Bexley Tales - O Caso dos Girassóis Cinzas e os Olhos de Sangue

CAPÍTULO 1 - Toda Garota Quer

Capítulo 1 — O Que Toda Garota Quer

Aquele espaço era apertado e compacto, embora uma fina corrente de ar parecesse nutrir a estrutura e atravessa-la como se ela fosse infinita.

Galatia Gray não sabia como tinha chegado ali, mas sentia que conhecia o lugar com uma certa intimidade, como se já tivesse estado ali antes.

Ela também teve a certeza de que o lugar estava mais escuro do que de costume, mas como sempre, não era o escuro que impedia que ela enxergasse com clareza.

E então aconteceu — como sempre acontecia — ele apareceu e Galatia se lembrou de tudo.

Galatia se lembrou de tudo no instante em que ele agarrou seu braço. No instante em que seus olhos encontraram aqueles olhos tão perniciosos. No instante em que a cena que a assombrou desde a infância ameaçou acontecer de novo, como sempre acontecia toda as vezes em que ela tinha pesadelos como aquele, naquele lugar tão nefasto.

Como sempre, ela não conseguiu reagir, se mexer, nem falar.

Mas antes que o pior pudesse acontecer — como sempre acontecia — Galatia Gray passou os olhos pela escuridão, até parar em um ponto estranho. Um vértice no meio do nada, onde uma menina a encarava de forma fixa.

E lá, sentada como uma boneca de porcelana, com uma expressão com tão pouca cor quanto vida, estava Pao-Tsu Pang.

— Pao...? — Galatia murmurou, quebrando mais uma regra costumeira de seu pesadelo, com os braços ainda envolvidos pelas mãos tão duras dele.

Mas antes que ela pudesse tentar entender aquela anomalia em seu devaneio tão comum, Galatia Gray despertou de seu sono em um pulo, e voltou à realidade que a envolvia em sua casinha verde limão de telhado amarelo, no delicado Bairro dos Limões, na cidade de Bexley.

Enquanto apalpava o próprio pulso, o qual ainda parecia latejar, Galatia Gray pegou-se perguntando por que diabos Pao-Tsu Pang, sua colega da escola, tinha aparecido do nada naquele sonho sempre impecavelmente recorrente.

Não achou resposta.

Portanto, como estava menos ansiosa que costumava ficar quando sonhava com ele, seu sono no meio daquela madrugada conseguiu superar sua curiosidade, e a menina voltou a dormir em minutos.

Talvez, se ela pudesse ter previsto todos os eventos que transcorreriam nas próximas semanas, teria preferido seu velho pesadelo de sempre, sem a imagem de sua colega de sala quebrando a harmonia daquele sonho tão infeliz.

Bairro dos Lustres

O vento da meia-noite percorria outra porção da cidade de Bexley com expansionismo, interrompendo o silêncio típico do pequeno município em Vermont e cortando as vastas plantações de girassóis cor-de-rosa, típicos da região.

O céu moreno e sinistro, por sua vez, se escondia atrás de uma pesada massa cinza de neblina úmida e destrutora, que incomodava os donos dos casarões do bairro mais luxuoso da cidade: O Bairro dos Lustres, como era apelidado.

Portanto, era nessa época do ano que os patrões gratificavam às governantas uma remuneração a mais para que estas fizessem um bom trabalho ao polirem os pilares góticos que mantinham aquelas mansões de pé, evitando assim, que musgos tomassem conta dos pilares.

— Eca...

Era nessa linha de pensando que o segurança noturno da residência Ashwood apoiava seu devaneio enquanto passava o dedo indicador por uma mancha verde pastosa que cobria um desses pilares.