EXTRA 4

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Carolzinha: Flor! Certamente que o Harry não é burro de não perceber as intenções do Draco, hehehe, mas quem disse que isso o impede de cair na "armadilha do loiro", certo? Obrigada pela review! Beijos!
S

. R. Malfoy: Oi, querida! Digamos que o Draco apenas está colocando mais ênfase em seus movimentos, gestos e olhares naturais, e usando-os para atrair a atenção do Harry. hehe! Ele não precisa se esforçar muito também, por ser naturalmente lindo e inocentemente sensual, tanto que o Harry sempre precisou de um autocontrole devastador para se manter na linha... E o Harry sempre esteve de olho no Draco, imagina se iria deixar o garoto tão solto assim, ahahah! A Pansy na verdd só exigiu uma soma exorbitante de dinheiro para ir para cama com o Blaise, tanto que surpreendeu por ele aceitar tão facilmente a 'troca', hahaha! Espero que goste do extra! Beijos!
Loola: Obrigada, querida!
Summer A: *Mila se esconde* Ah, nem terminei o cap. de forma tão má no anterior! Mas no próximo cap, acho que você vai querer muito pular no meu pescoço pela forma que vai acabar, erm... *Mila se esconde desde já* Fico feliz que você goste do Mordred tanto quanto eu! E o Draco vai continuar fazendo sua lição de casa direitinho, até um livro sobre o assunto a Pansy conseguiu para ele, hahaha! O epílogo será narrado pelo Harry, aí, com sorte, o entenderemos um pouco melhor! Obrigada pela review! Beijoooos!
Larissa: Oi, flor! Tb também tenho um carinho enorme pelo Blaise, ele e o Draco formam uma dupla muito fofa de amigos! E o lemon virá, muito, muito em breve, hahaha! já até demorou demais, né? Acho que essa foi a história que eu mais demorei para colocar um Lemon, Androgyny tinha um a cada capítulo praticamente, hahaha! Ah, e pode apostar que o Draco tb ficou com um gostinho de quero mais depois de quase ser agarrado na calada da noite! xD Beijos, obrigada por comentar!
InoMx: Extras no meio para acabar com a sanidade dos leitores *corre* mas prometo altas emoções nos próximos capítulos, hehehe *risada safada* E o Seamus é um mala mesmo. kkkkk! Beijos, amada! Obrigada por acompanhar!
Anabelly: Oi, fofa! Poisé, né, a Pansy poderia ter dado umas aulinhas mais cedo pro Draco, mas parece que as boas ideias sempre demoram mais do que deveriam para surgir, hahaha! E pode deixar que o Draco vai caprichar na sedução, tanto que o Harry não vai conseguir se aguentar por nada de tempo mais... Ah, sobre os extras, minha intenção nunca foi dar muuuuito foco aos dois. Para você ter ideia, eles tinham só dois extras antes, mas como vi que o pessoal estava gostando, dei uma melhor elaborada neles, hehehe! Beijos, obrigada!

Era uma Vez em Veneza

EXTRA .4.
E

le passou a vir sempre. Talvez ainda mais seguido, mas mesmo assim, mesmo que todas às vezes eu me rendesse em seus braços e deixasse que ele tomasse meu corpo, eu sentia que havia um abismo intransponível entre nós. Ainda que, ao longo daqueles três anos, eu acreditasse piamente que poderia doar minha alma a Marino Romanowski sem medo de tê-la quebrada em minhas mãos em retorno, havia momentos nos quais eu tinha medo que ele simplesmente sumisse, sem explicações, e não voltasse. Porque ele sempre sumia, na verdade, mas também sempre voltava. E como era difícil viver assim.
Mas que direito eu teria de me intrometer em sua vida? Que direitos sobre seus atos eram esses que eu achava que possuía? Eu era apenas seu boneco de luxo. Ele vinha, usava-me, elogiava-me, dava-me presentes, mimos, carinhos, palavras de afeto. E eu lentamente cedia, tentava fugir, mas era inútil. Eu era dele. E invariavelmente, me apaixonei. E depois passei a amar. E com o amor outros sentimentos apareceram, como o ciúmes, a possessividade, a angústia, a entrega, o desejo.
Acho que percebi que não poderia aguentar mais aquela situação quando ouvi Pansy e Draco conversando sobre sexo, sedução e Harry Potter. Eu estava lendo um livro, mas mantinha meus ouvidos atentos aos dois. Era inacreditável que, depois de tanto tempo, Draco continuasse tão inocente. Sua ingenuidade fez com que eu me sentisse depravado, pois para mim, tudo era lógico, óbvio e natural. Meus traumas eram distantes, ainda que me atormentassem algumas vezes; eu sentia repugnância quando algum cliente tentava mexer comigo, e agradecia silenciosamente ao Marino por me manter exclusivo ao longo dos anos.
"Andrej! Andrej, mostre ao Draco como comer uma uva da maneira certa." Pansy chamou. Ergui as sobrancelhas, achando o pedido engraçado. Não era como se eu treinasse como comer uvas para provocar desejos eróticos nos outros, mas entendi que ela queria uma boa dose de malícia – que parecia inexistir em Draco – naquele simples gesto.
Me aproximei, reparando nas bochechas coradas do meu amigo. Impressionante como continuava adorável, mesmo com a perda de seus traços infantis. Ainda parecia um anjo, um anjo mais alto e com um corpo tentador em sua definição esguia. E agora Pansy o queria transformar em um anjo do despudor.
Sentei ao seu lado e peguei uma uva. Olhei diretamente em seus olhos cinzentos, de um brilho suave, e mordi lentamente a fruta. Seu olhar se desviou e eu sorri. Senti ímpetos de abraçá-lo e beijá-lo. Ainda sentia uma conexão forte entre nós, um elo que jamais iria se desfazer. Aos poucos eu havia entendido que meu amor por ele era fraternal, especial, puro. Éramos realmente como irmãos, como ele havia dito há muito tempo.
E então, depois de morder uma uva, algo mudou em mim. Eu vi Draco querendo conquistar aquele que amava em silêncio por tempo demais, e quis também conquistar aquele que invadira meu coração sem permissão, derrubando as muralhas defensivas que eu havia construído e trocando-as por algo mais macio, terno e forte. Por vezes, eu me irritava de ter permitido que ele fizesse isso comigo, mas não havia mais volta. Eu estava cansado de sofrer, queria ser protegido e amado em retorno.
"Andrej. O que foi? Você parece distante." Daphne se aproximou e tocou meu rosto, horas mais tarde, quando nos arrumávamos no quarto dela.
"Você acha que eu sou alguém que vale à pena amar?" Perguntei, segurando sua mão e olhando para baixo. Achava engraçado como eu agora era mais alto do que todas as meninas da casa, e também mais do que alguns dos rapazes. Isso me fazia ver como o tempo era implacável.
Ela encarou-me surpresa pela pergunta.
"E por que não seria?" Era uma mania sua sempre responder com outra pergunta. Dei de ombros, voltando a me arrumar. "Você é o rapaz mais bonito desse bordel..."
Achei o comentário estúpido e não liguei para suas bochechas ruborizadas. Segurei seu queixo e fiz com que me olhasse.
"E você é possivelmente a mais linda, junto com a sua irmã. Isso te faz sentir digna de ser amada?" Minhas palavras soaram duras e eu a abracei ao ver seus olhos lacrimejarem. "Às vezes você consegue ser tão tola..."
"Cale-se, idiota!" Escondeu o rosto no meu peito. "Nem todos têm a sorte de ser exclusivo, de ter um amor como o que o Sr. Romanowski tem por você!"
"Não diga coisas que não sabe..."
Ela se afastou e me encarou com raiva, a maquiagem delicada manchada pelas lágrimas não seguradas.
