rosto. Ele ri novamente

- Não vou machuca-lo.

''Quero acreditar nele''. Não acredito nele.

- Qual seu nome ?- Pergunta ele.

''Não é da sua conta. Qual seu nome?''.

Escuto sua respiração irritada. Escuto-o virar-se na cama cuja metade costumava ser minha. Permaneço a noite  toda acordado. Meus joelhos enroscados no queixo, meus braços apertados em volta do meu pequeno corpo.

Minha longa franja castanho claro tampando meus olhos é a única cortina entre nós.

      Não vou dormir.

      Não posso dormir.

      Não posso ouvir aqueles gritos novamente.

  

Shatter Me! |Larry Stylinson|Onde histórias criam vida. Descubra agora