O bar estava mais ou menos cheio aquela noite. Emma e Letícia se encontravam no segundo andar sentadas em uma mesa, uma do lado da outra. Estavam bebendo para comemorar a promoção de Letícia, que estava muito animada, era seu sonho se realizando.
– Então a Zoey é diretora criativa do jogo? – perguntou Emma.
– Sim. – Letícia tomou um gole de cerveja e prosseguiu. – É o primeiro trabalho dela, e ela me queria na equipe.
– Isso é ótimo – disse Emma empolgada. –, e aquele seu amigo? Félix não é?
– Sim, o que tem ele?
– Ela também o colocou na equipe?
– Colocou. – Letícia toma mais um gole de cerveja.
– Aconteceu alguma coisa?
Letícia suspirou.
– Na verdade sim.
– Tem a ver com aquela noite?
Letícia contou toda a história para Emma, achou que era hora dela saber o que havia acontecido.
– Quer dizer que a Zoey gosta de você? – disse Emma tímida.
– Você tá com ciúmes? – Letícia sorriu e a cutucou com seu dedo.
– Ela é bonita, muito bonita para falar a verdade.
Letícia começou a rir, deixando Emma desconcertada.
– Acho melhor ver se o Bill não precisa da minha ajuda. – Emma se levantou, evitando olhar para Letícia.
– Não, espera. – Letícia segurou o braço de Emma a fazendo parar. – desculpa, não queria te deixar constrangida. Na verdade eu te achei fofa quando disse que ela era bonita.
Emma não falou nada.
– Senta vai, vamos continuar a comemorar.
– Está bem. – disse Emma voltando a se sentar.
Depois de um tempo Bill trouxe mais bebida a mando de Emma.
– Ele tá de boa com isso? – perguntou Letícia.
– Isso o quê? – Emma enchia o copo de Letícia.
– De ficar te servindo enquanto ele trabalha.
– Tá tudo bem, ele não liga.
– Certeza.
– Absoluta. – Emma ergueu o seu copo com o líquido amarelo. – Agora vamos voltar a nossa comemoração.
Letícia também ergueu seu copo e o chocou contra o de Emma, fazendo um pouco do líquido cair sobre a mesa.Emma subia a escada carregando Letícia, que havia passado do ponto. Ela estava com dificuldade para subir, parecia até que cada passo era um degrau a mais que surgia. Quando as duas finalmente chegaram no topo das escadas, Emma apoiou Letícia na parede. Ela destrancou a porta e a arrastou para dentro. Tiveram menos dificuldade para subir as escadas que dava até seu quarto.
Emma a jogou na cama, estava exausta de ficar subindo escadas com Letícia nas costas, ela podia ser pequena, mas era muito pesada. Depois de deita-la, Emma removeu as botas de Letícia seguida de suas calças, que deu um pouco mais de trabalho.
Letícia estava deitada com a barriga virada para cima. Usava somente uma blusa preta que ela havia removido as mangas, e uma calcinha box com o batcibolo no meio. Emma pegou um lençol e jogou sobre ela, que se encolheu por debaixo dele.
– Você me deu um trabalho hoje. – comentou Emma sozinha.
Emma havia tomado um banho, e vestiu seu pijama – que se tratava de uma blusa masculina do Metallica –, ela desceu até a sala com o celular e o cartão de seu pai em mãos, digitou o número que estava no verso do cartão, e levou o celular até a orelha. O telefone chamou por um tempo, até que ela ouviu a voz de seu pai. Ele parecia estar dormindo, que era algo de se imaginar pelo o horário que ela havia ligado.
– Sou eu pai. – disse Emma. – desculpa se lhe acordei.
– Não tem problema. – diz ele com a voz cansada.
– Então, vou visitar a tia pela manhã, e você é bem vindo se quiser ir junto.
– Sim, claro, eu adoraria.
– Então te vejo lá às nove.
– Vou está lá.
Logo depois Emma desliga o celular e sobe para o seu quarto.Era de manhã, Emma tinha saído para comprar o café. Ela entrou em casa segurando uma sacola em cada mão, quando viu Letícia saindo de dentro de seu estúdio. Ela descia as escadas confusa, sem entender o que havia acabado de ver.
– O que você foi fazer aí dentro? – Emma colocava as sacolas sobre o balcão.
– Eu estava procurando você – respondeu Letícia apontando para o estúdio. –, por que tem um quadro não terminado da Alex Leblanc em sua casa?
Emma fica em silêncio, sem saber o que dizer.
