9- O Silêncio gritante...

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Aiko


   Já era a terceira vez que acordava na mesma noite, não aguentava mais aqueles pesadelos e ter que reviver a mesma cena toda noite. Toda vez que eu piscava os olhos eu podia ver as ondas agitadas e ouvir o som dos trovões no fundo.

   Abri os olhos pela milésima vez e lá fora ainda estava escuro. Eu não aguentava mais isso, bastava fechar os olhos e tudo voltava. Um clarão invadiu o dormitório e senti meu coração acelerar, olhei pela janela e lá fora a noite estava calma e a lua preenchia o céu com um sorriso. Nada de chuva.

   Era apenas minha imaginação me pregando peças, cada som, cada luz que entrava no quarto, tudo era motivo para me lembrar daquela noite. Meu corpo queria correr e achar um lugar seguro, mas a verdade é que não existe lugar seguro quando o problema está na minha cabeça. Eu sou o problema.

   Durante o dia era tão fácil de me distrair, passava as tardes com Leo no jardim e sempre tentávamos manter nossas mentes longe do que aconteceu naquele dia. A gente não estava pronto para lidar com isso ainda, talvez isso nunca aconteça e as coisas nunca voltem ao normal.

   Não sei quanto tempo fiquei presa nesses pensamentos, mas ouvi as outras pessoas se levantando e deixando o dormitório para iniciar o dia. Em pouco tempo fiquei sozinha, juntei todas as forças que me restavam e fui até o banheiro trocar o curativo da minha perna.

   O corte já estava bem melhor, não via a hora de tirar de vez os curativos e parar de tomar os remédios e chás. Meu corpo simplesmente não aguentava mais fazer a mesma coisa todo dia. Me olhei no espelho e me arrependi no mesmo instante, estava com olheiras enormes e estava mais pálida que o normal, meu cabelo estava preso num coque (que estava mais bagunçado que tudo já que os fios curtos viviam escapando) e resumindo minha visão: eu estava parecendo uma morta viva e a pior parte era que eu realmente me sentia assim.

   Lavei o rosto e voltei para a cama, meu corpo já estava dolorido por passar tanto tempo deitada na mesma posição, mas eu não queria sair... não hoje.

   Peguei o livro que estava na mesinha ao lado da cama e continuei a leitura. Ele contava a história dos maiores espadachins que já serviram o exército de Amprior, não eram muitos, mas eram incríveis. Estava ansiosa para começar a treinar, já sabia a arma que eu ia escolher: uma catana. Meu pai tinha uma na parede da sala e ela era linda, ele me contou que quando era mais novo aprendeu a manusear e era seu passatempo favorito.

   Não percebi o tempo passar, mas em algum momento eu terminei de ler o livro e acabei pegando no sono, mas dessa vez sem pesadelos nem sonhos, um sono calmo e tranquilo.

   Senti uma mão tocando meu ombro e uma voz feminina chamando meu nome, achei que estava sonhando outra vez até que abri os olhos.

   — Acorde querida.

   A voz da doutora Grace era tão doce e cautelosa que demorei alguns segundos para raciocinar o que estava acontecendo.

   Eu ainda estava na minha cama e olhando pela janela pude ver o céu alaranjado; acabei dormindo o dia todo.

   — Como você está se sentindo? — perguntou a doutora com uma certa preocupação.

   — Eu tô bem... eu acho — me sentei na cama e senti meu corpo pesar — o que faz aqui doutora?

   Ela não parecia surpresa com a pergunta e exibiu um breve sorriso na tentativa de aliviar minha pequena confusão.

   — Ao que fiquei sabendo, você passou o dia todo no quarto. Por acaso saiu para comer?

O Segredo Da IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora