Capítulo Nove - Alterados Anônimos

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Thiago esperou até a noite seguinte e então voltou ao bar Dom Vito. Uma vez que chegou lá, sentou-se no balcão e pediu a Josie uma cerveja. Visivelmente satisfeita com seu retorno, a dona do estabelecimento perguntou se ele e seus amigos voltariam a frequentar o bar como faziam há alguns anos. Thiago explicou que eles já não eram tão próximos quanto antes e que dificilmente se reuniriam para saírem juntos na atual conjuntura.

Pouco depois de uma hora esperando, Thiago viu Marcus chegando ao bar, acompanhado de um grupo de amigos. Ao vê-los tomando cerveja e conversando despreocupadamente, Thiago sentiu uma pontada de saudade do tempo em que os ele e seus amigos também faziam aquilo. Talvez se sentisse mais nostálgico se aquela memória não o fizesse lembrar que, agora, dois deles estavam mortos. Assim, mesmo se eles de fato voltassem a ser tão unidos quanto antes, sempre haveria um buraco que não seriam capazes de preencher.

Thiago esperou alguns minutos para que o grupo se estabelecesse em uma das mesas para então ir à direção deles.

- Marcus, olá! – Thiago cumprimentou, acenando para ele. A reação de Marcus ao vê-lo foi bastante cômica, ele mal parecia acreditar em seus olhos. Apesar disso, após alguns segundos de choque, abriu caminho entre dois de seus colegas e veio cumprimentar Thiago.

- Olá, oi! – Cumprimentou, rindo de si mesmo. Marcus apertou a mão de Thiago com entusiasmo excessivo, olhos arregalados e um sorriso quase emocionado. – Você está aqui de novo!

- Sim, estou. – Thiago sorriu em retribuição, tentando parecer o mais amistoso possível. Era como se tivesse voltado a ser quem era há três anos, jovial e despreocupado. – Estava sentado ali no balcão, vi você chegando e resolvi vir cumprimentá-lo.

- Isso é tão bacana da sua parte. – Marcus disse, ainda um pouco abobado. – Quero dizer, você, vindo falar comigo – Ele olhou para os amigos, que não compartilhavam de seu entusiasmo, mas se divertiam com o seu proceder. Provavelmente pensavam que Marcus tinha uma queda por Thiago. – Nossa, como sou idiota. Pessoal, esse é o Thiago. Venha se sentar com a gente, pagamos-lhe uma cerveja. – Fingindo que o encontro entre eles fora nada além casual, Thiago assentiu e sentou-se na mesa com Marcus. Seus amigos não mostraram objeção.

Estavam em um total de cinco pessoas, três moças e dois rapazes. Era um grupo bastante distinto; um rapaz de cabelo Black Power e camisa de gola, uma moça muito baixinha de cabelos castanhos, uma moça negra de cabelos longos e trançados, e uma moça com o cabelo muito curto e tatuagens fechadas ao redor dos braços. Todos os cinco foram bastante receptivos com Thiago, e ele logo sentiu como se fizesse parte daquele círculo de amizade. A disposição do grupo consigo o fazia se sentir um pouco culpado. Ele só estava ali por um interesse específico, e embora não soubessem, tratavam-no como se fosse um deles.

Thiago passou as próximas horas na companhia de Marcus e seus amigos e já se sentia bastante confortável entre eles. Fingiu-se de desentendido quando uma das moças começou a fazer perguntas indiscretas e entrar em assuntos sugestivos; quando percebeu a intenção da amiga, o próprio Marcus alertou-a que Thiago tinha uma namorada há muitos anos, e que ele não a trocaria por ninguém. Embora não o conhecesse tão bem para afirmar aquilo, sua suposição estava correta e fora muito bem colocada.

Thiago só teve a oportunidade de conversar em particular com Marcus quando este anunciou que estava indo embora. Aproveitando-se da situação, Thiago insistiu em acompanhar Marcus até a saída, e enfim pode abordar o assunto pelo qual estivera presente.

- Não se preocupe, pode ficar aí mesmo. O pessoal estava adorando sua companhia. – Marcus recomendou. – Preciso ir agora, tenho uma daquelas reuniões que te falei no outro dia.

A Queda dos HeróisOnde histórias criam vida. Descubra agora