𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚇 - 𝔅𝔦𝔟𝔩𝔦𝔬𝔱𝔢𝔠𝔞

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    F̲r̲a̲n̲ç̲a̲, ̲ ̲1̲5̲ ̲d̲e̲ ̲d̲e̲z̲e̲m̲b̲r̲o̲ de 1429

꧁ Carlos ꧂

              𝒰m carvalho antigo no topo de um monte. Lá embaixo, o rebanho de ovelhas parecem felizes com o pasto.
O terreno montanhoso, trás uma vista linda. O sol está entre uma folha de nuvens contínuas que cobrem o céu. Às nuvens são finas, dão uma aparência sombria e triste, acho que é improvável que chova, no máximo será um chuvisco leve. De onde estou, sentado embaixo do carvalho, consigo ver a neblina nas montanhas. No horizonte, as nuvens parecem lã de algodão, com uma base plana, e todas estão mais ou menos no mesmo nível no céu.
Olha para mim, estou aqui, sentado, parecendo um camponês, cuidando de ovelhas. Estou vivendo igual um medieval. E só consigo pensar no que está acontecendo no futuro, no nosso lugar. Que loucura.
Prefiro ficar aqui fora do que ficar lá naquele palácio, aqui eu ainda posso fingir que estou em São Thomé das Letras. Ainda posso pensar que daqui uns dias vamos voltar para São Paulo e eu vou para a entrevista de emprego que tanto preciso. Estou desempregado há um mês, e não contei para ninguém. Minha vida está uma loucura, e as coisas só pioraram.
      Lyon e Frisson caminham entre as ovelhas e depois olham para mim e começam a subir o monte. Eles são enormes e bastante pesados. Possuem uma pelagem fina, lisa e curta de uma coloração avermelhada com manchas brancas especialmente nos peitos e patas. Tem olhos ovais, de cores avelã, e as orelhas são pequenas em um tom mais escuro que a pelagem. A cabeça deles é grande, larga e angulosa, com um focinho largo e volumoso, e rugas no rosto. Quando os conheci, pela aparência, logo deduzir que eram cães agressivos, mas na verdade, eles são equilibrados, calmos e gentis. Imagino que os dois juntos devem ter uns 150 kg. Eles me lembram o filme “Uma Dupla Quase Perfeita”, da Disney, com o Tom Hanks e Hooch, um cão da mesma raça deles dois. Eu adoraria ter um celular agora para pesquisar e confirmar.
O barulho da porteira chamou a atenção dos dois. Vejo uma silhueta feminina se aproximando. Eu não enxergo muito bem sem óculos. Carregando um graveto, Felicia se aproxima, ao lado dela um cãozinho pequeno muito animado. É o Papillon, que significa borboleta em francês, um apelido carinhoso que faz referência às orelhas franjadas do cachorro que lembra uma borboleta. Papillon dorme com a própria duquesa, mas parece adorar andar entre os novos personagens de sua vida. Felicia joga o graveto, e Papillon corre para buscar.
Pequeno e elegante, foi o primeiro a chegar até mim e colocou o graveto entre meus pés, peguei e joguei para o lado esquerdo. Lyon e Frisson nem ligaram. Papillon voltou contente balançando sua cauda coberta por uma longa e fluente pluma. Passei a mão em sua cabeça e ele olhou para mim com seus olhos escuros, redondos, de tamanho médio e expressão alerta.

— Lyon e Frisson gostam de você. — Felicia falou.

— É, parece que sim.  — digo. — E acho que vi Papillon andar mais com você do que com os outros.

— A Duquesa está nas cliptas... Ele parece não gostar de lá.

Felicia se sentou num tronco que alguém deve ter colocado ali, alguém que trabalhou cuidando das ovelhas da Duquesa, talvez tenha sido os filhos dela ou o próprio Duque ou algum empregado.
Observo Felicia, ela parece olhar para as mesmas nuvens que eu estava olhando a minutos atrás. Suas mãos estão unidas, com dedos inquietos.

— Eu vi ela...

— Ela? Ela quem?

— Joana d'Arc.

— Sério? Onde? Tem certeza?

— Ela passou pela vila. — Felicia suspira. — Que desgraça de vida. Só de pensar que estamos aqui por causa dela.

— Você já pensou que isso talvez seja... Bom... Eu não sei. Qual é palavra mesmo?

— Destino? — Felicia balança a cabeça. — Não. Você já parou para pensar, que, se... Eu digo, se... Se salvarmos Joana d'Arc, o que irá acontecer? E se tiver uma regra no universo. Se acabarmos bagunçando tudo. Tipo o Flash.

𝕰𝖚 𝖙𝖊𝖓𝖍𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘𝖆𝖑𝖛𝖆𝖗 𝕵𝖔𝖆𝖓𝖆 𝕯'𝖆𝖗𝖈Onde histórias criam vida. Descubra agora