"É claro que eu sei! Você acha que ele ainda estaria com você por tanto tempo se fosse apenas desejo? Acha que lhe traria presentes caros, o abraçaria à noite, diria palavras ternas, o trataria com tanto carinho? Andrej, você não faz ideia de como um cliente de verdade realmente é! Eles te usam e te jogam fora, é assim que é e eu nunca ousei reclamar, mas você... você tem alguém especial e só sabe se deprimir com isso!" Ela apertava os punhos e tremia e pude entender que, em silêncio, sofria com a vida que levava. Não era assim no início. Talvez alguma desilusão amorosa tivesse terminado com suas fantasias de jovem apaixonada, ou o simples fato de ver os anos de sua vida escorregando por seus dedos em um lugar cujas noites eram uma repetição incessante de pinturas de falsos amores.
"Se ele me amasse, não seria tão intransponível, como se guardasse segredos que nunca poderá compartilhar. Se me amasse, ele largaria tudo para ficar comigo e me tiraria daqui!"
"Nem todas as formas de amor são ideais!" Ela gritou e correu para fora do quarto, com seus cabelos dourados ondulando às suas costas. Eu fui nocauteado pela frase, mas nem mesmo isso foi capaz de aplacar os anseios egoístas de meu coração apaixonado.
Marino ainda não estava lá quando eu desci, mas eu sabia que estava em Veneza e que viria. Notei os olhares de luxúria que recebi de clientes mais antigos, que não se conformavam nem não poder me ter por todos aqueles quatro anos. Eu me mantinha indiferente, não queria que se sentisse seguros para alguma tentativa de aproximação. Por essas e outras, me consideravam um jovem arrogante e frio, e justamente por isso o desejo de me terem tornava-se ainda maior. Eu ficava impressionado com as quantias de dinheiro que ofereciam à Pansy por uma noite comigo. Mas ela nunca aceitava, jamais despertaria a ira de Marino.
Eu comecei a ficar nervoso conforme as horas passavam e ele não aparecia. Não fui dançar, um garoto mais jovem, de traços delicados como eu costumava ter quando mais novo estava no palco, e eu precisei admitir que dançava muito melhor do que eu. Apenas toquei o piano, dando ao jovem a melodia que ele precisava para entregar-se de corpo e alma ao seu jogo de sedução.
Quando saí do piano, foi para beber algo forte, que me entorpecesse. Odiava esperar e me sentir como um enfeite naquele salão. Aos poucos vi que ele não viria, mas me surpreendi ao ver Draco com três amigos ali. Fui até ele e fiquei triste ao saber que iria embora. Senti vontade de ir com ele. Beijei-o, queria poder ainda me refugiar no amor que sentia por ele, queria poder fingir que ainda poderíamos viver juntos, longe dali. Ilusões tão doces.
Fui dançar, a chamado de Daphne e Astoria. Nós três fazíamos um belo trio, havia um sincronia única entre nós, desenvolvida ao longo dos anos de cumplicidade e amizade. Depois ainda me sentei para conversar com Pansy e Draco, mas minha mente estava longe, e meus olhos, grudados na porta. Talvez fosse o álcool, a uva, a determinação do Draco, mas eu havia decidido que, naquela noite, eu iria arrancar de Marino todos os segredos que ele guardava de mim, mesmo que eu não tivesse direito algum de me intrometer em sua vida.
Ou isso, ou... Eu nem tinha ideia do que poderia fazer. Talvez eu fugisse, para bem longe, para recomeçar minha vida do zero, num lugar tranquilo. Talvez eu embarcasse e deixasse Veneza junto com Draco. Eu podia fazer isso, Pansy repassava a cada um de seus querubins o dinheiro que ganhava com nossos corpos. Eu tinha uma boa soma, talvez até pudesse ir para Pádua estudar também.
Apenas quando Draco e seus dois amigos barulhentos deixaram o bordel, é que ele apareceu. Vestia-se impecável, como sempre, seu andar continuava altivo, seus cabelos compridos caíam como um manto por suas costas e seu olhar era de uma força que sempre me tiraria o ar, por mais que eu tentasse fingir indiferença. Ele era simplesmente o retrato da beleza e grandiosidade. Poderia ser um rei, ninguém duvidaria do título.
"Fico impressionada com a forma com que seu olhar na direção dele mudou ao longo dos anos." Pansy me trouxe para a realidade, tocando minha mão. "Posso ver que se apaixonou, que o ama."
Desviei o olhar, incomodado, e sem dar-lhe resposta, levantei e fui até Marino. Me joguei em seus braços antes mesmo que ele tivesse tempo de fazer qualquer cumprimento e tapei sua boca com a minha, num beijo que mais parecia-se com uma agressão, tão irritado eu estava com sua demora. Marino correspondeu, mas ao mesmo tempo deixou que eu machucasse seus lábios sem reclamar, aceitando a punição.
Me afastei e segurei sua mão.
"Vamos para o quarto." O puxei comigo, querendo sair logo daquele salão.
Tão logo fechei a porta daquele cômodo, que já havia sido testemunha de inúmeras noites de nós dois juntos, voltei a grudar meus lábios aos de Marino. Sentia com um furor tão forte aquela noite, que praticamente fiz tudo sozinho. Arranquei suas roupas, com uma pressa descuidada, enquanto o beijava, por vezes tendo que ficar na ponta dos pés para alcançar sua boca, e o empurrei para cama.
Assim que caiu de costas sobre o colchão, passei a tirar minhas próprias vestes, porém sem nenhum tipo de provocação. Arranquei-as como se me queimassem a pele alva e subi sobre ele, segurando seu rosto com as duas mãos e voltando a beijá-lo com selvageria, sem qualquer tato, sem qualquer espécie de carinho. Quando ele tentava me tocar mais afetivamente, eu afastava sua mão com um tapa, com raiva, e voltava a atacá-lo como se fosse um rapaz selvagem guiado pelos instintos mais primitivos.
Sequer me preparei para recebê-lo, simplesmente sentei sobre seu falo rígido e a dor me invadiu, como se eu buscasse por ela, mas as lágrimas encheram meus olhos e eu mordi os lábios, me impedido de transformar a dor em palavras.
"Andrej," Marino ergueu o corpo e me abraçou, beijando-me perto dos olhos. "meu doce Andrej. Por que fez isso?"
"Idiota." Resmunguei, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço e aspirando seu aroma de amadeirado de tabaco. "A culpa é sua. Não é para isso que você vem aqui? Simplesmente me usar e depois me descartar? Por que ainda se importa em voltar?"
Ele abraçou gentilmente minha cintura e beijou meu ombro desnudo e cada uma das horríveis sardas sobre eles; subiu seus lábios até minha orelha, mordiscando o lóbulo em meu ponto sensível, sabendo que isso me relaxaria.
Não havia nada sobre meu corpo que ele não conhecesse, a exceção de meu coração.
"Você sabe por quê." Sussurrou perto do meu ouvido, sua voz rouca, mas macia descendo em forma de arrepios por minha espinha.
"Não! Eu não sei! Como vou saber por que volta, se nem ao menos sei o motivo por que parte?!" Soltei, finalmente deixando claras as minhas preocupações. Esperava que ele não fugisse do assunto, porém sabia que Marino não era homem de fugir de uma conversa direta. Eu que havia demorado tempo demais para ter coragem de indagá-lo sobre seus segredos.
"Diga-me o que quer ouvir de mim." Ele pediu, segurando minha cintura com dedos longos e gelados. Com a mão livre, tocou meu falo, enrijecendo-me habilmente ao me instigar de um modo que sempre me levava a arfar e fechar os olhos, dominado pelo prazer.
