6 - Um dia após o outro...

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Aiko

    Se passaram dois dias desde que chegamos no castelo, quatro desde o acidente.

    Eu gostaria de dizer que já estou melhor, mas seria uma grande mentira. Todos os dias tenho que cuidar do ferimento na minha perna, já está com uma aparência aceitável e a dor diminuiu muito, porém a cicatriz vai ser enorme.

    A médica daqui é bem atenciosa e todos os dias de manhã tenho uma visita com ela, doutora Grace... um nome familiar que por algum motivo não conseguia me lembrar de onde.

    Nas consultas ela me entrega um pequeno pote com a pomada para minha perna e outro com erva-cidreira para fazer chá e tomar durante o dia, aparentemente ajudava nas dores e me acalmava (o que estava sendo de grande ajuda na hora de dormir).

   Passava a maior parte do dia sozinha pelos jardins ou na biblioteca lendo algo. Ainda não estava apta a começar os treinamentos e o que me sobrava era estudar as técnicas e os tipos de lutas na biblioteca. Meus irmãos se juntaram a nós no dia seguinte que chegamos e pareciam bem felizes apesar de tudo. A gente não se vê muito e devo admitir que sinto falta do Leo, mas evito ir ao refeitório já que não é sempre que sinto fome. Vez ou outra eu como alguns bolinhos na cozinha para evitar encontrar com a multidão de pessoas no refeitório.

    Quando entrei na enfermaria não avistei ninguém, ainda era cedo e bem provável que a doutora estivesse tomando café ou talvez nem estivesse acordada. Sentei em uma das camas e o silêncio era gritante. Olhei para minhas mãos e ao redor das unhas haviam vários machucados, Leo me acalmava quando isso acontecia, mas ele não estava tão presente nos últimos dias... Comecei a tirar as casquinhas que formava em alguns dedos e parei assim que o sangue começou a sair. Olhei para minha perna e o corte estava bem fechado, quando Leo tirou o ferro a pele acabou rasgando junto e unificou os dois cortes em apenas um.

    Ainda tinha resquícios da pomada que passei na noite anterior e a pele avermelhada começava a ficar roxa em alguns pontos, disseram que tive sorte por não ter atingido nenhuma artéria, nervo ou músculo importante... eu não chamaria de sorte. Uma única artéria rompida e toda a dor teria sumido. Não sei por quanto tempo fiquei ali perdida em meus pensamentos, mas ouvi alguém se aproximar com cautela.

    — Aiko? Oh céus, já não conversamos sobre isso? — era a doutora. Olhei para minha perna e um filete de sangue escorria do começo do corte de onde eu havia retirado parte da casca que o protegia — Aqui, vou limpar isso e vou enfaixar outra vez. Tudo bem? — apenas acenei em concordância.

    Deixei que ela fizesse tudo aquilo sozinha e apenas observei seus movimentos rápidos e cautelosos. O processo todo foi rápido e permanecemos em silêncio o tempo inteiro, não era algo constrangedor e sim tranquilizante.

    Havíamos concordado em tirar a faixa na manhã anterior para que cicatrizasse mais rápido e para a pele respirar melhor (ela que disse isso e aparentemente é importante), no começo foi tranquilo e eu evitava olhar. O problema veio quando eu comecei a passar a pomada e tocar naquilo. 'Ah Aiko, mas é sua própria pele não tem como ser um problema'... Claro que tem, cada toque era seguido por um calafrio e as lembranças do sangue tomando conta da minha perna e das mãos de Leo. Ainda podia ouvir meu grito abafado ecoando na minha mente e a cara de horror do meu melhor amigo, durante a noite eu chorei até pegar no sono e quando finalmente dormi... Aqueles gritos e toda a dor me visitou durante os pesadelos, acordei chorando e corri para tomar um banho... O problema é que não saía, estava ali vibrando em vermelho pelas minhas veias não importa o quanto eu esfregasse.

    — Pronto, no horário de almoço pode voltar aqui e eu vou fazer a limpeza pra você, combinado? — perguntou Grace.

O Segredo Da IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora