Capítulo I

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Eu poderia ter todos os defeitos do mundo, poderia mesmo. Mas sabe qual o defeito que devastou sobre mim aos vinte anos? Apaixonar-me rápido demais.

Ah, qual é? Que atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou pelo vizinho que aparecia sem camisa na janela TODA vez que você "inventava" de por a cabeça pra fora, para poder pegar um arzinho? Tudo bem que eu ando me apaixonando até pelo carinha do ônibus, ou aquele que insiste em esbarrar comigo na fila do pão na padaria.

Pode ser crise da meia-idade, pode ser o fato de todas as minhas amigas estarem namorando, mas não dá mais, tá na hora de focar a cabeça em algo que não seja a essência do perfume do cara super fofo e com um sorriso lindo de viver (viver mesmo, não morrer).

O fato é que estou tão preocupada em morrer sozinha, que nem tive a decência em me apresentar. Meu nome é Natalie, não Natália. Incrível como as pessoas inventam de me chamar de Natália! Credo nunca em hipótese alguma me chame assim. Natália era uma menina insuportável que estudava comigo lá no ensino fundamental, mais conhecido como "o lugar onde podemos fazer amizades que serão eternas", até o dia em que a Natália, loira, olhos azuis, inventa de roubar o meu Pedrinho! O menino mais simpático da minha cidade, aquele que todas as mães sonhavam em ter como genro. Preciso dizer que o Pedro foi a minha primeira decepção amorosa? Não né? E eu só tinha oito anos! Foco Natalie, foco.

Trabalho como recepcionista em uma clinica odontológica. Não é um dos melhores trabalhos do mundo, mas dá pra pagar a mensalidade da faculdade de Administração. Não dependo dos meus pais desde o dia em que decidi sair de casa, aos dezoito anos e morar com duas amigas: Sophia e Manoela. Na verdade, fui morar no apartamento da Manu, pelo simples motivo de não ter gastos com o aluguel, ajudando apenas nos gastos do condomínio e nas compras do mês (sim, dava no mesmo morar com meus pais, mas sabe quando você quer se tornar independente? Então). Sobra até dinheiro pra ir a balada e afins. Não que eu seja de sair, muito. Eu até saio junto com as meninas, sabe? Mas depois de tantas decepções, um pote de sorvete e um filme de cortar o coração estão de bom tamanho. Mas tem que ser aquele filme triste mesmo, nada de comédia romântica e todos aqueles clichês. Ei, eu acredito nisso ainda, mas não quero que até um filme jogue na minha cara que não vivo os amores dramaturgos. É como minha mãe sempre diz: nada acontece por acaso, tudo é obra do destino. Incrível, acabo de abrir o dicionário, e a página que deveria estar essa palavra, adivinhem está faltando. Resumindo, nem o destino colabora comigo.

Como estava dizendo, reservo as sextas-feiras para assistir um bom filme de cortar a alma e de chorar horrores. Tudo fica ainda mais belo, quando estou naqueles dias em que ficamos chorosas e frágeis. Foi numa sexta como está em que me esqueci de comprar o pote de sorvete, que conheci o Murilo, o causador da grande mudança na minha vida.

Apenas uma questão de tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora