Após um pacato final de semana com Rafa, Thiago teve uma segunda-feira terrivelmente longa. Embora a maioria de seus dias de serviço fossem assim, Thiago se viu forçado a ficar cerca de uma hora a mais no escritório naquela tarde. Um de seus colegas esqueceu-se de entregar um relatório para o supervisor do setor e Thiago se ofereceu para ajudá-lo a finalizar, a fim de que terminasse dentro do prazo estipulado e não fosse penalizado. Sua boa ação custou-lhe a perda do ônibus.
Sendo assim, ao invés de ir direto para o ponto de ônibus, Thiago resolveu fazer algo diferente. Como não faria nada de especial em casa e já estava saindo atrasado, resolveu ir até a Praça da Reforma. Parou no primeiro trailer de lanches que encontrou, comprou um sorvete e sentou-se em dos bancos da Praça para saborear calmamente o aperitivo enquanto admirava a belíssima arquitetura do Palácio da Reforma.
A Praça da Reforma era um dos principais pontos turísticos da cidade. Tinha seis fontes e chafarizes e era quase inteiramente arborizada, com exceção dos caminhos de asfalto onde os moradores da região frequentemente faziam caminhadas. Antes da Reforma o local chamava-se Praça da Liberdade, porém fora rebatizada, pois tratava-se do local onde a guerra civil tivera seu tardio fim.
A Reforma, ou Revolução Reformista, ocorreu cerca de cinquenta anos antes do surgimento em massa dos alterados, quando o país ainda era chamado simplesmente de Brasil.
Após um período de diversas crises econômicas e escândalos de corrupção, o presidente vigente foi deposto, sob acusação de ter sido um dos principais beneficiários de um esquema de desvio de verbas públicas e enriquecimento ilícito. Após a deposição, quem assumiu a função de chefe de estado foi seu vice. Ele claramente não estava preparado para abarcar a crise ou lidar com as insatisfações populares e mercantis. Aproveitando-se desse cenário de desespero, os líderes militares do país aplicaram um golpe de estado, tomando à força o controle do país. O mais alto oficial do exército, responsável pela organização e aplicação do golpe, foi o Marechal Elviro Corrêa.
O primeiro período desse governo militar foi marcado pela redução dos direitos trabalhistas e forte repressão aos movimentos de redemocratização do país. Os posicionamentos de Corrêa pertenciam aos mesmos vieses dos movimentos políticos haviam sido recém enfrentados na Europa. No entanto, tratando-se de um país latino-americano, não houve grande mobilização internacional para que a situação fosse modificada no Brasil. O cenário brasileiro foi de mal à pior em poucos meses.
Os Reformistas surgiram quando os líderes políticos que se opunham ao governo militar vigente se organizaram para combater as atrocidades sancionadas pelo Presidente Corrêa. Inspirada pela coragem dos Reformistas, a população deixou de lado os partidos políticos e posicionamentos de direita ou esquerda para exigir o retorno da democracia. Antes de se tornarem, de fato, um movimento de guerrilha, os Reformistas realizaram protestos demandando que os militares abrissem mão do governo, com a deposição do Presidente Corrêa, e a realização de uma nova eleição para que houvesse assim o retorno do regime democrático.
Inabalado perante a essas exigências, Corrêa respondeu aos atos dos Reformistas de uma maneira que não teria sido prevista nem mesmo pelos mais pessimistas. Corrêa mobilizou as tropas do exército nacional para o Rio de Janeiro, cidade que os Reformistas usavam como sua base de suas operações. O presidente revelou sua verdadeira índole quando ordenou que todos os cidadãos associados ao movimento da Reforma fossem caçados e mortos. Pegos de surpresa, os Reformistas não tiveram a menor chance contra os numerosos soldados do exército comandados por Corrêa.
Não satisfeito, o presidente enviou seu exército para as favelas do Rio de Janeiro, onde se abrigavam os civis que não queriam se envolver nos confrontos com as forças nacionais. Os soldados chacinaram cada pessoa que pudesse ter ligações com membros da Reforma, sem poupar cônjuges, filhos ou qualquer outro parente ou conhecido dos Reformistas. Como efeito colateral dos tiroteios e invasões às casas, mesmo aqueles que não tinham envolvimento com a Reforma tornaram-se vítimas da covarde incursão e foram assassinados de forma desonrosa. Foi uma verdadeira carnificina desregrada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Queda dos Heróis
General FictionThiago é um jovem adulto que vive sua vida como qualquer outra pessoa na cidade de Novo Horizonte. No entanto, anos atrás, atuava como herói e guardião da população, compondo, com outros nove heróis, os Cavaleiros de Novo Horizonte. Após a perda tra...