8 - A voz do além...

55 14 78
                                    

Leo

   Acordei depois de uma noite repleta de pesadelos, me disseram que com o passar dos dias eles iriam diminuir e uma hora parar de vez. Ainda estou esperando isso acontecer, porque até agora só consigo ficar cada vez mais confuso.

   Sai do quarto e fui em direção ao salão de treinamento, no começo achei que seria divertido aprender a lutar, mas eu estava totalmente errado. Estamos treinando a cinco dias e meu corpo não aguenta mais, perdi as contas de quantas flexões e voltas no salão fizeram a gente dar.

   Cada passo que eu dava na direção daquele lugar mais eu me arrependia, eu sei que tudo vem com treino e com o tempo as dores vão passar, mas aquele cara não tem coração. Tenente Theodric é a definição de dor e sofrimento, ele não tem piedade das nossas almas.

   Chegando no salão assim que abri a porta pude ouvir a voz do meu pesadelo real.

   — Não custa nada aceitar um jantar, afinal eu que vou pagar tudo. Impossível recusar um convite incrível desses. — Falou Theodric com um certo charme na voz.

   — Já disse que não e vê se para de falar sobre essas coisas aqui, estamos trabalhando caso você não saiba. — A voz de Anarin saiu baixa e irritada.

   Não precisava nem ver a cara dela para saber que estava com raiva e cansada dos convites de Theodric, eles trabalhavam juntos há anos e era bem visível a relação de amor e ódio entre os dois.

   Avistei os irmãos sentados do outro lado do salão e tentei me esgueirar até eles, mas não fui rápido o suficiente.

   — Está atrasado loirinho.

   Eu odiei aquele apelido e o tenente faz questão de me chamar assim todas as vezes.

   — Desculpe senhor, não vai se repetir.

   — Próxima vez que se atrasar receberá punição surpresa. — Sorriu ele.

   Não é como se ele fosse uma pessoa ruim, claro que não. Ele era ótimo em tudo e ensinou muita coisa para a gente nos últimos cinco dias. Ele era paciente e explicava tudo com detalhes e passo a passo, único problema era quando ele estava de mal humor.

   No segundo dia ele chegou de cara fechada, era a própria tempestade, os cabelos brancos eram trançados e ele usava sempre o mesmo penteado, um meio coque estilo samurai (vi umas imagens nos livros que Aiko estava lendo na biblioteca) o cabelo era grande o suficiente para isso, as tranças batiam pouco abaixo do ombro.

   O contraste entre o cabelo branco e sua pele negra era a junção perfeita para assustar qualquer um, equilíbrio perfeito.

   — Parem de brincadeiras, vamos começar logo isso. — Gritou Anarin com impaciência.

   Seguimos com o treino de luta e sinceramente? Posso dizer que sou um ótimo aluno, lutar com a espada não era tão difícil quanto parecia e Anarin nos disse que teríamos de aprender a manusear a espada com as duas mãos. Kenji, irmão mais velho de Aiko, se saiu super bem (ele sempre treinou esgrima como um passatempo, já que queria entrar para a guarda um dia). Tatsui, o irmão do meio, já não se saiu tão bem, não conseguiu se adaptar aos treinos e pensou em desistir, mas Theodric disse para ele seguir em frente e não desistir tão fácil assim.

   Não preciso nem dizer que me sai incrivelmente bem, não que eu queira me gabar, mas tenho talento para isso. Manusear a espada em ambas as mãos foi extremamente fácil e Anarin deu a ideia de usar uma espada dupla, até então eu me sai bem. Não é tão complicado associar as duas lâminas, pelo contrário, meu cérebro se adaptou bem até demais.

O Segredo Da IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora