Caminhos Cruzados (cap. 1)

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A água quente caía sobre seus ombros, com os olhos fechados, a sentia molhar sua derme avermelhada. Os fios castanhos e relativamente longos cobriam sua testa e permitiam que o líquido umedecesse seus lábios entreabertos.

Estava exausto mentalmente, mas nunca iria dizer isso em voz alta. Se sentia pressionado de diversas formas, seja para ser um bom pai ou para demonstrar que não possuía falhas, que não iria desmoronar a qualquer instante.

Fechou o registro e começou a se secar com uma toalha cinza, o tecido macio acolhia as gotículas de água que evidenciavam a perda de peso, apesar de não ter sido alarmante, era notável. Não se deu o trabalho de desembaçar o espelho, pois não queria se encarar ainda. Pegou um frasco de remédio, posteriormente encolheu a mão em formato de concha a preenchendo com a água da torneira e tomou uma pílula. Com um desânimo estampado no rosto se vestiu com roupas quentes e de tons escuros.

Saiu do banheiro que ficava no final do corredor e se aproximou da sala que era junta da cozinha, sendo separada apenas por um balcão extenso.

– Coloque seus sapatos Yan, devemos sair daqui a pouco. – a voz profunda soou pelo corredor estreito.

O garoto segurava seu bichinho de pelúcia predileto enquanto assistia um dos desenhos animados que passava em um canal fechado, apesar de não compreender o que era dito - por ser uma língua diferente - seus olhos escuros e espertos traduziam os acontecimentos através das imagens.

O bicho em formato de peixe dourado era algo extremamente adorado por Yan, se alguém o tocasse poderia gerar reações negativas. Mesmo estando com aparência velha, sendo que era constantemente lavado pelos pais, nunca foi descartado, sendo assim o objeto favorito do pequeno.

Se lembrando que provavelmente havia sido ignorado, Yibo caminhou até o quarto que seria destinado a si, porém no decorrer do percurso se tornou de ambos, agachou-se e recolheu os sapatos confortáveis de sua criança. Assim que adentrou o outro cômodo viu o quanto seu filho estava entretido com a animação.

Se ajoelhou em frente a Yan e começou a calçá-lo, o menino continuou admirando o aparelho que emitia diversas cores vívidas e estórias. Após arrumar o mais novo, Yibo vestiu seu casaco e cachecol, e olhou a neve que caía lá fora.

Pegou as chaves em um suporte de madeira, que ficava suspenso em uma parede próxima da entrada do apartamento, e se encarou no espelho que ficava acima. As olheiras estavam presentes entrando em uma mistura péssima com a pele levemente pálida.

Com a mochila pronta de Yan e sua carteira com documentos e dinheiro no bolso esquerdo, e o celular no bolso direito da veste enorme, fechou a porta e a trancou. Andaram por uma rua relativamente deserta, Yibo estava atrás da criança a assistindo brincar com o bicho de pelúcia e cantar uma canção de um filme infantil. E foi assim que o primeiro sorriso do dia surgiu.

As extremidades dos lábios um pouco cheios se curvaram para cima e os dentes brancos ficaram à mostra, as bochechas salientaram-se e os olhos transmitiram uma aura acalentadora e carinhosa.

– Yan, não ande tão longe! – quase gritou pela distância, ao ouvir o pedido do mais velho, o garotinho parou e aguardou a companhia do pai.

Assim que estavam lado a lado, Wang estendeu a mão para o filho, contudo o mais novo continuou agarrando a pelúcia. Isso era algo que ocorria algumas vezes, era mais comum há alguns anos atrás. A recusa do garoto foi uma surpresa para Yibo, que acreditava que ambos haviam estabelecido novamente uma convivência estável.

A relação do pai e do filho era algo semelhante a uma gangorra, ora eram próximos, ora eram distantes.

Yibo recolheu a mão se sentindo vagamente magoado. Procurou respeitar o espaço de Yan o máximo que pode, mas isto se tornou inviável quando o pequeno voltou a correr e desta vez pondo em risco a própria vida. Desatento, o menino atravessou a rua sem a permissão do adulto e por pouco não foi pego por um carro.

Tons De Gelo {WY+XZ}Onde histórias criam vida. Descubra agora