Eu estava na amurada da varanda da minha casa saboreando um chá de capim santo e uma tapioca de coco com queijo coalho.
Havia escolhido aquele queijo a dedo um dia antes, na padaria do Seu Juquinha.
Não me julgue por ainda frequentar aquela padaria que não tem café pronto de manhã cedo, mas é a mais perto da minha casa e onde eu moro é um centro histórico.
O seu Juquinha era um dos poucos que não tratava os moradores locais como turistas e pegava leve nos preços.
Depois de rejeitar três outras provas insípidas, fiquei feliz por sentir o sabor salgado na língua.
Seu Juquinha soltou um suspiro de alívio "Até que enfim, Dona Maria" ignorei o irritante Dona Maria.
Aquele nojento só me chamava assim, fazendo eu me sentir uma dona de casa de setenta anos.
Com pequenos goles em meu chá, eu admirava a mandala em formato de sol pintada na parede da sala.
Não sabia muito bem o significado das mandalas, mas algo nelas sempre me cativavam.
Havia pintado essa, alguns anos atrás, após ver uma mandala maravilhosa pendurada sobre a parede de uma das casas do Centro Histórico de Olinda.
Era bastante colorida, contrapondo-se à decoração bucólica da casinha e atraindo minha atenção.
Inspirada, ao chegar em casa, pintei uma em formato de sol, bem diferente das pinturas de meu costume.
Normalmente a minha modelo preferida era a lua com suas fases.
Ainda divagava pelas minhas preferências artísticas quando ouvi passos vindos da escada.
Um sorriso lindo tomou conta da varanda.
- Bom dia, minha linda! - Saudou Meia-Légua, vestindo uma camiseta branca que estampava a frase "Cuscuz é melhor que muita gente!" sobre sua bermuda jeans, acompanhado de um par de sandálias havaianas também brancas contrastando com sua pele de jabuticaba.
- Deu formiga na tua cama, foi? - perguntei olhando para o relógio no meu pulso. - seis caralhas horas da manhã. E é impressão minha, ou até o black power tu aparou?
- Estilo é uma coisa que ou você tem, ou você não tem, tá ligando? - piscou para mim se dirigindo ao freezer que eu mantinha na varanda.
- Vá simbora, seu peste - falei sorrindo em tom jocoso - Tu precisa é de uma namorada urgente!
Ele voltou para perto de mim com uma cerveja artesanal numa mão e um prato cheio de fatias de queijo coalho na outra.
Minha cerveja e meu queijo.
Franzi os lábios para ele.
- E isso é hora de beber, seu papudinho?
- Minha irmã... Deixe de coisa... Tomei café da manhã cedinho e já fui pra academia. Tenho um negócio aqui pra deixar contigo - disse mudando de assunto e tirando do bolso largo da bermuda um livro pequeno e fino, entregando-o em minhas mãos.
O título do livro era: Detox mental - Como Combater a Ansiedade e Ter Mais Saúde Mental Através da Meditação por Cristi Ferreira.
- Que danado é isso?
- Só lê. Depois me agradece. - disse rindo da expressão confusa em meu rosto e tomando outro gole.
- Tu mostra esse negócio como se descobrisse o mundo, né? Até parece que eu não sei o que é meditação?
- Já tentasse, por acaso, minzinguenta?
- E eu consigo? Eu sou agitada demais pra esse negócio! Só de pensar em ficar uma hora parada sem pensar em nada me dá logo uma agonia!...
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Fôlego - Entre o Céu e o Inferno
Romance🥇Vencedor em 1° Lugar do Concurso Estrelares na Categoria Sobrenatural 🥇Vencedor em 1° Lugar do Concurso Corte de Espinhos e Rosas na Categoria Romance 🥇Vencedor em 1° Lugar do Concurso Os Três Mosqueteiros 2°Ed. na Categoria Romance 🥇Vencedor...