"Quero que diga que me ama!" Soltei ao abraçá-lo com mais força, colando meu peito ao dele e sentindo meu corpo vibrar contra o seu pela batidas frenéticas do meu coração incauto.
"Eu te amo."
Talvez a facilidade com que deixou as palavras escaparem, mais do que as próprias palavras, foi o que mais me chocou. Segurei seus ombros e me afastei para olhá-lo. Olhava-me sério, mas seus olhos – sempre tão gelados – brilhavam com uma sinceridade que possivelmente me deixou com uma expressão hipnotizada de admiração. Estaria mesmo falando a verdade? Teriam essas três palavras a mesma força e significado que tinham para mim? Ele havia parado de me tocar, sua mão pousou em minha coxa e a outra subiu para meu rosto.
Com um toque carregado de carinho e, ao mesmo tempo, uma doce tristeza, falou:
"Mas será você capaz de me amar?"
Eu abri a boca para responder, dizer que sim! Que isso deveria ser óbvio para ele! Mas Marino inverteu o jogo e foi sua vez de atacar minha boca. Ele virou-me contra o colchão, sem sair de dentro de mim e com maestria foi levando-me ao paraíso.
"Oh," Gemi quando sua boca estava em minha garganta e ele movia sensualmente os quadris contra mim, atingindo-me no ponto em que me dava mais prazer, turvava minha visão, deixava meus membros fracos e minha mente nublada de êxtase. "Marino..."
"Andrej... por favor, me perdoe." Ele pediu com a voz carregada de luxúria, e dor e tristeza. Franzi a testa, perguntando-me se havia escutado errado. Seu tom era sofrido, então o abracei e enlacei minhas pernas ao redor de seu quadril, roubando seu calor, conectando mais nossos corpos, misturando seu suor ao meu, como se assim pudesse entender o porquê de seu pedido.
"Sim... qualquer coisa...!" Fechei os olhos, arquei mais o corpo e voltei a gemer abafado quando seus movimentos tornaram-se mais intensos, mais carnais e voluptuosos, sua mão escorregando pela lateral do meu corpo e apertando fortemente meu quadril.
Ele veio primeiro, gemendo meu nome em meu ouvido e me enchendo de satisfação por tê-lo agradado. Eu não me importaria de não ter também o orgasmo, mas ele saiu de mim, colocou minhas pernas sobre suas coxas e, ajoelhado à minha frente, tocou-me até que eu me contorcesse de prazer pelos espasmos.
Assim que ele me viu mole sobre o colchão, encostou-se aos travesseiros ao meu lado, tenso. Percebi seu nervosismo. Sem que ele pedisse, fui até suas roupas e voltei com seu cachimbo de madeira escura e polida. Eu achava aquilo horrível, mas o acendi e lhe entreguei, sentando-me ao seu lado e o observando tragar com os olhos distantes do meu.
Sempre tão distantes.
Meu coração voltou a se apertar. Não seria uma simples declaração de três letras que mandaria embora todos os meus receios acumulados ao longo de três anos.
"Conte-me." Pedi, tocando-lhe o braço. "Conte-me o que te faz tão distante de mim."
Ele me olhou e, de alguma força, seus olhos não eram gelados então. Havia um calor e as portas estavam abertas para que eu visse a certeza que ele tinha de que iria me perder se contasse. Sua insegurança me comoveu e me vi aproximando dele e envolvendo seus ombros com os braços.
"Não vou te deixar. Nunca mais pediria a Pansy para mandá-lo embora." Sussurrei, desferindo beijos suaves em seu rosto, pescoço, ombro. Marino tragou mais uma vez e largou o cachimbo. Ele me puxou para seu colo e sentei entre suas pernas, aprisionado por seus braços.
"Me deixar, ainda que a ideia me doa profundamente, não é o maior dos meus medos. Talvez você nunca me perdoe." Me abraçou com mais força e beijou minha nuca, novamente arrepiando-me de cima abaixo.
Encostei a cabeça em seu peito e virei um pouco o rosto para encará-lo, já erguendo a mão para acariciar seus cabelos macios.
"Eu também te amo." Falei sinceramente e acabei sorrindo ao vê-lo sorrir também, mas logo retornei à minha expressão mais séria. "Mas justamente por isso, sua distância me machuca. Se eu fui e sempre serei só seu, por que me mantém aqui? Por que não podemos ficar juntos? Por que continua pagando por mim quando pode me ter de graça?"
"Andrej..." Sussurrou como se buscasse as respostas e me beijou rapidamente na testa. "Se é o que você quer, vou finalmente lhe contar tudo, com perigo de perdê-lo..."
"Para de ser tão dramático. Nada pode ser tão ruim a ponto de destruir tudo que eu sinto por você." Me virei em seu enlaço e segurei seu rosto. "Você não vê? Você me pegou destruído pelo que havia acontecido comigo e pacientemente juntou todos os cacos. Me deu algo pelo que viver, algo pelo que esperar, algo pelo que sonhar... Você me deu tanto e nem sequer parece perceber isso." Beijei seus lábios, procurando sua língua tão familiar, na qual eu poderia me afundar e passar horas sentindo, sem jamais enjoar. Parei rentes aos seus lábios. "No início você foi distante também, mas estranhamente era tudo que eu precisava. Se não fosse assim, eu teria me assustado e retraído, sua distância era boa, dava-me confiança para eu me aproximar com meus próprios pés. Mas agora... é uma distância diferente, mais profunda... algo em seus olhos. O que é? Uma família?"
Marino suspirou, acariciando minhas costas e me olhando intensamente, a ponto de fazer minha pele arder. Demorou até que ele encontrasse coragem para enfim começar seu relato.
"Vou começar por aí. Eu tenho uma esposa." Ele disse, e eu assenti lentamente. Houve uma pontada de dor e ciúmes em meu peito, mas eu o deixaria falar tudo antes de voltar a abrir a boca. "Casei com ela quando novo, acho que dezoito anos. Ela era de uma família importante de Gênova, seu pai tinha negócios em adesão com o nome de minha família e nossa união pareceu-me certa. Ela era bela, jovial e compreensiva. Foram cinco anos de paz, admito que a amava, não tivemos uma paixão arrebatadora, mas havia carinho, companheirismo..."
"Porém, aos vinte e dois anos, ela começou a se deteriorar. Primeiro surgiu a estranha mania de perseguição, o medo de sair na rua, medo dos mais tolos motivos, que nunca antes a haviam assustado. Depois as alucinações, os pesadelos. Adelyne simplesmente enlouqueceu e é, até os dias de hoje, uma sombra do que era. Nunca mais alguém conseguiu arrancar-lhe do mundo para onde fugiu, um mundo imaginário no qual está presa há quase vinte anos."
"Eu volto para Gênova para vê-la. Apesar de tudo, é minha esposa, já a amei e não posso abandoná-la. Mas não é só isso. A maior parte de meus negócios e riquezas provém de Gênova, nunca tive coragem de abandonar completamente essa cidade."
Eu já o olhava com lágrimas dos olhos, prestes a consolá-lo; porém, a tristeza de Marino não parecia derivar da esposa doente. Já parecia ter superado a perda dela há muito. Ele continuou depois de breves segundos de reflexão, enquanto suas mãos tocavam meu corpo em todas as partes que podiam alcançar, toques sem malícia, apenas com um medo velado de nunca terem mais a chance de experimentar um contato tão íntimo.
"Você se lembra quando eu disse que já havia sido um pirata?" Marino perguntou, levando-me de volta às conversas que tínhamos, quando ele contara sobre coisas que julguei absolutamente sem importância, ainda que interessantes. Assenti curioso com onde queria chegar.
"Para escapar da peça que o destino me pregou, eu fui para os mares e fiquei lá por anos, fugindo de minha própria vida e dos meus problemas. Às vezes sentia como se a loucura de Adelyne fosse penetrar em mim e isso me assustava. Aos poucos me tornei o verdadeiro inferno dos contrabandistas e dos ladrões. Os enfrentava por minha conta em risco e tornava seus lucros meus e em parte os entregava aos verdadeiros donos, quando os encontrava, o que acontecia poucas vezes. Não é nada heróico, no fim eu era mais um homem roubando no Mediterrâneo."
"Quando me informei mais sobre o tráfico de escravos pelos mares, passei a interceder também." Ele me olhou com uma breve pausa ao ver meu corpo congelar, e meu coração disparou, mesmo que eu ainda não soubesse o que vinha pela frente. "Eu não tardei a começar a atacar os navios e salvar os jovens capturados como escravos. Isso ao menos me causava uma verdadeira sensação de prazer, de justiça. O que aqueles homens faziam e fazem com jovens como você, me causa náuseas."
Me surpreendi ao notar as lágrimas caindo pelo meu rosto, e a expressão de Marino tornou-se triste, machucada. Ele fechou os olhos e respirou fundo antes de continuar.
"Ainda que eu, depois de um tempo, houvesse tido coragem de retornar a Gênova e retomar as rédeas de meu nome, minha riqueza e minha casa, eu sempre voltava para os mares, fazendo algo que me mantinha vivo. Até que quatro anos atrás, Harry Potter entrou em contato comigo a respeito dos contrabandos de Tom Riddle. Ele pediu para que eu deixasse determinado navio passar e chegar a Veneza, pois assim ele poderia pegar Riddle em flagrante e prendê-lo. O seu navio, Andrej. Eu deixei passar."
As lágrimas já eram como cascatas caindo de meus olhos. Eu tentei me afastar, mas Marino me segurou com força, evitando uma distância que já começava a surgir mesmo que nossos corpos remanescessem próximos.
"Eu poderia ter evitado todo seu sofrimento." Ele falou. "Eu teria barrado o navio logo depois de ele zarpar de sua antiga cidade."
"Me larga." Pedi baixo, começando a soluçar. Me sentia tão... fraco. Era como se todo aquele pesadelo voltasse a me dominar e agora Marino fizesse parte dele. Marino era culpado por ele.
"Quando eu te vi pela primeira vez, eu senti luxúria. Quis tê-lo para mim, por uma noite, quem sabe, e depois nunca mais voltar para essa cidade." Ele acariciou meu cabelo, mas eu fugi do toque, sem me importar em como isso pareceu abalá-lo. "Mas aos poucos eu fui juntando as peças. Eu entendi que você estava naquele navio que eu permiti chegar a Veneza... Vi toda sua dor e... o que eu poderia fazer além de tentar curá-la? Além de te proteger como deixei de proteger quando tive a chance?"
"Por que está contando isso apenas agora?"Praticamente gritei ao me afastar dele com nojo. "Então você está comigo por pena? Para tentar aplacar a sua culpa? E esperou para jogar isso na minha cara depois de roubar meu coração? Seu filho da puta!" Rosnei com toda minha raiva. Corri aos tropeços atrás de minhas roupas, de repente inseguro e desconfortável por estar nu na frente dele, mas Marino também saiu da cama e me segurou pelos ombros. "ME LARGA!"
"Não estou com você por pena, Andrej!" Segurou meus ombros com força. "Me desculpe por só lhe contar agora. Eu sei que deveria ter feito isso há muito tempo, mas eu... eu tinha medo de te perder definitivamente. Nossa relação sempre me pareceu por um triz. Você diz que eu sou distante, mas você também sempre foi distante, sempre recuava quando eu tentava me aproximar um pouco mais. Você acha que apenas você sente insegurança? Como você acha que eu me sinto por saber que você só me aceitou porque ameacei a dona do bordel, sua amiga? Como acha que eu me senti ao longo desses anos pensando que você iria me largar assim que tivesse a chance?"
"Marino..." Eu o encarei com os olhos rasos. Não podia acreditar que sentia tudo isso e sua sinceridade me esmagou; a maneira como me olhava me tragou para dentro de seus orbes azul-claros tão belos. Quando dei por mim, eu o abraçava com toda minha força e chorava contra seu peito. Ele retribuiu o abraço, ainda mais forte, deixando-me sem ar, e beijou meus cabelos rubros.
"Você não sabe o quanto me culpei todos esses anos..." Ele murmurou perto do meu ouvido. "No início, talvez eu quisesse curar sua dor por estar em busca de redenção, mas... aos poucos foi você quem me salvou, meu doce Andrej. Da vida vazia e solitária que eu levava."
Marino segurou minha cabeça com ambas as mãos apertadas aos lados de meu rosto. Meu coração batia agora numa cadência ritmada, quase como se o tempo estivesse diminuindo de velocidade conforme trocávamos um olhar cheio de significado. Finalmente eu podia entendê-lo através daquele olhar, que já não me parecia tão frio.
Toquei suavemente seu rosto, experimentando acompanhar as linhas de expressão que maculavam seu rosto bonito, elegante e, outrora, intimidante, com a ponta dos dedos. Um pouco trêmulo, me aproximei e beijei timidamente seus lábios. Mesmo que ainda houvesse uma ponta de raiva em mim por saber que tudo que eu havia passado com meus amigos – Draco, Daphne, Astoria – poderia ter sido evitado, o que eu sentia por ele não havia se apagado dentro de mim.
Era impossível. Ele era a única pessoa em toda a minha vida a me causar emoções tão fortes. Muitas vezes eu ainda me sentia sufocado e confuso com elas. Talvez Marino nunca deixasse de me confundir. E talvez eu já não me importasse mais.
"E agora...?" Perguntei, abrindo os olhos e encontrando os seus.
Ele sorriu da maneira mais sincera que eu já havia visto até então.
"E agora, assim que eu resolver alguns assuntos, eu vou deixar Veneza, e te levar comigo." Beijou-me, até tirar meu ar. "Eu não quero passar mais nenhum minuto longe de você."
Ele me puxou de volta para cama e dessa vez nos amamos com calma, como uma troca de confidências em forma de gestos. Pela primeira vez eu sentia que ele era meu, sem nenhuma barreira, sem nenhum segredo. Fiquei aliviado por seu toque não causar-me asco, mas ao final, eu o olhei aborrecido.
"Eu não posso te perder." Falou de repente, provavelmente notando minha repentina mudança de expressão. "Você consegue entender isso?"
"Você terá de fazer melhor do que isso para conseguir o meu perdão." O olhei sério, cruzando os braços sobre o peito, porém ao final deixei que um breve sorriso escapasse no canto de minha boca. Ele percebeu, é claro que percebeu. Então sorriu, acariciando minha coxa.
"Petulante, como sempre." Apontou, apertando minha carne com gosto. "Eu nunca mais vou te causar nenhum sofrimento." Me puxou de volta sobre seu corpo másculo e branco como uma estátua de mármore. "Você irá comigo?"
"Você ainda tem alguma dúvida?"
"Muitas. Pelo que disse, ainda não estou perdoado."
Me aconcheguei ao seu lado, sabendo que já não era mais tão leve para adormecer em cima de Marino. Apoiei o cotovelo na cama e o olhei ternamente.
"Não. Mas isso não me impede de ir até o fim do mundo com você."
NA: Sei que ficou corrido, o problema é que a passagem de tempo para esse casal seria melhor se contada, diferentemente do Harry e do Draco... Mas mesmo assim, espero que tenham gostado e que eu tenha consigo transmitir bem a mudança de sentimentos do Andrej ao longo dos três anos de avanço na história! :D

Era uma vez em veneza Onde histórias criam vida. Descubra agora