O Segredo Da Ilha

2 - Perdidos na Casa dos Canibais.

Leo

    Eu preciso de ar... Respirar...

    Joguei meu corpo para o lado e coloquei tudo que tinha no meu estômago para fora, ainda sentia o gosto da água salgada queimar minha garganta e meu nariz. Tentei me colocar de pé e talvez, só talvez, eu tenha vomitado mais vezes, mas que isso fique entre nós. Olhei para o mar e olha só, eu estava vivo e com alguns arranhões no corpo. Eu vejo isso como um ótimo sinal, meus pulmões queimavam, minha boca tinha gosto de praia, o navio afundou na tempestade e eu estava sozinho no meio da praia e... O céu estava lindo, estrelas brilhavam e a lua cheia iluminava a praia.

    Nenhum sinal de tempestade ou de outras pessoas. Os destroços do navio estavam por toda parte e o mar ainda trazia algumas madeiras, minha roupa estava encharcada e minha cabeça implorada por uma soneca. Passei a mão pelo meu cabelo e senti algo quente, sangue... Ah que incrível, acho que não tem como piorar.

    Comecei a andar rumo ao nada, na esperança de encontrar Aiko ou a Maya. Se ainda estou vivo então elas também tinham que estar, era assim que as coisas funcionam. Sempre três, não pode ser dois ou um... vai ser sempre nós três.

    Eu devia ter pensado nisso, um navio velho. Que ideia genial, um navio antigo que estava caindo aos pedaços. Tudo culpa minha, se ao menos tivesse pagado mais caro nas passagens teria pego um navio melhor e mais seguro, mas não tinha como voltar atrás.

    Até pensei em gritar por ajuda ou sei lá, mas isso seria uma péssima ideia. Eu sou um alvo extremamente fácil, seria como anunciar um banquete. Segui em silêncio pela praia vasculhando as malas que achei pelo caminho e para minha grande sorte, nenhuma delas era minha ou das meninas. Hoje a sorte definitivamente está rindo da minha cara.

    Já estava cansado de tanto andar, minhas pernas imploravam por uma pausa e minha cabeça latejava de dor. Só queria me deitar e acordar daquele pesadelo, olhei em frente e em meio todo o caos algo me chamou a atenção. A luz da lua iluminava a areia da praia e no meio da bagunça de madeiras e algas, um ponto amarelo sol fez meu coração acelerar. O quimono de Aiko estava jogado na areia, peguei ele e procurei por algo mais ao redor. Meu olhar de caçador me dizia que aquilo na areia eram pegadas e não uma simples bagunça pelos destroços. Então eu segui o que deveria ser os passos de Aiko.

    Cogitei na hipótese de gritar seu nome, mas não sei se seria a ideia mais prudente. Segui o caminho em silêncio e atento ao meu redor (pelo menos o que a dor na minha cabeça permitia) e chegando próximo da floresta ouvi um gemido de dor seguido por umas palavras nada bonitas. Encostada em uma árvore, avistei um rosto familiar, Aiko. Não pude evitar de sorrir, mas ele sumiu assim que me aproximei e vi a expressão de do rem seu rosto. Ela chorava e tentava fazer alguma coisa.

    — Aiko — ela levantou o olhar e pude ver um certo alívio em seu rosto ao meu ver, me agachei ao seu lado e a envolvi em um abraço — Graças aos espíritos que você tá viva!

    — Fico feliz em te ver também Leo, mas cuidado aí — sua voz estava fraca e chorosa, me afastei dela e analisei a situação — eu tentei fazer alguma coisa, mas tá doendo muito. Pelo menos você achou meu quimono, na hora do desespero só tentei achar um lugar não tão aberto pra ficar.

    A voz dela era um sussurro ao longe, na sua coxa direita um pedaço de ferro estava a ponto de rasgar sua pele, devia ter cerca de 20cm. Não tinha como saber qual ponta havia entrado primeiro, mas as duas pontas estavam para fora. Independentemente de como iriamos tirar aquele ferro, ela ia sofrer de qualquer jeito. Sem contar o sangue, não parava de sair. O pouco de luz que tínhamos foi o suficiente pra saber que ao menos o ferro não estava fundo, por isso que quando eu digo que estava ao ponto de 'rasgar a pele' é porque realmente estava.