6. Oh, Linda!

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Por mais que tentasse, não consegui conter as lágrimas ao sair da faculdade.

Quanto mais tentava prender o choro, mais ele insistia em explodir carregado com mais uma crise existencial.

O que estava fazendo lá?

Até hoje não sei.

Eu havia sido afastada do trabalho, mas na faculdade as aulas continuavam se acumulando e chegando num nível de complexidade que me dava uma sensação de perturbação e sufoco.

Sentia-me como um caranguejo que tentava sair do fundo do mangue, mas não conseguia sequer ver a luz do sol escaldante do Recife.

Encarar as aulas depois de ter faltado um mês, acredite ou não, foi uma sensação muito pior do que ter acordado na cama do hospital depois da minha crise de ansiedade.

Na verdade...

Os números, os "x" e os "y" com os quais os professores não paravam de preencher o quadro, em minha mente, eram justamente como as pessoas que estavam tentando sair da minha sala em chamas no setor de retenção da minha empresa.

E mais uma vez...

Eu me sentia sufocada.

Sem ar.

Como se os algarismos e as letras corressem desgovernados por cima de mim e, na sensação de inutilidade de resistência, eu simplesmente desistisse de tentar fazer com que obedecessem ao meu comando.

Deixada para trás.

E quando pensava na reação do meu pai quando ele desconfiasse de como estava a minha vida acadêmica, minha garganta fechava fazendo do soluço a única certeza de que eu iria poder continuar a respirar.

Eu só não sabia se o que eu estava passando era pior do que a atenção que eu chamava para mim, sem querer gerar pena em ninguém, nem dar espaço para que viessem me perguntar o que estava acontecendo.

E era só o começo do dia.

Enquanto estava de licença no trabalho, resolvi assistir aula pela manhã.

Eu não podia mais faltar de modo algum.

Tinha chegado no limite do limite.

Mais uma falta e...

... Adeus período.

Eu precisava me dedicar à faculdade, terminar o curso e dar o melhor de mim no trabalho até me graduar.

Num mundo onde tantas pessoas vivem bem com suas profissões, sem necessariamente amá-las, por que aquilo era tão difícil para mim?

Afinal, depois de garantir minha carreira na área de engenharia eu poderia relaxar e fazer qualquer outra coisa.

Não era isso que a maioria das pessoas fazia?

Pelo menos foi esse o ensinamento do meu pai.

"Primeiro o trabalho e depois a diversão".

Estava com tudo isso em mente até a aula começar.

Foi quando não aguentei segurar os prantos e saí de lá o mais rápido possível, antes que alguém viesse tentar me ajudar.

Não sabia aonde iria.

Só queria sair dali rápido.

E me vi indo para a clínica de Andrea.

Nem sabia o que faria quando chegasse lá.

O que diria?

Que odeio minha faculdade?

Fôlego - Entre o Céu e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora