Capítulo Três - Heavy Metal

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Sete anos atrás

Minha primeira experiência com um herói foi ser salva por um deles. Pouco tempo depois, ele voltou a me salvar, e embora ainda não fosse um herói naquela época, já apresentava as características de um.

Na noite em que o conheci, eu voltava para casa sozinha. Havia passado a tarde no apartamento de Sara, uma de minhas amigas mais próximas. Após alguns anos de amizade, tínhamos criado o hábito de passar a tarde na casa uma da outra para assistir filmes e séries. Fazíamos isso uma vez por semana e naquela ocasião Sara havia sido a anfitriã. Como nossas casas ficavam há apenas algumas quadras de distância, resolvi voltar sozinha, negando as ofertas de carona dos pais de Sara.

As ruas do bairro onde morávamos eram em geral bem iluminadas. No entanto, alguns trechos pareciam especialmente escuros durante a noite. A tranquilidade com a qual eu caminhava esvaiu-se quando notei uma figura caminhando em minha direção. Seu rosto estava coberto pelo capuz da blusa de frio que usava. Arrependi-me prontamente de ter sido orgulhosa e negado aquela carona, mas era tarde demais para voltar atrás.

A região da cidade onde ficava minha casa não era muito perigosa, embora possuísse sua cota de usuários e de trombadinhas. Entretanto, aquela foi a primeira vez que fui abordada por um deles. Tive a ingenuidade de pensar que por ser nascida e criada por lá teria algum tipo de imunidade frente a uma situação como aquela.

O homem encapuzado atravessou a distância entre nós dois em poucos segundos, camuflado pela falta de iluminação. A única exceção, que era claramente visível, era uma lâmina de metal que reluzia em sua mão. Quando me alcançou, colocou-se à minha frente, bloqueando a passagem e apontou a faca em minha direção, com a mão trêmula.

- Passa o dinheiro, menina. – Disse o assaltante em tom ameaçador. - Ou enfio isso em você. – Não tinha como saber se ele tremia pelo medo de ser flagrado ou se estava sob efeito de drogas. De qualquer maneira, minha situação não era muito boa. Não havia trazido meu celular, não tinha dinheiro, nada que ele pudesse furtar além dos meus documentos. Nesse tipo de ocasião, os assaltantes geralmente sentem-se provocados e tem o ímpeto de ferir suas vítimas. Tratando-se de uma mulher, talvez ele optasse por fazer algo pior.

À primeira vista, ele detinha o controle da situação. Era um homem armado contra uma adolescente. Seu erro foi presumir que isso era tudo que eu era.

Aproveitando-me da adrenalina que corria pelo meu corpo, concentrei toda minha atenção naquela faca. Era assim que funcionava. Quanto mais nervosa estava, mais facilidade tinha para me conectar. Levantei minha mão direita, que estava tão bamba quanto a dele, na direção da faca. Em ressonância ao meu gesto, a faca começou a tremer ainda mais, agora por conta própria. O metal que compunha a lâmina reagia ao meu comando. Com um movimento brusco, puxei o braço para trás e a faca saltou da mão do assaltante, sendo atirada para frente e sumindo na escuridão.

A expressão no rosto do ladrão era indecifrável. Não fazia ideia do que havia acabado de acontecer. Entre as duas reações mais previsíveis, correr de medo ou ficar ainda mais enfurecido, ele optou pela segunda.

- Não sei que porra de bruxaria foi essa. – Esbravejou levando a mão até a cintura. Sacou um revólver prateado e voltou a apontar para mim. – Mas se fizer isso de novo, vou te encher de tiro, sua piranha. Passa a porra do dinheiro!

Sob a mira do revólver, me arrependi pela segunda vez naquela noite. Tentar meu truque com a faca era uma coisa, porém se tentasse puxar a arma da mesma maneira ela poderia disparar e me acertar. Minhas opções de defesa haviam se esgotado. Eu estava à mercê daquele homem.

Um assobio cortou o tenso silêncio que havia se instalado naqueles longos instantes. O assaltante virou a cabeça para trás buscando a origem do som. Sua arma, no entanto, permanecia prontamente erguida em minha direção. Parado atrás dele estava um rapaz alto e esguio, com as mãos tranquilamente enfiadas nos bolsos e postura despreocupada.

A Queda dos HeróisOnde histórias criam vida. Descubra agora