– Você é ela. – diz Letícia. – isso explica o porquê de sua roupa está suja de tinta aquela noite.
– Você não pode falar para ninguém. – Emma parecia nervosa.
A expressão de confusão de Letícia, deu lugar a um sorriso que mostrava todos os seu dentes.
– Eu não posso acreditar. – Letícia estava em êxtase.
– Letícia, escuta.
– A minha namorada é a Alex Leblanc.
– Namorada? – diz Emma.
– Quais são as chances? – Letícia pulava de empolgação.
– Namorada? – Repetiu Emma.
– Por isso você é amiga da agente da Alex.
– Como assim namorada? – Emma a segurou pelos ombros, na tentativa de pará-la.
Letícia para por um segundo, e olha direto nos olhos de Emma, que não tenta desviar o olhar dessa vez.
– Você quer namorar comigo? – ela pergunta segurando as mãos de Emma.
Surgi um tímido sorriso em seu rosto.
– Isso é tão brega – diz Emma rindo. – Mas sim, eu aceito.
As duas riem e logo em seguida se beijam.
– Você pode me dar uma carona até a minha casa? – disse Letícia ainda agarrada ao pescoço de Emma. – Eu quero trocar essa roupa antes de ir trabalhar.
– Claro, tem um lugar que eu preciso ir hoje, posso te deixar na sua casa no caminho.
– Perfeito, só preciso vestir as minhas calças. – Letícia ainda estava como Emma a tinha deixado na noite anterior.
Ela beijou Emma mais uma vez, e subiu para o seu quarto.Emma caminhava rumo ao túmulo de sua tia, quando de longe avistou a silhueta corpulenta de seu pai. Ele estava em pé, com os braços cruzados, olhando para a lápide de sua irmã. Ela se aproximou dele segurando o violão em uma de suas mãos.
– Faz muito tempo que está aqui? – diz Emma.
Ele vira a cara assustado, Emma nota que ele estava chorando.
– Não faz muito tempo. – diz ele enxugando as lágrimas. – Era dela esse violão?
– Não, na verdade ela me deu – Emma erguia um pouco o violão. –, queria que eu praticasse com mais frequência. Eu estava com dificuldade de aprender.
Ele sorriu.
– Foi eu quem a ensinei. – ele disse.
– Eu sei, ela me contou.
Os dois ficaram um tempo em silêncio, só com o som do vento soprando nas árvores.
– Eu costumo tocar para ela – diz Emma quebrando o silêncio. – Mas acho que você devia tocar hoje.
Emma entrega o violão para seu pai, que recebe em silêncio. Ele se senta com as pernas entrelaçadas, aponha o violão em uma de suas coxas, e começa a tocar. Os dois ficam lá por quase uma hora falando sobre ela, contando suas histórias.
–Porque você nunca veio visitá-la? – pergunta Emma arrancando a grama do chão. – foi por minha causa?
– O quê? Não! – diz ele. – sua mãe nunca me deixou vim.
– É você a obedecia? – Emma usou um tom irônico.
– A vida com sua mãe sempre foi difícil, você não foi a única pessoa que ela causou algum mal.
Naquele momento Letícia lembrou de como seu pai não tinha voz dentro de casa, como sua mãe ameaçava ir embora e tomar tudo que era dele. Como ela pode não enxergar pelo o que seu pai passou, e o colocará no mesmo lugar de sua mãe, como alguém que também a abandonou.
– Eu não sabia. – diz ela.
– Tudo bem, a culpa não é sua.
– Mas eu devia ter notado.
– Não tem problema, está bem?
Ela tenta falar mais alguma coisa, mas não é interrompida por seu pai.
– Você tem namorada? – diz ele tentando mudar de assunto.
– Eu conheci alguém. – Emma enrolava um pedaço de grama nos dedos.
– Isso é ótimo. E você gosta dela?
– Sim, na verdade gosto muito. Eu posso te apresentar para ela se você quiser.
– Eu adoraria.
Os dois se olharam. Estavam felizes por finalmente terem conversado.
– Você não quer tocar algo para ela? – disse ele lhe entregando o violão.
Emma o apanhou, colocou em seu colo, e começou a tocar.
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Letícia & Emma.
RomanceLetícia é uma gamer designer em início de carreira, que se muda para São Francisco em busca de seu sonho. Emma é dona de um bar em São Francisco, e também é secretamente Alex Leblanc, a artista misteriosa de São Francisco. Um dia Letícia vai parar e...