𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 xiii - 𝔄 𝔭𝔯𝔦𝔪𝔢𝔦𝔯𝔞 𝔣𝔩𝔬𝔯 𝔡𝔢 𝔭𝔯𝔦𝔪𝔞𝔳𝔢𝔯𝔞

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F̲r̲a̲n̲ç̲a̲, ̲ ̲0̲3̲ ̲d̲e̲ ̲m̲a̲i̲o̲ ̲d̲e̲ ̲1̲4̲3̲0̲

꧁Felicia꧂



                         𝓞  jardim de Mandisa está lindo e chamativo, florida e perfumada, e ainda posso ver pequenas abelhinhas gordinhas sobrevoando as flores. A primavera aqui é , literalmente, cor-de-rosa. As nuances e os tons rosados se devem, em boa parte, à flor de cerejeira, a característica árvore local, que pode ser vista em dezenas de ruas, campos e nas floresta ao redor.
E ainda tem as temperaturas amenas que deixam os passeios ao ar livre extremamente agradáveis.
Tudo renasce das cinzas, as árvores estão brotando lindas folhas e flores, os pardais “cantam” melodias. Esse negócio de observar parece coisa da Anna, ela sempre se perde no tempo e fica olhando tudo e acaba se desligando.
O relincho do cavalo acaba me tirando desse devaneio bobo.
Olho para o estábulo e vejo René arrumando a charrete para sair.

— Está indo para a vila? — pergunto quando me aproximo.

— Estou. — ele responde. — Você vem comigo?

Coloco as mãos no bolso do vestido e suspiro.

— Quando você vai sair?

— Daqui meia hora. A duquesa pediu para eu levar alguns pães, mas ainda não saiu do forno.

— Entendo. Então eu vou com você. Me chame quando estiver saindo.

— Tudo bem.

Me viro e caminho por entre as flores e as ervas. Catherine está sentada perto do poço, brincando com uma boneca de pano. Me agacho ao lado dela e toco em seu ombro. Catherine é bem diferente da irmã Catriona, talvez puxou mais para o pai ou outra pessoa da família.

— Estamos indo para a vila. — falo. — Você vem conosco?

— Não. — ela responde. — Vou ficar aqui.

— Tudo bem.

Me levanto. Eu entendo ela. É uma garotinha muito calada que acha que já tem idade para se virar sozinha. Eu era assim.
Preciso ver Joanna antes de sair, ela ainda não desceu para comer e preciso me certificar que está tudo bem.
Caminho pelos corredores do castelo, passando a mão nas pedras lisas e frias da estrutura. Ainda paro para olhar alguns quadros no corredor antes de subir a escada para o andar dos quartos.
Vou direto para o meu quarto e abro a porta delicadamente. Hian ainda está dormindo todo enrolado nos cobertores, ele é tão pequeno que quase nem parece que tem alguém deitado na cama. Fecho a porta e vou até o quarto de Joanna. Abro a porta e já vislumbro perto do sofá uma jarra de alumínio posta no chão junto com uma tábua com um pedaço de pão. Levanto o pé para não pisar nas correntes que prendem um dos pés de Joana. É tão horrível ver isso, e ainda por cima não poder contestar. Joana d'Arc é livre, eu arrisquei minha vida para deixá-la livre, mas agora já tem quatro dias que ela está presa aqui nesse quarto. Não sabemos quando Mandisa irá decidir que já está na hora dela ser solta.
Atravesso o quarto e abro uma parte da cortina improvisada que provavelmente foi Anna que colocou.
Viro-me para a cama e vejo metade do cobertor em cima do colchão enquanto o resto desliza para fora e vai até perto do sofá onde Joanna está dormindo sentada no chão ao lado de Joana. A garota está dormindo também, com a barriga para cima e com um dos pés para fora do sofá, um cobertor de peles cobre seu corpo até o pescoço e um dos braços dela está para fora quase tocando o ombro de Anna. 
Eu não me lembro de ter visto alguma vez a Anna com um olhar tão calmo mesmo quando está dormindo. Mas agora ela parece tão calma e satisfeita. Mesmo que Joana d'Arc está presa, a Anna sabe que ela ainda está segura. E ver minha prima assim, mostra que o que estamos fazendo aqui é útil, talvez, finalmente, teremos nossa garota de volta, pelo menos um pouco dela.
Me abaixo ao lado de Anna e seguro sua mão:

𝕰𝖚 𝖙𝖊𝖓𝖍𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘𝖆𝖑𝖛𝖆𝖗 𝕵𝖔𝖆𝖓𝖆 𝕯'𝖆𝖗𝖈Onde histórias criam vida. Descubra agora