Capítulo Dezenove - Cauê

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Três anos atrás

Thiago ouviu tudo o que Rafaela tinha para dizer, exatamente como ela havia pedido. Precisava explicá-lo tudo sem interrupções, por pior que fosse para ele ouvir tudo aquilo. Quando terminou, sentiu a cabeça pesada e ficou completamente desorientado. Levantou-se do sofá, e quando ela tentou segui-lo, ele fez um gesto para que não se aproximasse.

- Como isso pôde acontecer? – Foi a primeira coisa que conseguiu dizer. Encostou a cabeça na parede, tentando se concentrar no frio do concreto, focando em qualquer coisa que não fosse sua mágoa. – Como... Não, por que você fez uma coisa dessas?

- Eu... – Rafaela esticou as mãos na direção dele, mas não teve coragem de tocá-lo. – Eu não planejei nada disso.

- É claro que não.

- Era pra ser uma surpresa. – Rafa voltou a explicar, como havia acabado de fazer. – Eu e Alex estávamos esperando você chegar do serviço. Estávamos bebendo um pouco, e você ligou dizendo que iria demorar. Então Alex e eu começamos a nos beijar, e ela sugeriu que...

- Sim, ela sugeriu e você acatou, como da última vez. Sem me perguntar, sem se importar como isso me faria sentir ou o que isso faria comigo! – Ele se virou para ela, com o rosto rubro de exaltação. – Porra, Rafa, qual é o seu problema? Não consegue dizer não para ela? Nós concordamos que faríamos isso juntos, e nunca separados. Caralho, até a Alex concordou com isso! E na primeira oportunidade em que vocês ficam sozinhas, você resolve que é uma boa ideia voltar atrás no que combinamos e trepar com ela? – Thiago já estava aos berros. Grossas lágrimas começaram a cair por seu rosto.

- Eu não queria, não... – Rafaela balançou a cabeça, soluçando e sem conseguir impedir o choro. – Não queria, não teria feito isso com você. Thiago, me desculpa, por favor, me desculpa, eu, eu amo...

- Não. – Thiago cortou-a, incapaz de ouvir o que ela estava prestes a dizer. – Como se sentiria se fosse o contrário? Melhor, o que você faria?

Rafaela apenas chorou. Sentou-se no sofá e mergulhou o rosto nas mãos, incapaz de responder. Thiago passou os dedos pelos cabelos, tentando controlar a raiva. Seu coração parecia prestes a sair do peito e ao mesmo tempo, estava tão chateado que queria poder entrar para dentro de si e nunca mais sair. Olhou para Rafa e por mais que tentasse, não conseguiu se compadecer. Estava completamente desapontado e desolado.

- Preciso que vá embora. – Disse para ela, após alguns minutos. – Preciso ficar sozinho. Não consigo pensar com você aqui.

- Thiago, não faz isso. – Rafa olhou para ele, suplicante. – Vamos conversar, vamos resolver isso.

- Não quero conversar nem muito menos resolver coisa alguma agora. Preciso ficar sozinho e me acalmar.

- Por favor...

- Rafaela. – Era raro que a chamasse pelo nome, e a seriedade em seu tom era palpável. Ela se levantou e pegou sua bolsa, ainda trêmula.

- Vou te dar um tempo para você. É o mínimo que posso fazer. Por favor, me ligue quando estiver mais calmo. Não posso imaginar o quanto está magoado, mas ainda podemos conversar. Nem que for apenas para me xingar, mas por favor, me ligue.

- Preciso pensar nisso tudo. Preciso de um tempo. Depois, veremos o que vamos fazer.

Rafaela recolheu suas coisas e foi em direção à porta. Antes de sair, deixou a chave do apartamento que Thiago havia dado para ela. Completamente exausto e com uma terrível angustia que acelerava seu coração e não permitia que raciocinasse com clareza, ele foi para seu quarto.

A Queda dos HeróisOnde histórias criam vida. Descubra agora