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Era uma Vez em Veneza

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Sra. Pomfrey, eu estou bem! Não sou mais o garotinho mirrado que você cuidou há quatro anos." Revirei os olhos para o cuidado excessivo da minha enfermeira. Não sabia por que haviam me trazido para o hospital, eu estava bem, meu abdômen estava costurado. Tudo bem que ele acabou infeccionando e eu acabei delirando de febre por algum tempo, mas eu já estava bem agora! E fiz questão de enfatizar isso para a Sra. Pomfrey.
E

la colocou as mãos na cintura e me lançou um olhar severo. Continuava a mesma, mesma maneira exasperada de me encarar, como se eu houvesse planejado acabar machucado e debilitado por vontade própria. E agora eu conseguia entender seus sermões, o que era ainda pior.
"Precisa descansar, rapazinho!" Ela exclamou vindo ajeitar meus travesseiros e testar minha febre. "Você sofreu uma situação muito traumática, ah sim! Sofreu sim! E agora precisa descansar. Seu machucado não está cicatrizando como deveria, vê? Se insistir em não tomar sua medicação direito, vai continuar nessa cama até o final dos tempos!"
"Tem gosto ruim." Resmunguei torcendo o nariz. "E eu já estou bem. Meu machucado já está quase sumindo!" Não sei por que eu continuava a insistir. Bastava ela afastar minha camisa e tirar a atadura ao redor do meu abdômen, que provaria que eu estava errado. E era só eu me mexer alguns centímetros, que o lugar latejava dolorosamente.
"O Sr. Potter fez um péssimo serviço com você! Te transformou num garotinho mimado." Ela ralhou sem dó nem piedade, ainda que sorrisse ao final para amenizar suas palavras. Cruzei os braços sobre o peito e grunhi baixinho, não levando seu sorriso em consideração.
"Eu só odeio ficar aqui deitado sem fazer nada. São meus últimos dias em Veneza!" Exclamei exasperado. E era verdade. Eu havia decidido ir para Pádua, não iria voltar atrás. Mas era frustrante não poder aproveitar meus últimos dias na Sereníssima. Sra. Pomfrey me olhou compreensiva e veio afagar meus cabelos.
Ficamos conversando até que alguém batesse à porta do quarto.
"Andrej!" Exclamei abrindo um sorriso e depois uma careta pela dor que o simples fato de erguer a voz me causou. Ele entrou sorrindo no quarto, cumprimentou a Sra. Pomfrey e se sentou ao meu lado na cama.
"Vou deixar vocês dois conversarem." Ela disse, saindo rapidamente. Já deveria ter perdido tempo demais ali comigo e agora precisava dar atenção aos outros pacientes. Olhei para Andrej, reparando em seu rosto ainda ligeiramente inchado e arroxeado, e o gesso em seu braço.
"Isso é injusto." Fiz beiço. "Você apanhou mais do que eu, e já está em pé, firme e forte."
Andrej riu e bagunçou meus cabelos, como se eu fosse o irmão mais novo.
"Vou sentir sua falta, sabia?" Ele perguntou e imediatamente minha expressão tornou-se fúnebre, com meus olhos já ganhando um brilho úmido. "Vim me despedir."
"Não..." Resmunguei e ele riu.
"Não aja feito um bebê chorão. Já havia dito que iria embora, antes de toda essa confusão com o Riddle acontecer. E você também está indo..." Ficou acariciando meus cabelos. Segurei-lhe a mão, mantendo-a firme entre as minhas, e abaixei o olhar, respirando fundo.
"Mas eu vou voltar. E você? Nem ao menos vai dizer para onde vai para que eu possa te visitar? Ou ao menos mandar cartas?" Uma lágrima caiu sobre minhas mãos, infiltrando-se nas reentrâncias entre os dedos para alcançar a dele. Ele se aproximou mais e me beijou na testa.
"Eu vou te escrever. E talvez nós nunca mais nos veremos, ou talvez nos veremos ainda várias vezes antes do fim. Eu te amo muito." Me abraçou, já chorando também. O acalentei em meus braços.
"Pansy também vai sentir muito a sua falta. E as meninas, Daphne e Astoria... E todos que te conheceram." O abracei com força. Por que era tão difícil deixá-lo ir? "Você salvou a minha vida..." Murmurei. "Obrigado."
Andrej sorriu e se afastou.
"Não há nada que um irmão não faça pelo outro." Gentilmente tirou meus cabelos do rosto e me encarou com seus belos olhos claros. "Promete que não vai mais se meter em encrencas?"
"Hei! Como se eu fosse o único!" Revirei os olhos. "Prometa você."
"Não. Acho que descobri que gosto de viver perigosamente." Sorriu travesso, levantando-se. "Adeus, Draco."
"Adeus, Andrej." Sussurrei. "Seja feliz."
"Serei. E espero que faça o mesmo." Piscou e partiu, sem olhar para trás. Deitei contra os travesseiros e deixei algumas lágrimas caírem, mas sorria, porque ele estava bem e feliz, finalmente curado de seus traumas. Queria poder agradecer ao Marino, mas sabia que partiriam talvez naquele mesmo dia. De qualquer forma, tinha quase certeza de que ele não ia com a minha cara desde que eu e Andrej havíamos nos beijado.
Acabei adormecendo por efeito da medicação.

Era uma vez em veneza Onde histórias criam vida. Descubra agora