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S. R. Malfoy: Oi minha querida! Nossa, leu três vezes mesmo? hahaha! Pior que eu também faço esse tipo de coisa quando estou muito curiosa com uma história, inclusive em livros já fiz de pular capítulos para ver como as coisas se resolvem e depois voltar onde eu estava, senão fico agoniada, hahaah! Talvez eu ainda faça mais um extra com o Marino e o Andrej, só para arrematar a história deles... E, é, o Harry mandou o Marino não interceptar o navio, mas seria melhor deixar um navio passar, do que permitir que o tráfico de escravos continuasse indefinidamente, e o Riddle continuasse a fazer as estripulias dele. Nesse caso acho que cabe a frase "os fins justificam os meios", xD Ah, a versão antiga... se te interessar, eu a mando para você por email depois que essa história acabar. Beijos!

Poke: Own, minha linda, assim que possível respondo seu email, estou na correria antes de sair de casa aqui. Fico feliz que curtiu o extra! Beijos.

Era uma Vez em Veneza

.13.
"

Draco!"
A pincelada saiu errada devido ao susto que o chamado repentino me causou. Eu estava no salão de pintura. Era um lugar enorme e cheio de quadros e telas em branco. A maioria delas, exigida por mim. Gostava do lugar cheio e bagunçado, com jornais velhos espalhados pelo chão, sujos de tinta e banquetas e quadros prontos apoiados em tudo que é lugar pelo chão. Havia alguns que eu precisava esperar secar para completar a pintura.
Olhei para baixo. Eu estava pintando um painel que cobria quase toda a parede, e precisava subir em andaimes para poder alcançar todos os pontos. Mordred os escalava junto comigo e ficava parado, quieto, observando-me pintar como se apreciasse a arte.
Emmelice estava ali com um prato com bolo e um copo de leite.
"Desculpe, fiz você errar, não fiz?" Ela perguntou arrependida. Olhei para a tela e depois para ela.
"Eu dou um jeito, não se preocupe." Assegurei.
"Eu me preocupo sim. Você está aí desde de manhã, pintando, e sequer almoçou! Quer acabar desmaiando?" Ela ralhou batendo o pé. "Sei que nesse calor não dá muita vontade de comer, mas ficar o dia inteiro em jejum faz mal, Draco."
Revirei os olhos com o sermão. Emmelice iria me tratar como mãe até o final dos tempos.
Eu gostava disso, porém.
"Deixa aí em cima de algum banquinho. Depois eu como." Falei, distraidamente misturando as tintas na tábua fina que eu segurava. "Prometo!" Emendei ao ver a expressão de descrença dela.
"Está bem." Ela largou a travessa e Mordred desceu rapidamente, indo farejar a comida com seu nariz avermelhado e pequeno. "E está muito bonito, a propósito." Ela admirou o painel. Era uma encomenda para um viajante que pousou em Veneza por alguns dias. Ele se apaixonou pela vista do porto, com o por do sol, e pediu que um painel com essa visão fosse reproduzido, para que ele pudesse levar para sua terra natal. "Está tão ou mais bonito que o original."
Sorri de lado. Os vários dias em que assisti o por do sol no Adriático do telhado do casarão perto do porto ajudaram-me a criar uma reprodução fiel do espetáculo.
"Obrigado, Emme. Mesmo que sua opinião seja pouco confiável, vou aceitar seu elogio." Balancei a cabeça, ajeitando o erro da última pincelada. Emmelice soltou uma exclamação de ultraje.
"E posso saber por que minha opinião não é confiável?"
"Porque você não entende nada de pintura." Provoquei e comecei a rir da indignação dela. Ela mandou eu descer para que eu recebesse uns tapas bem dados, mas eu obviamente não obedeci. Depois ela acabou rindo também e acabou tudo bem.
Ficamos alguns minutos em silêncio, em que ela me observava pintar.
"Você acha que consegue terminar até antes de ir embora?" Ela perguntou com a voz triste, por mais que tentasse disfarçar. Ela sentiria saudades minhas. E eu também dela.
"Não sei... Espero que sim. O Sr. que a encomendou merece essa lembrança da cidade." Faltavam apenas duas semanas para a minha partida, motivo pelo qual eu comecei a dar tudo de mim no painel, começando a pintá-lo cedo pela manhã e indo ate tarde, quando meu braço não aguentasse mais.
Blaise estava insatisfeito com isso. Dizia, quando aparecia para me visitar, que eu deveria aproveitar meus últimos dias com ele, mas a verdade é ele estava eufórico demais porque Pansy o recebera em sua cama – apenas porque ele aceitara pagar o preço exorbitante que ela exigia. Eu não queria nem imaginar o que aconteceria quando o pai dele descobrisse a quantidade de dinheiro que ele vinha gastando. Ainda que eu achasse que Pansy merecia cada centavo.
"Não se esqueça de comer." Emmelice demandou antes de deixar o salão.
Eu suspirei. Toda a minha dedicação no quadro vinha me deixando exausto, e eu não conseguia muito tempo com Harry. Talvez eu estivesse fugindo dele e usando a pintura como desculpa. Quando acordei na cama vazia dele, alguns dias atrás, senti um vazio e uma tristeza que não pude explicar. Como se nada do que eu fizesse fosse capaz de tirar da cabeça dele que eu precisava ir estudar fora.
Ainda assim, estava lendo o livro que Pansy me deu, e sempre que encontrava com Harry, fazia o possível para chamar a atenção dele. Leves toques ocasionais, olhares demorados em sua direção, palavras sugestivas que me deixavam inevitavelmente corado. Admito que comer de maneira lenta, chamando atenção para meus lábios quando estava junto com ele já estava me cansando. Era necessário demasiada concentração. Talvez eu não confiasse em mim mesmo como Pansy havia dito que eu deveria.
Confiança era a chave do negócio. O problema é que eu não conseguia ser confiante o tempo todo.
Limpei o suor que escorria pela minha testa. Os dias continuavam terrivelmente quentes, quase insuportáveis para mim, que cresci e vivi por quatorze anos em terras permanentemente geladas. Mesmo usando apenas uma camisa branca, leve e folgada, ainda parecia que eu estava com lã e veludo.
Depois de um tempo, desci para comer. Meu estômago já fazia barulhos insatisfeitos pelo tempo que estava vazio, e se eu desmaiasse de fome e calor lá em cima, o tombo seria feio. Praticamente engoli tudo de uma vez, depois de oferecer alguns pedaços ao meu coelho, porém me engasguei com o leite quando vi Harry entrando subitamente no salão. Era cedo ainda para ele estar em casa. O sol ainda estava alto.
"Harry," Falei entre algumas tosses. Ele parou perto de mim.
"Está tudo bem?"
Ergui a mão pedindo que ele esperasse e respirei fundo, recuperando o fôlego.
"O que você está fazendo aqui?" Perguntei então.
Ele riu.
"Como assim? Essa é a minha casa." Provocou, e eu revirei os olhos.
"Você entendeu o que eu quis dizer." Cruzei os braços sobre o peito. Não queria que ele me visse como eu estava. Minha camisa velha, com os primeiros botões há muito perdidos, estava suja de tinta, assim como minhas mãos, e posso apostar que meu rosto também deveria ter alguma sujeira. Estava de pés descalços e minha calça estava dobrada até os joelhos. Meus cabelos estavam terrivelmente despenteados.
Até Mordred estava sujo.
"Estou com tempo livre." Ele falou, com descaso. "Então resolvi vir até aqui ver você pintar." A forma com que ele me olhou fez com que eu me sentisse desconfortável. Irritava-me que seu olhar fosse tão intenso e tivesse tanto poder sobre mim.
"Eu não consigo pintar com alguém me observando..." Murmurei. A verdade é que eu não conseguiria me concentrar sabendo que ele estava ali. Desviei o olhar e fiz uma careta emburrada.
"Então, que tal me acompanhar em um passeio?" Ele sugeriu.
"Um passeio...?" Isso me pegou de surpresa. Harry raramente tinha tempo para passeios.
"Sim. Coloque uma roupa confortável. Nada daquelas coisas cheias de bordados... coloque algo fácil de tirar."
Encarei-o incrédulo e corado.
"O quê?" Gaguejei.
"Você vai entender depois." Ele piscou. "Estarei te esperando no pátio dos fundos."
Quando ele saiu do cômodo, eu respirei fundo e segui para o meu quarto. Coloquei a roupa mais simples que tinha, que não deixava de ser uma versão mais limpa da que eu usava para pintar. Lavei o rosto, escovei os dentes, passei perfume, ajeitei os cabelos... e me olhei no espelho.
"Você está horrível." Grunhi frustrado para minha imagem, e Mordred soltou um "Hic!" que preferi pensar que não era de concordância. "E você fique por aqui" Ordenei a ele, mesmo sabendo que ele sairia do quarto para passear sozinho se assim quisesse.
Saí do quarto antes que Harry pensasse que eu havia desistido. Havia uma carruagem esperando na rua dos fundos do palazzo. Ergui a sobrancelha para Harry, parado perto dela. Ele abriu a portinhola para mim e sorriu indicando com o braço que eu subisse.
"Aonde vamos?" Perguntei curioso.
"É surpresa." Ele retrucou.
Acabei sorrindo, pois ele parecia bastante animado e, quando ele estava de bom-humor, sua vivacidade era contagiante. As roupas dele eram leves e despojadas, e ele se parecia mais com um camponês do que com o homem importante e respeitado que era. Eu ri disso. Estivera tão preocupado com minha aparência, e agora me sentia quase um lorde ao lado dele.
"O que é tão engraçado?" Ele perguntou já sentado de frente para mim dentro da carruagem. Ele fez um sinal, e o cocheiro a colocou em movimento.
"Você parece um mendigo." Debochei. Não era para tanto. Ele continuava lindo, e a bela espada presa à cintura mostrava que ele estava longe da pobreza. Eu estava com a minha também. Era um costume sair do palazzo com ela junto.
"Roupas não são importantes onde estamos indo." Ele deu de ombros, com um sorriso no canto dos lábios.
Eu o encarei e ergui uma sobrancelha.
"Que bom... nesse calor, quanto menos necessárias elas forem, melhor." Tentei sorrir provocante, depois desviei o olhar, fixando na rua. A carruagem avançava de modo a deixar a cidade.
"Há tinta no seu pescoço." Harry avisou.
Levei a mão ao pescoço.
"Aqui?"
"Não, mais para trás."
"Não sei onde está." Comecei a passar a mão pela pele atrás de alguma tinta endurecida. Quando não encontrei, fui até Harry e me sentei ao lado dele. "Tira para mim." Pedi e ofereci meu pescoço para ele.
Ele ergueu a mão lentamente e tocou minha pele. Meus pelinhos se eriçaram e eu fechei os olhos. Ele segurou a tinta seca, como um papel grudado na minha pele, e a puxou.
"Obrigado." Falei, sorri, e então me inclinei para beijá-lo, fingindo errar o alvo e acertando o canto da boca dele. Os olhos dele se alargaram um pouco, mas logo ele recuperou o controle. Ele sempre recuperava o controle. Isso era algo que me frustrava.
"Você sabe andar a cavalo?" Ele perguntou então, virado meio de lado para mim, com o braço estendido sobre o apoio do banco. Ele parecia querer me provocar de volta, estando assim tão perto, de modo que eu podia sentir seu perfume misturado ao cheiro de suor. Era impossível não suar em dias como aquele.
Uma vertigem me atingiu, mas forcei minha visão a voltar ao normal.
"Eu sei. Ou ao menos sabia. Por que você nunca me levou para andar de cavalo antes?" Perguntei, e desejei não tê-lo feito, pois a expressão de Harry pareceu entristecer um pouco.
"Eu costumava fazer isso com meu pai. Faz muito tempo que não cavalgo também." Ele olhou para algum ponto atrás de mim, perdido em lembranças. "Talvez eu também tenha desaprendido."
"Eu aprendi com meu pai também... Mas ele vivia reclamando que eu andava muito devagar. Eu tinha medo de cair." Admiti, corando. Eu era minúsculo perto dos garanhões de pelo comprido e grosso daquelas terras geladas. Harry riu, bagunçando meus cabelos. Protestei, e ele parou, ainda tocando os fios.
"Acho que vamos ter de reaprender juntos então." Ele disse sorrindo. Olhei vidrado para o verde intenso dos olhos dele, tão expressivos e quentes, e sorri de volta, assentindo.
A carruagem então parou. Eu mal havia percebido que já estávamos fora da cidade.
"Vamos." Ele desceu e eu fui atrás. "Há uma estalagem aqui, onde eu tenho alguns cavalos. O campo se estende por muitas léguas naquela direção, vê?"
Havia uma estalagem simples e então um campo verde e bonito, com vários capões de árvores. A estrada continuava, mas chegaria ao fim em algum momento. Havia rios para todo o lado. Veneza flutuava sobre uma lagoa gigantesca, mas a cidade, com os palazzos e os canais se concentrava em seu centro. Estávamos distante disso, quase em outro mundo.
"Você deveria ter-me trazido aqui antes. Vamos logo, quero ver os cavalos." Eu disse, segurando a mão de Harry e puxando-o para o que parecia ser os estábulos da estalagem.
Logo já estávamos montados, avançando em direção ao campo. Havia algumas casinhas aqui e ali, espalhadas, pequenas e distantes. Entre as árvores, o calor parecia bem menos sufocante. Descobri que não desaprendi a montar, e Harry também não parecia ter problemas para guiar seu cavalo.
"Eu fiquei sabendo," Comecei, umedecendo os lábios e perguntando se o que eu estava prestes a falar era mesmo uma boa ideia. "que Tom Riddle estará de volta a Veneza."
Harry parou e me encarou. Havíamos chegado em frente a uma lagoa, entre um capão de árvores. Era um cenário bastante bonito e singelo. Havia um pequeno cais avançando para o centro da lagoa, mas era tão curto que mal alcançava o centro. A água era de um azul-claro quase cristalino.
"Já nadei muito aqui quando era pequeno." Harry falou desmontando e amarrando o cavalo a uma árvore. Havia deliberadamente ignorado minha pergunta. Desci também e me aproximei dele.
"Tom Riddle matou seus pais?" Eu precisava saber. Eu iria embora dali a alguns dias, e Harry ficaria em Veneza, com Riddle por ali. Eu tinha medo do que poderia acontecer. Não queria deixá-lo.
Ele ficou olhando para a superfície da lagoa como se pudesse encontrar respostas ali.
"Eu não tenho dúvidas." Harry falou, sombrio.
"Por quê...?" Minha voz saiu fraca.
"Porque Riddle é um homem sádico que gosta de ver as pessoas serem torturadas. Ele dava banquetes e festas, para seus homens de confiança em Veneza, e lá torturava pessoas de menor nível, as prostituía, e às vezes até mesmo matava. Meu pai descobriu isso, e quis mandar todos esses poderosos para a cadeia," Harry suspirou. Havia derrota em seus ombros, e eu toquei seu braço desejando passar-lhe um pouco de conforto. "mas não é seguro mexer com poderosos, Draco. Meus pais foram assassinados por isso."
"Foi um verdadeiro escândalo; afinal, meus pais também eram ambos de famílias respeitáveis. Alguns homens importantes se revoltaram contra Riddle, inclusive pessoas de seu próprio círculo. Sirius e Remus fizeram de tudo para ter justiça, mas então o covarde fugiu. Ele adoeceu, na verdade, e todos pensaram que ele havia morrido, mas eu não. Comecei a me preparar para seguir a carreira de meu pai e desenterrei vários pobres, prendi homens que colaboraram com Riddle, ou os expulsei daqui."
"Mas então Riddle voltou. Estava poderoso de novo, e comprou muitos favores para conseguir se manter aqui. Eu quase morri duas vezes nesse meio tempo," Harry riu, com escárnio. "Ele tentou enviar assassinos para minha casa, mas eu dei um jeito neles. Precisei entrar no jogo de intrigas dessa cidade para enfraquecer Riddle, e finalmente consegui a informação de que ele estava comprando crianças raptadas e, ou as prostituindo, ou as usando para seus sadismos... Infelizmente, existem muitas pessoas que gostam de infligir dor e desespero em inocentes, e assistir de perto." O rosto de Harry estava rígido, sua mandíbula apertada, e seus punhos cerrados.
Ele se virou para mim com aflição em seus olhos verdes e me puxou para um abraço, pegando-me de surpresa.
"Só de imaginar o que ele poderia ter feito com você..." O abraço era tão forte que eu estava ficando sem ar.
"Harry... eu estou bem." Garanti com o pulso acelerado. Ele se afastou, ainda segurando meus ombros, e eu o olhei preocupado. "Obrigado... por me contar." Balancei a cabeça. "Eu gostaria de poder ajudar, mas..."
"Você ajuda," Harry interrompeu-me. "quando está com um sorriso no rosto."
Ele sorriu, e eu o acompanhei timidamente, mesmo que meus olhos estivessem levemente mais úmidos que o normal – era visível o quanto falar sobre isso machucava Harry, e eu me senti agoniado por não poder arrancar essa dor do peito dele. Desejei voltar a abraçá-lo.
"Vai dar tudo certo." Falei convicto, e ele bagunçou meus cabelos.
"Chega de assuntos tristes e sérios demais," Ordenou descontraído, ainda que houvesse uma sombra em seus olhos. "Não o trouxe aqui para isso."
"Então para que trouxe?" Perguntei, desconfiado. Ele sorriu quase diabólico, olhou para a água e depois para mim. Eu comecei a entender o que ele estava imaginando e dei alguns passos incertos para trás.
"Nem pensar. Eu não vou entrar nessa água suja." Falei torcendo o lábio superior e ainda andando para trás, de modo a manter uma distância segura dele. "E se tiver algum bicho aí dentro?"
Harry riu se aproximando perigosamente.
"Eu já nadei aqui antes. É perfeitamente seguro e ótimo para refrescar. Você não está com calor?" A voz dele era como veludo contra pele, como se quisesse me acalmar para então me jogar de surpresa dentro da água.
Eu tirei minha espada da cintura e apontei na direção dele.
"Nem ouse!" Exclamei, tentando permanecer sério e soar ameaçador. Não funcionou, é claro.
"Então será assim?" Harry perguntou divertido, medindo-me. Eu mantive a espada firmemente erguida em direção ao peito dele. "Parece que sim." Ele suspirou.
Rápido como uma rajada de vento, ele tirou a espada dele da bainha e tentou desarmar-me, mas eu já não era um iniciante. Defendi o golpe e fiz um contra-ataque. E então a luta se estendeu por vários minutos. Eu tentava não tropeçar nos gravetos ou perder o equilíbrio no chão mais mole e desnivelado. Em algum momento, ambos estávamos rindo.
"Seria bem mais fácil se você simplesmente fizesse o que eu digo." Harry falou durante um ataque. Eu pulei para trás e sorri de lado, erguendo uma sobrancelha e o encarando com desdém.
"E qual seria a graça nisso?" Retruquei.
Os olhos dele brilharam e ele tentou mais um golpe, porém naquele exato momento um esquilo perdido saltou para os seus pés, ele perdeu o equilíbrio e eu brandi a espada para desarmá-lo, mas meu ataque também saiu sem jeito, pois tropecei em um galho, e acabei atingindo a mão dele.
Ele largou a espada. Seu polegar estava sangrando.
"Harry!" Exclamei desesperado e fui até ele, segurando sua mão. "Ah, droga. Está doendo muito?"
"Foi só um arranhão." Ele riu despreocupado.
"Arranhões não sangram dessa forma." Eu me afastei e fui arrancar um pedaço da minha camisa para envolver no dedo dele, porém ele me impediu. Quando eu percebi, já havia sido jogado sobre um ombro e agora ele caminhava em direção ao pequeno cais da lagoa. "Harry! Harry! Não! você perdeu a luta! Me põe no chão!"
"Você nunca deve baixar os olhos do inimigo enquanto ele ainda estiver em pé em condições de continuar." Ele lembrou enquanto eu grunhia insatisfeito. Tentei me segurar nele, mas obviamente não deu certo.
"Harry, não! Espera! Harry! Aaaaaah!" Ele me jogou dentro da água como se eu fosse um saco de batatas podres. Subi à superfície tossindo e soltando impropérios. Mas quando olhei para cima, todo meu ar faltou e eu me calei.
Harry tirou a camisa, expondo seu corpo e músculos bem trabalhados, tirou os sapatos, dobrou a calça até os joelhos, e então deu uma ponta na água. Submergiu exatamente à minha frente, sobressaltando-me. Ele ondulou as sobrancelhas sugestivamente.
"O que acha? Não é uma delícia?" Perguntou.
"Oh, sim..." Murmurei aparvalhado, mas não acho que falávamos da mesma coisa. Ver a água caindo dos cabelos negros molhados e escorrendo por seu rosto, contornando os lábios e o maxilar me tirou momentaneamente de meus sentidos.
"Seria melhor se você tirasse essa camisa também, e seus sapatos." Ele levou as mãos à barra de minha camisa, porém eu saltei para trás de susto. Meu rosto queimou e eu baixei o olhar.
Era eu quem deveria o estar seduzindo, certo? Não o contrário! O que ele estava pensando? Ele me provocava, e depois fugia, negava, avisava que me mandaria embora... Eu não sabia o que se passava em sua mente.
"Eu mesmo tiro." Falei.
Nadei até um ponto onde a água ficasse abaixo de minha cintura e, de costas para ele, retirei a camisa. Ao menos eu não era magrelo como antes, apesar de ainda estar longe de ter a definição que ele possuía.
'Confiança.' Ouvi a voz de Pansy sussurrar em algum ponto de minha mente. Tirei os sapatos e os joguei junto com a camisa para terra firme. Depois me virei para Harry, que nadava de costas, olhando para mim, e fui até ele. Quando o alcancei, meus pés já não atingiam o fundo do lago.
"É fundo aqui." Reclamei. "Eu não sei nadar muito bem." Antes que ele falasse alguma coisa, apoiei-me nos ombros dele. Perto como estávamos, eu podia ver todos os detalhes dos olhos dele, todos os tons de verde que ele possuía.
"Você nunca havia nadado antes?" Ele perguntou suavemente, e eu neguei. "Deveria ter-me dito isso, antes que eu o jogasse aqui dentro."
Revirei os olhos, aproximei-me mais dele, quase imperceptivelmente, e senti a mão dele segurar minha cintura. Não acho que ele próprio houvesse percebido o que estava fazendo, como estava me mantendo perto, sem parecer se importar nenhum pouco com isso.
"Você me jogou em um ponto mais raso. E é só bater os pés. Eu não iria me afogar." Peguei a mão dele e a trouxe até perto de meu rosto, analisando-a. "Como está o machucado?"
