𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝙸𝙸 - ℭ𝔩𝔞𝔳𝔞 ℭ𝔞𝔦𝔯𝔫𝔰

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I̲n̲v̲e̲r̲n̲e̲s̲s̲, ̲ ̲E̲s̲c̲ó̲c̲i̲a̲, ̲2̲3̲ ̲d̲e̲ ̲n̲o̲v̲e̲m̲b̲r̲o̲ ̲d̲e̲ 2019


   

       ꧁  Joanna꧂

   
     𝕋alves... Não. Essa é a viagem da minha vida. Estive em pesquisas constantes até encontrar Inverness, uma cidade na costa nordeste da Escócia, onde o rio Ness se encontra com o braço do mar Moray. Ela é a maior cidade e capital cultural das Terras Altas. E não é de se estranhar que a cidade com o segundo maior e mais profundo lago escocês, o Lago Ness, seja minha escolha. Essa vasta extensão de água é mais conhecida por uma outra razão. Diz a lenda que sob a superfície escura do lago vive o famoso Monstro do Lago Ness, carinhosamente conhecido como Nessie. Independentemente da veracidade desses fatos, o monstro é sinônimo de lenda e folclore escoceses, mostrando que minha escolha está mesmo certa. Logo, logo,  vou ver se realmente estou certa.
Cheguei no Aeroporto Heathrow em Londres ontem, era quase oito horas da noite. Peguei um táxi até a Estação King Cross. A estação é caracterizada por uma estrutura colorida futurista, com uma fachada clássica de tijolos, os largos arcos e o inevitável jogo de luzes dão ao lugar um toque de magia. Mas eu estava tão cansada e tão inquieta que não tive animação nenhuma para tirar fotos na Plataforma 9¾, como uma grande fã de Harry Potter que eu sou. Cochilei por alguns minutos na madrugada. Eu queria ter pagado um quarto de hotel, mas no fim, acabei nos bancos da estação, debruçada sobre a minha mala, esperando o horário do meu trem.
Às seis e meia da manhã, tomei um café reforçado em uma lanchonete, e às sete horas o trem parou na estação. Meu coração parou, e eu fui a primeira a entrar.
Minha escolha de viagem foi peculiar, e até eu não entendo. Eu poderia ter escolhido uma das nove empresas aéreas que realizam a rota entre cidades do Brasil e Inverness. O Aeroporto de Inverness fica a 15 km do centro da cidade e o trajeto pode ser facilmente realizado por táxis ou ônibus. Mas eu nunca andei de trem, e no centro de Inverness existe uma estação de trem com rotas que ligam várias cidades da Escócia e Inglaterra até a cidade, como Londres, Aberdeen, Edimburgo, Glasgow e vários outros lugares. Resolvi que se essa seria minha viagem, que, talvez, seja só de ida, e eu precisava de mais tempo para mim. Um voo de onze horas, e uma viagem de trem de sete horas. Muita coisa para pensar até o ponto final.
Viajar de trem pela Europa era um clássico algumas décadas atrás, mas ficou menos comum depois da chegada das companhias aéreas low cost. Para mim, foi como num sonho de olhos abertos. Do lado de fora, havia montanhas nevadas, lagos alpinos e fazendas típicas. Dentro, o conforto do trem, permitiu que passássemos por cidades geladas sem sentir um pingo de frio. A rota passara por campos de trigo, pequenas fazendas, praias e paisagens que eu jamais imaginaria encontrar. E eu pretendia dormir durante a viagem, mas aquela vista não me permitiu. No meio do caminho, ainda tinha penhascos, casinhas coloridas empilhadas, mar azul turquesa e muito verde. No final, ainda teve desfiladeiros, montanhas, penhascos íngremes e florestas de pinheiros.

   E lembrei da discussão que tive com Felicia. Ela finalmente falou, depois de semanas calada.

— Não quero que você vá. — Felicia entrou no meu quarto, enquanto eu guardava as últimas coisas em minha mala.

— Felicia...

— É a verdade. Isso não te trará nenhum bem.

— Você não sabe o que vou fazer lá.

Ela balançou a cabeça. Parecia procurar coragem para continuar aquilo.

— Você, e sua mãe... São as únicas que ainda conseguem pisar naquele lugar. Foram sete anos de tortura, e você ainda quer voltar?

— É você que está voltando no assunto.

Meu coração palpitava, parecia que estava prestes a sair da caixa torácica.

𝕰𝖚 𝖙𝖊𝖓𝖍𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘𝖆𝖑𝖛𝖆𝖗 𝕵𝖔𝖆𝖓𝖆 𝕯'𝖆𝖗𝖈Onde histórias criam vida. Descubra agora