8. Umbu, Cajá ou Umbu-cajá?

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No dia seguinte eu estava sentada no meu sofá púrpura, sentindo o incômodo no meu pescoço causado pelo lenço para esconder o chupão deixado por Luiz.

Veja bem, o Recife é muito quente, até mesmo nos períodos de inverno.

Lenços, luvas, botas ou qualquer outro acessório para o frio não são bem vindos com o nosso clima.

O calor é tanto que dá vontade de andar nu.

Felizmente, aqui é quente, mas é úmido.

E o que não falta é vento.

Como é um arquipélago abaixo do nível do mar, é um calor que todo mundo reclama, mas que a gente sente falta quando chove.

Só nesse calor faz sentido se molhar, surfar, tomar uma cerveja antes do almoço que, como dizia meu amigo Chico Science, é muito bom pra ficar pensando melhor.

E quando chove... chove.

Como dizemos aqui, chove de cum força.

É chuva para um excelentíssimo senhor caralho!

Chove tudo o que São Pedro estocou durante o ano e, do mesmo jeito que a chuva começou, ela termina e pronto.

Voltamos à programação local de verão e inferno.


Num desses típicos dias de calor, estava eu a sorver meu suco geladinho, perdida entre o tesão e a raiva quando um barulho me fez subir no sofá com um salto gritando, enquanto derrubava o suco pela sala, que agora estava cheia de cacos de vidro do copo que eu tinha na mão.

Prana soltou um rugido ameaçador para a porta.

Bom! O invasor saberia que eu tenho uma fera em casa.

Ao mesmo tempo em que eu gritava, ouvia um outro grito do lado de fora, fazendo-me gritar ainda mais.

- Mari?!! - perguntou Amanda quando irrompeu pela sala, passando uma mão por suas madeixas cor violeta enquanto segurava um recipiente grande e quadrado com a outra mão - Que foi, mulher??? O que aconteceu?

Respirei fundo, baixando minha cabeça, soltando o ar enquanto recuperava minha visão que, pelo visto, havia escurecido com a tontura que sentira um segundo antes.

- O que foi, amiga? - Amanda perguntou mais uma vez - Tô ficando preocupada!

- Tu quer me matar, é rapariga???

- Eu? Matar você? É mais fácil você me matar!... Na hora que giro a chave na porta, ouço um grito teu como se você tivesse sendo atacada e, quando entro, vejo esse cenário que parece que acabou de acontecer uma agressão!...

- Desculpa, amiga... Tu chega assim, de repente... Parece até que é a própria morte que veio me buscar que veio me carregar com uma foice na mão direita e a lista dos meus pecado na esquerda!

- AH-AH-AH-AH-AH-AH!.... - Amanda havia começado a soltar sua gargalhada típica.

- Que bom que pelo menos tu tá rindo. - disse eu indo buscar a vassoura, a pá e um pano para limpar a sala.

- E por que eu não estaria rindo?

- Só tu pra rir de uma desgraceira dessa. Eu aqui parecendo o cão vermelho, gritando e com cacos de vidro ao meu redor.

- AH-AH-AH-AH-AH-AH!... - explodiu Amanda com outra gargalhada - Você é uma figura...

- O que tu tem aí? - perguntei, espichando o pescoço para ver o recipiente que ela carregava.

Fôlego - Entre o Céu e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora