Capítulo XVIII

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Eu sei que alguém morreu. Ela não para de chorar desde que chegou. Dona Catarina, Maria, Elisangela não sei. Só sei que alguém próximo morreu. Não sei o que falar, até porque nunca perdi um ente querido, ou ninguém que me fizesse chorar.

Mas aquilo estava me atormentando, era uma choradeira sem fim, e eu, não conseguia falar nada. A voz não tomava forma, e tudo o que eu conseguia fazer, era olhar-lhe com a cara um tanto quanto espantada.

Tomo coragem e me aproximo. Tenho que falar algo, nem que for alguma merda, que a faça rir, ou uma merda tão grande que a faça chorar, mas eu preciso falar.

- Ela não iria querer ver você chorando. -digo

- Você já perdeu alguém, Lucas? Sabes o que é isso? Saber que a pessoa nunca mais voltar? Que ela partiu sem dizer adeus?

- Não, mas estou prestes a perder. Isso se tem como alguém morrer de tanto chorar.- digo, arrependendo-me em ter puxado assunto.

- Você está falando sobre mim? Eu não entendo você. Um dia quase me beija, no outro me deixa falando sozinha, hoje nem falou comigo. E agora vem com esse papo. Explique Lucas, o que você quer. - diz Nat, numa torrente de soluços.

- Você não saberá nada sobre mim, Nate. Saberás apenas o essencial. Não há porque contar. Não sou um livro aberto como você. Apenas não, já sabes o que precisa.

- Não, não sei. Eu preciso saber quem és. Não esse fantasma que perambula pela minha sala. Você não é apenas isso.

- Sinto muito, mas ou é isso, ou nada. - digo, levantando-me

- Sinto muito Lucas, mas já passei do tempo de ficar fazendo joguinho com os sentimentos dos outros. Não quero um fantasma. Se me deres licença, tenho algumas coisas a fazer. -diz Nate, seguindo em direção a porta.

- Tudo bem, Nat. A decisão é toda sua.

- Não há decisão, não tínhamos nada Lucas.


"Não tínhamos nada, Lucas."

É ridículo o que leras agora, mas eu simplesmente cheguei ao apartamento, arrumei minhas coisas (em poucas malas, não havia muita roupa para arrumar), ligo para meus pais, avisando que voltarei à São Paulo na tarde seguinte, e que iria para ficar.

- Mãe, estou voltando, não, não. Mãe, apenas escute, estou voltando e não vou passar apenas alguns dias, vou para ficar. - digo.

Desligo o telefone sem me preocupar em o que minha mãe deve estar pensando, apenas desligo e faço uma ligação, Celson.

- Alô, Celson? Estou ligando para pedir demissão. Eu sei, é estranho. Mas não há porque continuar. - digo antes de ser atrapalhado por Celson.

- Lucas, meu caro, estas apaixonado por Natalie? - diz Celson

- Estou, completamente apaixonado, mas não quero ficar aqui. É eu sei... eu sei, me demonstro um perdedor, eu sei, mas porra! Eu não aguento, preciso de novos ares. - esbravejo, era só o que me faltava estar recebendo lição de moral via ligação internacional.

- Tudo bem, tudo bem Lucas, faça o que quiser. Saibas se quiser voltar, a porta da contabilidade estará de portas abertas. Diga a Natalie, que voltarei o mais rápido possível, em dois dias, estarei em Gravataí.

- Claro, passarei o recado. E obrigado Celson, obrigado mesmo.

- Disponha guri, seu trabalho é excelente, lhe desejo toda a sorte necessária para atingir seus objetivos.

Mais uma vez desligo o telefone e continuo a arrumar minha mala. Contar a Natalie não será fácil, mas tenho que fazer isso. Decido, ir mais cedo ao escritório na manhã seguinte. Ligo para a companhia área e consigo uma passagem para São Paulo, as pressas.

Deito durmo rapidamente, acordando apenas com o relógio tocando as sete da manhã. Levanto-me, tomo um café rápido e sigo ao escritório. Natalie chega quase uma hora após minha chegada.

- Olá Nat, como você está? - digo

- Estou um pouco melhor, vai passar. Na verdade, tentei não lembrar o que aconteceu com a dona Elisabeth, desde a hora que sai daqui.

- Claro, claro, que a cabeça a minha. Obvio que não deves pensar nisso. - digo, esquecendo do ocorrido

- É, faz tempo que estas aqui?

- Na verdade, faz sim. Quase uma hora. - digo com um sorrisinho triste nos lábios.

- Poxa, mil desculpas, mas decidi vir de condução hoje. Deverias ter me ligado. Assim, viria de carro. - Nat diz.

- Não, Nat, tudo bem. Só vim mesmo, para pegar uns papéis, estou de saída.

- Ah, sim! Temos aquela reunião essa semana, não é? Você ficou de preparar as coisas fora do escritório. - Natalie diz, alisando os cabelos.

- Na verdade não. Não estou aqui pra pegar esses tipos de papéis. Vim buscar as minhas coisas Nat. Estou indo embora. Vou voltar para São Paulo, hoje à tarde. - digo, olhando sua cara de assustada.

Natalie por sua vez, não diz nada. Apenas abre o escritório, e vamos direto a sua sala. Em meio aos silêncios, ela finalmente pergunta:

- Celson já sabe dessa sua partida? -

- Sim, comuniquei ontem à noite. Ele deve estar chegando de viajem amanhã. Comprou uma passagem às pressas. - digo

- Nossa você realmente pensou em tudo. - Natalie diz ironicamente.

- Não, Natalie. Eu não pensei. Não quero pensar em nada nesse momento. Quero deixar que a razão fale por mim, como sempre aconteceu. Não tenho nada que me prenda aqui. Gosto das cidades, das pessoas. Mas nada que me motive. Eu não tenho nada.

- Compreendo perfeitamente. Vou te deixar a sós com a sala, assim você poderá se despedir sem nenhum incômodo. Mas Lucas, antes de ir embora, me chame? Por favor.

- Claro. Chamarei. - digo, forçando um sorriso.

Não demorei muito para arrumar minhas coisas, uma caixa e todo meu material de trabalho estava arrumado. Vou até a recepção, onde encontro Nat.

- Natalie, estou me despedindo. Meu voo para São Paulo irá partir as quatorze horas. Deixei alguns papeis para te auxiliar, não são tantas coisas, mas podem ser de grande ajuda.

- Muito obrigada Lucas. Não entendo o motivo repentino de querer ir embora. Mas não irei questionar você pode fazer o que quiser. Entretanto, quero que saibas o quão grata sou pela sua ajuda nesses meses. Espero que as coisas se resolvam e que talvez um dia possamos tomar um café juntos. Você foi um grande amigo, gostaria de manter contato, se possível. - Natalie diz, seus olhos estão cheios de lágrimas. Por favor, não chore.

- Nat, sei que tudo pode parecer tão ridículo, tão mesquinho. Mas eu preciso desse tempo. Necessito de ar puro. Quero trabalhar nos meus projetos e, claro, claro que podemos nos ver. Você poderá ir a São Paulo quando quiser.

Aproximo-me e abraço-a. Um abraço duradouro. Ficamos abraçados por algum tempo, então solto-a e digo:

- Se cuida, prometa que vai se cuidar. Beijo sua testa e saio em direção à minha bicicleta.

Natalie não me segura, muito menos me impede de tal feito. Passo o restante da manhã esperando uma ligação, ou que ela apareça em meu apartamento, mas nada. Resolvo almoçar no aeroporto e esperar para fazer o check-in. Ao fazer o mesmo, por volta das 13h20min, descubro um acento vago em um avião que terá com destino São Paulo. Não tenho nada a perder, ela não veio. Não deu sinal de preocupação, não que esperasse isso. Apenas realidade de que o sentimento só era meu. Apenas e unicamente meu.

Preparo minha passagem e encaminho-me para a pista de voo, sem olhar para trás.

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⏰ Última atualização: May 13, 2015 ⏰

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