A Noite que mudou Minha vida

Capítulo- 20 Clara

Beatriz, o que eu falei sobre falar com estranhos?
-Deculpa mama?
-Tudo bem, não faça mais isso! - botei ela na cadeira. - Fique aqui, ok? - ela fez que sim com a cabeça e começou a desenhar. Entreguei um docinho pra ela que fez festa e comeu.
-Mama, cadê Aex?
-Filha, esquece o Alex.
-Aex podia se o papa! - falou triste.
-Vou alí e você fica aqui! - sai da mesa e fui atrás de Bruno. Não queria entrar naquele assunto, não estava preparada ainda.
-Bruno? - chamei ele me olhou e sorriu. Estava conversando com umas meninas.
-Meninas, depois falo com vocês! - veio na minha direção.
-Preciso de um favor!
-O que?
-Você precisa convencer Alex de que a Bia não é a filha dele!
-Ele descobriu?
-Sim, peguei eles conversando agora a pouco!
-Porque você não deixa ele conviver com ela? A menina é doida pra ter um pai!
-Bruno, o Alex não vai fazer bem para a minha filha... Ele já fez muito mal para nós.
-Desculpa te falar, mas ele não tem culpa... Você tem que deixar ele tentar! Eu não vou poder te ajudar Clara, não tem como negar que ela é filha do Alex. - suspirei e fui para minha mesa. Olhei para ela comendo e suspirei. Porque eu fui perder ela de vista? Que merda!

[...]

Estava vendo minha ursinha dormir no berço dela. Tão perfeita. Meu celular começou a tocar e eu corri pra atender antes que ela acordasse. Quem estava me ligando a essa hora? Já se passava das 11 da noite. Saí do quarto olhando o número, que eu desconhecia.
-Alô?
-Clara? Alex Monteiro!
-O que deseja?
-Você sabe que precisamos conversar.
-Precisamos? Acredito que não!
-Não se faça de boba!
-Eu não quero conversar com você Alex!
-Onde podemos nos encontrar?
-Em lugar nenhum.
-Já imaginava que iria optar pelo modo mais difícil!
Do que está falando?
-Foi um prazer falar com você, Clara Borges. Tenha uma boa noite. - encerrou a ligação e eu fiquei sem entender. Que modo difícil era esse? Suspirei e resolvi esquecer. Fui dormir, porque Beatriz iria despertar cedo amanhã. Deitei e entrei em um sono relaxante.

[...]

Escutei uma voz baixinha, Bia estava conversando com os ursos que dormiam com ela. Todo dia de manhã era a mesma coisa, ela acordava e dava bom dia para todos os ursos que ficavam no berço e depois inventava uma conversa maluca. Sorri e sentei.
-Bom dia, ursinha!
-Dia mama! - falou esticando os bracinhos. Levantei e peguei ela no colo. Enchi minha pequena de beijos e só se ouvia as gargalhadas dela.
-Ursinha, vamos tomar um banho?
-Xim mama! - tirei sua roupa e a minha e tomamos um banho bem demorado. Fazendo bagunça e muita farra na banheira.
-Mamãe está morrendo de fome!
-Nene também! - alisou a barriguinha e eu ri descendo a escada. Ouvi uma voz forte e diferente na cozinha. Meu corpo se arrepiou inteiro. Não acredito que ele fez isso! Suspirei fundo e segui pra cozinha.
-Bom dia! - falei entrando na cozinha com Beatriz no colo.
-Dia. - falou e Alex abriu um sorriso enorme. Ela olhou pra ele. Ficou tímida de repente. 
-Bom dia, ursinha! - meu pai falou indo dar um beijo nela, todos chamavam ela de ursinha. Foi um apelido que eu dei e acabou pegando. - Bom dia, filha! - beijou minha bochecha e sentou novamente em sua cadeira.
-Bom dia, Clara e olá, Beatriz! - Alex falou e eu não respondi. Botei ela na cadeirinha que estava do lado da cadeira em que estava sentado.
-Oi Aex. - falou dando um sorriso fofo pra ele. Aquilo me deixou mega irritada. Minha filha nem conhecia ele e já estava encantada. A empregada entregou a mamadeira dela e seus biscoitinhos. E eu me servi. Ficamos em um silêncio sufocante. Alex me observava as vezes, mas ele não parava de observar a menina. Parece que queria lembrar de cada gesto dela, arregalava os olhos em certos momentos, parecendo estar surpreso.
-Bom, o papo está ótimo mas eu quero sair com a minha netinha hoje! - ironicamente meu pai falou levantando-se e vindo em direção a Beatriz. - Ursinha, quer ir na sorveteria com o vovô?
-Quelo xim.
-Tchau meu amor, mamãe ama você! - dei um beijo em sua bochecha e ela sorriu.
-Nene ama a mama! - falou e eu sorri que nem uma idiota. Ela me deixava mais encantada toda vez que falava que me amava mas sempre vinha o arrependimento e uma dor que não se comparava a nenhuma outra.
-Bejo Aex. - esticou o rostinho pra ele que deu um beijo estalado na sua bochecha.
-Tchau princesa, nos vemos em breve! - Alex falou e eu senti uma grande ameaça nessa frase. Não quero que ele conviva com a minha filha.
-Tchau pessoal e tentem conversar direito. Pensem nela, ok? - meu pai falou e saiu. Até meu pai! Logo depois que eles saíram Alex virou e ficou me encarando.
-Vai ser por bem ou por mal, pequena Clara?
-O que deseja, Alex?
-Conversar com você! - falou dando de ombros. Observei que a empregada tentava prestar atenção na nossa conversa e estava meio bobona com a aparência de Alex. Ele era realmente muito bonito.
-Vamos para outro lugar!- levantei me encaminhando para o escritório. Alex veio atrás e sua classe pra andar estava me distraindo. Sentei balançando a cabeça e ele sentou na minha frente com sua aparência falsa de sempre. Nunca mais vi aquilo sorriso perfeito que ele me deu na noite que nos conhecemos. Eu agradeci por isso, porque aquele sorriso era capaz de destruir minha fortaleza.
-Pode falar.
-Porque não me contou que estava grávida? - perguntou e eu engoli em seco. Ele era direto mesmo.
-Porque tivemos uma conversa e você disse que não queria filhos. E eu não queria que minha filha fosse rejeitada antes mesmo de nascer ! - falei e o arrependimento apareceu. Eu mesmo tinha feito isso.
-Você não tinha esse direito Clara, eu perdi várias etapas da vida da minha filha e tudo porque você achou que rejeitaria uma criança. Eu posso ter todos os defeitos do mundo, mas nunca faria isso! - 
Falou nervoso.
-Você nunca quis ser pai, eu só respeitei um desejo seu!
-Eu nunca tive nada que eu amasse de verdade, nunca fiquei tão empolgado na minha vida com nada até eu me tocar que Beatriz era a minha filha! - falou parecendo ser sincero. Fiquei em silêncio observando ele. - Você não podia ter feito isso! - levantou e começou a mexer nos cabeços. Eu continuei em silêncio. - Não vai falar nada?
-Você também é culpado!
-Culpado de que Clara? Por não ter adivinhado que você estava grávida de um filho meu? Desculpe, mas eu não sou adivinha e nem tenho bola de cristal. - falou se alterando.
-Tanto faz, você nunca vai carregar a dor que eu carrego. Você nunca vai ter medo de perder a Beatriz, porque o sofrimento que eu passei quando ela nasceu você nunca vai passar!
-Tudo por culpa sua! Você não me contou e eu poderia estar ao seu lado e te ajudar com essa dor... E medo de perder a Beatriz? Tive desde do momento em que você tirou ela dos meus braços no casamento! - suas palavras estavam me surpreendendo.
-Você não vai mais me privar de viver com a minha filha, entendeu?
-ELA NÃO É A SUA FILHA ALEX, ELA É MINHA FILHA... EU SEMPRE FUI MÃE E PAI DELA. NÃO QUERO QUE ELA CORRA O RISCO DE SE APEGAR A VOCÊ E DEPOIS FICAR CHORANDO PORQUE VOCÊ SUMIU! - gritei, aquele papo já estava me cansando. Eu já tinha muita coisa na cabeça pra ficar ouvindo Alex.
-Eu nunca vou me afastar dela, e se você não me deixar participar por bem da vida dela eu vou entrar na justiça e quem sabe eu não consiga a guarda definitiva da minha filha.
-Isso é uma ameaça, Alex Monteiro?
-Claro que não, longe de mim fazer ameaças. É só um aviso! - falou me dando um sorriso cretino. - Vai ser por bem ou por mal, pequena Clara? - perguntou e eu fiquei pensativa. Será que faria mal a ela conviver com Alex? Vou tentar a sorte.
-Você pode conviver com ela... Mas se machucar a minha filha, eu te mato com as minha próprias mãos! 
-Nossa filha! - me corrigiu.
-E eu não quero você perto de mim e muito menos a sua noiva perto da minha filha.
-Eu não faria isso com a nossa filha, se eu que sou adulto não aguento a Amélia, imagina uma criança?
-Ok, já conversamos o que tínhamos pra conversar.
-Verdade, eu volto a noite pra contarmos pra ela! Tenho que ir para o escritório agora! - falou levantando e indo em direção a porta. - Até mais, pequena Clara! - saiu do escritório e eu dei um suspiro aliviada.