Fôlego - Entre o Céu e o Inferno

13. De Cabeça

A menina lambia uma colher de pau com doce de goiaba.

Quentinho e delicioso.

Riu da cor do doce quando se deu conta de que ela parecia com a dos seus cabelos.

Imagina fazer um doce com meu cabelo!

Eita...

E se meu cabelo for um doce de goiaba bem grandão?!!!

Ria enquanto enfiava de novo a colher de pau na panela e a levava à boca pensando no gosto do seu cabelo.

Dessa vez o doce veio com pedacinhos da goiaba.

Hmmm...

Ela adorava quando havia pedacinhos porque podia ouvir o som de créc quando mastigava os carocinhos.

- Meijinha! Tu tais toda lambuzada...

A ruivinha enfiou a colher de pau de volta na panela e olhou para si mesma.

Estava realmente toda suja de doce.

Para resolver, levou a blusa suja à boca na tentativa de lambê-la.

Tinha gosto de goiabada e camisa de algodão.

Era muito bom.

Antes que lambesse todo o resto, a senhorinha se aproximou e tirou a blusa suja da menina usando-a como guardanapo para esfregar na boca da neta.

- Quer tomar um banho antes de almoçar? - perguntou Dona Eline.

- Não. Quero comer agora. Esse doce me deu fome...

A avó riu.

Nunca negava a sobremesa antes do almoço à netinha.

A pequena sempre foi muito boa de boca.

Estava prestes a servir o almoço de Maria quando ouviu uma batida à porta da frente.

- Eline?! - uma voz grave chamava.

A vovó deu um pulo.

Se ele visse sua filha toda lambuzada de doce iria começar seu discurso de que Criança não pode comer doce antes, senão não almoça.

Mas Dona Eline sabia que a neta era comilona e não rejeitava um bom almoço.

Nunca.

- Anda Meijinha... Vai tomar banho... - uma coisa era saber que a filha comia a sobremesa primeiro, outra bem diferente era ver a menina suja de doce.

- Não, voinha. Eu quero almoçar.

Dona Eline respirou fundo e abriu a porta para Paulo.

Um homem alto, forte, pele cor de chocolate com cabelos crespos em um corte militar e olhos negros como duas jabuticabas.

Paulo entrou com seu famoso olhar intenso e os passos firmes de quem parecia estar marchando.

- Ster tá por aqui? - perguntou ele cravando seu olhar na criança - A menina já tá toda suja de doce? - colocou as mãos nos quadris - Já almoçou, Maria?

- Aff... Já chega reclamando! O prato dela tá na mesa. Vai almoçar agora. - respondeu a avó com uma careta de irritação.

- Eline, quantas vezes preciso te lembrar que criança não deve comer doce antes de almoçar, senão não come?

Dona Eline revirou os olhos.

- Meijinha... Vá tomar banho, vá... - sugeriu a avó.

- Quero almoçar. - disse a menina cruzando os braços e franzindo o cenho.