"Já não sinto nada." Harry garantiu.
Eu beijei o corte e passei a língua por ele, com os olhos parcialmente fechados, e percebi Harry me puxar mais contra ele, seu braço envolvendo completamente minha cintura. Meu coração disparou e, quando apoiei a mão em seu peito, após afastar meus lábios de sua mão e mirá-lo nos olhos, senti que o coração dele também batia tão rápido quanto o meu.
Eu não consegui fazer nada. Estava paralisado, olhando-o, admirando-o, enquanto continuávamos a flutuar dentro daquela água fresca. A brisa parecia ideal agora, batendo contra meu rosto, mas o sol ainda obrigava meus olhos a ficarem apenas entreabertos, minha testa ligeiramente enrugada; eu poderia continuar assim até o final dos tempos.
"O sol está queimando as suas bochechas." Harry me acordou de meu transe com palavras tão simplórias, que eu acabei rindo.
Acabei rindo e não parei mais, porque estava repentinamente feliz. Talvez fosse o júbilo de estar ali com ele. Eu sempre ficava assim quando éramos apenas nós dois. Era bobo da minha parte, mas eu não conseguia me refrear. Joguei água na sua cara, fazendo-o rir com descrença de toda a minha súbita felicidade.
"Ainda não me vinguei por você me jogar aqui dentro sem meu consentimento." Falei me afastando e me preparando para uma guerra de água. Harry piscou surpreso.
"E um corte no dedo já não foi o suficiente?" Ele tentou manter-se sério, mas eu sabia que era pura fachada.
"Isso?" Perguntei com desdém. "Isso foi apenas um arranhão." Joguei água no rosto dele e não parei mais.
Daí para parecermos duas crianças brincando de jogar água e perseguir uma a outra foi um passo. Acho que ficamos horas nisso, ou talvez apenas minutos, mas eu não estava preocupado em medir o tempo. Nos últimos dias, a última coisa que eu queria era medir o tempo que me restava em Veneza.
Quando o meu fôlego me deixou e eu percebi que seria derrotado se continuássemos, nadei até a beira do lago e saí dele. Harry obviamente veio atrás de mim. Tentei correr assim que estava com os pés molhados contra a grama verde e quente, mas não consegui me afastar muito. Ele me alcançou e nós dois acabamos caindo na grama, ainda rindo. Meu abdômen já doía de tantas risadas.
Mas quando ele me virou e eu me percebi deitado na grama, com o corpo dele parcialmente sobre o meu e meus pulsos presos no chão por suas mãos fortes, minha garganta travou e eu fiquei apenas ofegante, olhando para seu rosto. Tentei não me mostrar tão abalado e nervoso como eu estava.
"Você é tão infantil." Revirei os olhos em deboche, com todo meu corpo ciente do contato entre nossas peles molhadas.
Harry sorriu torto.
"Pessoas velhas tendem a fingir que ainda não crianças vez ou outra." Ele brincou.
"Você não é velho." Falei baixinho. "Continua tão bonito e jovial quanto da primeira vez que te vi."
Eu me remexi desconfortável pelo tempo em que ele ficou me encarando fixamente e cheguei a abrir os lábios para perguntar quando ele soltaria meus pulsos, pois minhas mãos já estavam formigando. Foi quando a respiração dele tocou minha face e seu rosto se aproximou, causando um disparo súbito em meu coração.
Entendi que seria beijado.
Fechei os olhos instintivamente e senti os lábios quentes deles contra os meus, delicados, mas decididos.
Meu corpo inteiro reagiu como se o sol houvesse caído sobre nós com suas chamas quando ele se pressionou mais contra mim e seu gosto misturou-se ao da minha boca, delicioso e único, exatamente como eu me lembrava.

XxX
N

A: Próximo cap. aquilo que todos tanto esperam...

Era uma vez em veneza Onde histórias criam vida. Descubra agora