Capítulo XII

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Fiquei parada em frente a porta, por alguns minutos que, pareciam uma eternidade.

O toque quente de sua bochecha contra a minha, dá lugar ao vento gelado, fazendo-me acordar do transe.

Entro em casa e recebo com agrado o ar quente e úmido proporcionado pela lareira que papai fez na sala.  A temperatura deve ter caído alguns graus enquanto estive parada na varanda, pois não recordo-me em estar sentindo frio.

Decido ir até a cozinha e tomar um copo d'água,  minha garganta arranha de tão seca. Não sei se sairá voz quando resolver falar.

Não sei se quero falar. Só quero ficar recriando o momento que acabará de acontecer. 

Estarei lá para te segurar caso você caía.

Não estou apaixonada. Não gosto dele. Mas a sensação boa que ele me passou hoje, foi o suficiente para acordar as borboletas que estavam adormecidas em meu estômago.

Abro a gaveta do meu quarto, pego meu pijama e meias, afinal, está um pouco frio, e sei que as noites gaúchas não são lá muito calorosas.

Demoro no banho, mais uma vez deixo a água percorrer meu corpo, deixando marcas vermelhas, trazendo fervor ao corpo gelado.

Deito-me, sabendo o quão impossível seria dormir e no quão difícil seria acordar e perceber que, aquelas palavras tão sonhadas foram ditas, em um possível sonho.

Mas sei que dessa vez não sonhei. Os cheiros e as imagens que senti e vi continuavam intactos em minha mente. Olhe só para você Nat, estás apaixonada e não quer admitir.

Admitir. Admitir o que quando tudo o que ele disse não passa da mais pura verdade? Por que admitir, quando já está estampado na cara?

"Estampado na cara" será mesmo?  Será que quando caminhamos nas ruas, as pessoas sabem que estamos apaixonados?  Ou que temos medo de “se jogar de cabeça”? Sabem elas, que a certeza de se machucar é mais certa do que a certeza em dar certo? Será que elas sabem ao cruzarmos pelas esquinas, que aqui dentro pulsa algo que acredita desacreditando?

Desacreditar.  É isso que acontece. Por muito tempo acreditara que amor era algo com que não se podia lidar.  Algo que quando chegasse seria tão arrebatador que, me faria ver o mundo e as pessoas com outros olhos. Seria o tempo em que eu iria entender o que nunca fora entendido por mim até então. Que iria me fazer chorar e rir ao mesmo tempo.  Que me faria sentir saudades e ao mesmo tempo estar longe.

Talvez o amor seja mesmo isso. Mas não chegou perto do que já sentira. Comecei a acreditar que não fui feita pra amar, e o que foi destinado a mim foi, ter o coração fraco e me apaixonar por qualquer rapaz.

Esse é o problema. Apaixono-me como quem troca de roupa ao se sentir sujo. Ou na mesma quantidade de vezes que alguém escova os dentes após comer.  Muitas vezes.  E o pior não é isso, o pior é se apaixonar e achar que tudo vai bem, achar que dessa vez vai dar certo. Que o final da história será um final feliz, e não mais um final triste desse que estou acostumada.

Mas como acreditar em alguém novamente? É muito mais fácil falar que sim, você conseguirá se apaixonar, que você vai amar de novo. Mas porque tão difícil por em pratica? Por que tão difícil fazer seu coração aceitar que dessa vez será diferente? Que é só tentar?

Vou estar lá para te segurar caso caia.

Essa frase ecoara na minha cabeça, até não fazer mais sentido. Como se fosse aquela palavra que depois de falada repetidas vezes perde totalmente a graça. Não consigo entender o que Lucas queria  ter dito com essa frase.

Posso entendê-la de diversas maneiras. Talvez ele me queira como sua. Queres ter-me como  nunca quis ter outra pessoa, quer me olhar como nunca olhou uma mulher. Quer amar-me como nunca amou. Ou talvez, Lucas seja como o Rafael, que quer ter a minha amizade e nada mais. Posso confundir tudo e me iludir como sempre, ou posso tentar esquecer a noite que tivera e começar o amanha de um jeito diferente.

Olho para o relógio e me espanto, são quase quatro horas da manha e ainda não dormi. Deito-me de um jeito desconfortável e pergunto-me será que o Lucas conseguiu dormir?

Acordo as sete, três horas após conseguir pregar os olhos. Pego o telefone e ligo para o Rafael, ele disse que se eu precisasse de algo, poderia ligar.

O telefone chama. TU.... TU ... TU... estou quase desistindo quando a voz sonolenta do Rafael atende ao telefone.

- Me diga que ninguém morreu. Tô exausto demais para comparecer a um velório.

- Bom dia, bela adormecida, estou com problemas ou soluções. Já te contei do Lucas?

- O estagiário mudo que trabalha com você? Sim já falou. O que tem ele?

- Me levou pra jantar Rafa, disse uma coisa mais ou menos assim: você tem medo de se jogar de cabeça, e o final foi, vou estar lá para te segurar caso você caia. Achas que ele esta apaixonado ou algo relativo a isso?

- Não saberei te responder, rapazes são tão previsíveis. Talvez ele fale isso agora, pra te conquistar. Mas e depois? Mas também não posso negar que possa ser verdade, e que ele goste de você.

- É também havia pensado nisso. Obrigado Rafa, volte a dormir.

- Bah guria, é óbvio que irei dormir. Fique bem, se cuida.

Chego ao trabalho mais cedo que o normal. E espanto-me. A bicicleta do Lucas já está lá, e ele está parado em frente ao hall de entrada, com um cigarro acesso entre os dedos. Tento tirar o pensamento da cabeça, mas deixo que ele crie liberdade e uma voz na minha mente diz

Incrivelmente atraente. Absurdamente sexy.

Pensamentos logo cedo. Preciso dormir. Preciso sair dali e não dizer ...

- Bom dia Lucas, caíste da cama?

- Na realidade Nat, não dormi. Fiquei pensando em tudo que aconteceu ontem. Deves me achar um tremendo bobão, em falar uma coisa dessas e, sair sem dar explicação. Deveria ter ligado, mas não tenho seu número. Poderia ter voltado e batido em sua porta, mas minha cara não era uma das melhores.

- Lucas, podemos esquecer o que aconteceu ontem, se é isso que você quer.

- Não quero esquecer Nat, não quero. Podes achar o que quiseres, mas eu sei o que eu estou sentindo. Na verdade eu não sei. É tão futil falar. Porque nunca saímos e aparentemente você me detesta. Mas acredito que, estou a amar você. Você vicia mesmo não querendo viciar. É pior que o vicio em cigarro. E eu nunca cheguei perto o suficiente pra saber como esse vício realmente é. Quero decifrar a pessoa que se diz totalmente indecifrável.

- Espero que a droga que você esteja usando seja forte, e com efeito duradouro Lucas.

- Não uso drogas Nat, a não ser que essa droga se chame paixão. - diz ele se aproximando cada vez mais.

- Lucas, pare. - digo sentindo seus dedos gelados tocarem meu rosto. - Pelo amor de Deus guri, estamos no estacionamento.

- Nat - diz Lucas aos sussurros. - Eu só quero amar você.

Sinto sua respiração mais próxima da minha, seus dedos percorrem as maçãs de meu rosto. Fecho os olhos, sentindo um formigamento a cada toque. Fecho os olhos, esperando o momento que seus lábios toquem os meus pela primeira vez.

Apenas uma questão de tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora