Avante (cap.8)

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Gatilho: menção a crise de ansiedade!

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Os olhos escuros captavam a imagem diante de si com asco. A fadiga o consumia após várias noites mal dormidas e repletas de pensamentos que nem deveriam existir.

Ao redor vários homens e poucas mulheres aguardavam sua resposta. Com uma das mãos na cintura, ele fechou os lumes levemente inchados e com olheiras, para em seguida abri-los novamente.

Uma cólera apossou seu corpo, dia após dia seu limite era testado, diariamente posto à prova. Cobrado e pisoteado se fizesse algo errado. Lançado em um beco sem saída, onde era fuzilado por opiniões alheias sobre seu trabalho e vida pessoal.

Muitos que estavam ao seu redor neste exato instante comentavam sobre seu casamento infeliz quando não estava por perto. Alguns até mesmo ousavam dizer que sentiam pena.

Não esperava que ao voltar para Pequim, assistiria o que era ruim se tornar pior.

Fazia meses que encontrava-se em seu país, mas a cada segundo que se passava desejava ir embora. Sumir.

Se alguém lhe oferecesse um tiro, ele iria receber de bom grado, de braços abertos para se livrar da rotina homicida.

Eu quero gritar.murmurou para si mesmo enquanto mirava o papel que continha a estrutura de um prédio comercial.

Queria gritar por tantos motivos...

– Zhan, se acalme. – um homem mais velho disse com um sorriso no rosto, ao mesmo tempo em que apertava o ombro do rapaz – Você já se deparou com problemas maiores durante a sua carreira, esse aqui é mero capricho.

Sentia uma crise de ansiedade escalar suas pernas e enforcar seu pescoço.

– O que custa essa porcaria ter uma fachada mais descente? – retirou o capacete de proteção e jogou na mesa – Onde eles aprenderam a ter tanto mal gosto?!

– Não depende só de você, aceite o gosto do cliente e receba o que deve receber. – suspirou e cruzou os braços – O que há com você rapaz? Anda estressado demais.

Parecia que o cosmo utilizava uma de suas ferramentas mortíferas para retirá-lo de órbita. Pontudo e dilacerante para puxar sua pele e expor sua carne fraca.

– Nada. – foi curto e grosso. Em seguida olhou uma última vez para os rabiscos e anotações espalhados pela mesa, consequentemente rangendo o maxilar.

A pólvora foi abrasada pelo tormento, a explosão eclodiu por dentro de Xiao. Deformou suas paredes internas, pintou o sangue com ansiedade e impulso.

– Que se foda... – deixou para trás os colegas de trabalho, que o encaravam perplexos, e o resto da carga horária que utilizaria para discutir sobre o projeto.

Desceu até o primeiro andar e saiu da construção inacabada. Entrou no veículo cinza e bateu a porta, logo dando partida.

Estava transbordando, gota por gota escorria da linha demarcada como o limite.

Forçou o pé no acelerador enquanto prendia nos lábios um cigarro recém inflamado. Com os olhos úmidos, passou sinais vermelhos e cortou carros que para a sua percepção estavam lentos demais. Segurava o volante com firmeza, na mesma intensidade que sentia seu coração ser comprimido.

Tinha noção de que o que fazia era extremamente arriscado – não só para si, como também para os outros –, porém não estava pensando com clareza. Apenas descarregando.

Tons De Gelo {WY+XZ}Onde histórias criam vida. Descubra agora