Capítulo 19

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Era quase quatro da tarde, Letícia havia saído cedo do trabalho, e achou que seria uma boa ideia ir até a casa de Emma, que estava voltando aquele dia da casa de seu pai. Quando ela chegou no bar, encontrou Bill, que estava cuidando de tudo na ausência de Emma.
– Ela já chegou? – perguntou Letícia.
– Boa tarde para você também. – disse Bill com um sorriso simpático no rosto. – ainda não, mas ela não deve demorar muito.
    Bill foi um dos primeiros funcionários do Charlie 's Bar, e o único que continuou depois que a tia da Emma morreu. Ele era um sujeito alto e corpulento, possuía pele alva e uma barba cheia, dá cor de chamas, e seu cabelo era raspado. Havia tatuagens em seus braços, que os cobria quase por inteiro. Ele possuía uma aparência intimidadora, mas ele era uma das pessoas mais gentis que Letícia já conheceu.
– Você pode ficar e esperar por ela. – disse ele esfregando um pano no balcão.
    Assim que Bill fechou a boca, Emma entrou no bar. Ela usava uma jaqueta de couro, com uma camisa branca por dentro, e uma saia acima dos joelhos. Seus dreads estavam amarrados em um rabo de cavalo, que se estendia até quase sua bunda.
– O que você está fazendo aqui tão cedo? – perguntou ela enquanto colocava suas coisas no chão.
– Sai mais cedo hoje, e como você estava vindo para casa, achei uma boa ideia vim te receber. – disse Letícia de onde estava.
    Letícia se aproximou de Emma, e entrelaçou os braços em volta de seu pescoço.
– Tava com saudades. – disse ela.
– Mesmo com uma ruiva muito linda dividindo uma cama com você? – brincou Emma.
– Sim, mesmo com uma ruiva muito linda dividindo uma cama comigo.
   As duas sorriram.
– Então, como foi passar esses dias com seu pai?
– Foi bom. – disse Emma puxando Letícia para sentar em uma das mesas– Nós passamos bastante tempo juntos, e ele conseguiu manter o meu quarto quase como ele era antes do que aconteceu. Segundo ele, minha mãe tentou dar fim em tudo, mas ele deu um jeito de salvar o máximo possível das minhas coisas.
– Sua mãe realmente parece ter sido uma pessoa horrível.
– Você nem imagina.
– Mas me conta, o que mais vocês fizeram?
    Emma contou tudo o que havia feito com seu pai, e como ele parecia uma pessoa mais feliz, como se estivesse se libertado de uma prisão. Ela contava sobre a mulher que ela achava que seu pai estava saindo, quando a porta do bar abriu, e alguém entrou.
– O bar parece estar um pouco diferente desde a última vez que estive aqui. – disse uma mulher de voz grave.
    Emma estava de costas quando ela entrou, mas logo se virou.
– Você também mudou bastante. – disse a mulher novamente.
– Annabeth. – disse Emma em um tom quase inaudível.
   Letícia olhava fixo para Annabeth, tentando lembrar de onde ela a tinha visto.
– O Bill ainda trabalha aqui. – Annabeth acenou para Bill, que respondeu com um sorriso.
– O que tá fazendo aqui? – perguntou Emma.
– Eu lhe avisei que iria estar na cidade para um show.
– Desculpa, mas eu tenho a impressão de já ter lhe visto. – disse Letícia chamando a atenção de Annabeth.
– Letícia, não é?
– Sim.
– Eu me chamo Annabeth – ela se aproximou estendendo a mão para Letícia, que apertou com delicadeza. –, mas você pode me chamar de An.
– Você é a garota daquela banda, Doctor alguma coisa.
– Jeep, Doctor Jeep. – disse Emma.
– Isso! Doctor Jeep… mas de onde vocês se conhecem?
– Somos velhas amigas. – disse Annabeth olhando para Emma.
    Annabeth era só um pouco mais alta que Letícia. Vestia um moletom roxo, e calça jeans. Seu cabelo parecia ter sido raspado a algumas semanas. Ela possuía uma característica um tanto curiosa, seus olhos eram de cores diferentes.
    Emma se levantou de sua cadeira, e abraçou Annabeth, foi um abraço demorado, que deixou Letícia com ciúmes.
– Tava com tanta saudade assim? – disse Letícia.
    As duas se soltaram, Emma parecia confusa.
– Então – falou Annabeth. –, passei só para entregar isso. – ela tirou dois ingressos do bolso de seu moletom, e entregou para Emma.
– É para seu show? – perguntou Emma.
– São para vocês duas, também entreguei um para a Rachel.
   Emma olhou para Letícia, que a encarava.
– Nós podemos ir. – disse Letícia.
     As três ficaram em silêncio.
– Preciso ir, tenho uma entrevista agora a noite – Annabeth estalava os dedos enquanto falava, em uma espécie de tique nervoso. – foi bom te ver outra vez. – ela olhava para Emma, que sorriu em resposta.
   Ela se despediu de Letícia, e saiu pela porta.
   Letícia e Emma ficaram em silêncio.
– Os olhos dela eram de cores diferentes – disse Letícia quebrando o silêncio. –, ela tem heterocromia?
– Não, o olho verde é de vidro.
    Letícia ficou surpresa.
– E o que aconteceu com o olho dela?
– Foi um acidente na infância.
– E porque não usar um olho de vidro da mesma cor de seu olho?
– Antes ela usava, para tentar parecer "normal", mas ela ainda era tratada como a garota caolho.
– Sério? – disse Emma surpresa.
– As pessoas usam qualquer coisa para humilhar a outra, até mesmo algo simples como um olho de vidro. Mas por fim ela resolveu parar de tentar se encaixar, e passou a usar um olho de vidro da cor verde.
– Vocês já namoraram? – perguntou Letícia, pegando Emma de surpresa.
– Porque você acha isso?
– A forma que você estava agindo, o nervosismo.
   Emma ficou em silêncio, provavelmente não sabia como responder.
– Okay, acho que vou embora. – disse Letícia ao levantar de sua cadeira.
– Não, espera! – Emma se colocou no caminho de Letícia. – ela foi minha última namorada antes de você.
– E você sabia que ela estava vindo?
– Sim.
– E porque não me contou nada?
– Não sei.
– Sério que é essa a sua resposta?
– Eu gosto muito de você, e eu não quero que a vinda dela estrague o que nós temos.
    Letícia olhava fixo para Emma.
– Eu só quero que você fique. – Emma segurou as mãos de Letícia.
– Só se você dá uma folga para o Bill, às vezes parece que ele cuida mais desse bar do que você. – brincou Letícia.
    As duas começaram a rir, e subiram para o apartamento de Emma.


Estavam as duas deitadas seminuas, Letícia repousava a cabeça sobre o peito de Emma, que enrolava com o dedo indicador uma mecha de seu cabelo.
– Seu cabelo está grande. – disse Emma.
– Tava pensando em deixá-lo crescer.
– Eu gosto dele curto.
– Então você quer que o mantenha curto?
– Bom, se você quer deixá-lo crescer, não tem problema.
– Você quer ir àquele show? – perguntou Letícia, mudando de assunto.
– Não.
– Não tem problema em ir, ela parecia muito querer que você fosse. E além do mais, será que ela conseguiria mais dois ingressos?
– Eu tenho o número dela, posso tentar falar com ela a respeito disso.
– Seria ótimo, o Félix adora eles.

Letícia & Emma.Onde histórias criam vida. Descubra agora