A Queda dos Heróis

Capítulo Vinte e Um - Ys

Os Cavaleiros subiam a Rua da Bahia em direção à Praça da Reforma, deixando a barricada para trás. As ruas estavam tomadas por bandidos armados, que patrulhavam os quarteirões invadindo os prédios de dentro do perímetro. Alguns deles perceberam a chegada dos heróis, mas logo que começavam a se aproximar e notavam de quem se tratava, desistiam de perturbá-los. Por mais confiantes que se sentissem sob o comando de Ys, sabiam que suas chances eram insignificantes contra os heróis.

A região que cercava a Praça da Reforma estava semelhante ao centro, porém a sensação de anarquia e caos não imperava tão intensamente. Thiago e os outros não avistaram por lá civis ou reféns, mas supunham que havia inocentes naquelas condições. Ignorar a visão e os odores dos cadáveres e das carcaças dos veículos era muito mais difícil agora que estavam fora do caminhão.

As transmissões de televisão não conseguiram captar filmagens da Praça da Reforma nos últimos dias. Os helicópteros que se aproximaram foram abatidos e os repórteres que se aventuraram por lá foram capturados ou mortos. Portanto, não havia como saberem qual seria a real situação do local, apenas quando chegassem lá.

Pelo menos três centenas de homens armados estavam dispostos ao longo da extensão da Praça. Mesmo quando haviam enfrentado os carteis, os mafiosos e os traficantes, jamais se depararam com tamanha quantidade de inimigos. E eles ainda não eram seu maior problema, nem de longe.

Um grupo menor estava reunido em frente ao Palácio da Reforma, logo onde antes transitavam os veículos pela Avenida Brasil. Dentre eles, estavam os piores vilões que os Cavaleiros haviam enfrentado ao longo de tantos anos. Um enorme homem com a pele marcada por tatuagens de facções, Grande Gus; um homem mais baixo ao seu lado, o Bazuca; outro de boa aparência e expressão intensa, o Sônico. Os irmãos alterados também estavam presentes, com seus sorrisos amarelos e expressões delirantes; Cicatriz, acompanhada de Finco.

Além deles, ainda havia os nêmeses do Paladino de Aço e do Elemental. Um homem alto, de tez dourada e escamosa, o rosto reptiliano e presas proeminentes que desciam pela boca; o Serpentário. Ao seu lado, um homem atarracado e de ombros largos, que outrora fora forte e musculoso. Sua pele era cinzenta e de aspecto doentio, e a expressão em seu rosto parecia febril. Chernobyl.

Por último, entre eles, estava um dos heróis que havia ajudado a capturar todos aqueles vilões e muitos outros. Ricardo permanecia com seu uniforme de sempre e parecia muito bem confortável entre os bandidos que o cercavam. Assim que percebeu a aproximação dos antigos parceiros, recebeu-os com um sorriso genuíno. Agora, não precisava mais fingir, podia se portar exatamente como era.

- Os Cavaleiros de Novo Horizonte. – Anunciou Ys, abrindo os braços para eles. Tomou a frente de seus homens, caminhando de maneira despreocupada. – Meus amigos. Fico feliz que tenham saído do buraco que se enfiaram e voltado para a nossa cidade.

- Isso termina hoje, Ys. – Thiago disse. Seus punhos estavam cerrados e apesar das chances reduzidas, sentiu-se pronto como nunca. – De uma maneira ou de outra.

- Sim. Dessa vez, não deixarei que escapem. – E isso era notável. Cercados por tantos bandidos e por poderosos alterados, só tinham duas opções: ou venceriam, ou seriam mortos. – Não tenho ressentimentos pelo que fizeram. Na verdade, terem me exposto se provou algo verdadeiramente maravilhoso. Finalmente assumi meu lugar de direito nessa cidade. Já refletiram por que deixamos seres tão inferiores deterem tamanho poder? Olhem ao redor. Somos deuses e eles são apenas baratas. Por que deveriam ser eles a comandar a cidade, o país e o mundo? O poder que detêm é simbólico. O nosso poder é real.

Ys gargalhou, se perdendo em seus devaneios. – Vou dar a vocês mais uma chance, por ainda manter carinho pelo nosso passado. Juntem-se a mim, e comandaremos essa cidade juntos. Caralho, com vocês ao meu lado, não há nada nem ninguém que poderia se opor a mim. Novo Horizonte é só o começo.