Letícia & Emma.

Capítulo 11

Foram três toques na sola de seu pé que a fez acordar naquele dia. Rachel estava tentando arrumar a bagunça no quarto de Emma. Seus olhos estavam quase fechados quando Rachel bateu novamente nas solas de seu pé, na tentativa de mantê-la acordada.
– Você precisa levantar, tem trabalho a fazer. – disse Rachel em um tom autoritário.
– Quem você acha que é? Minha mãe? – Emma se virou e afundou a cara no travesseiro.
– Não, mas quase isso.
    Rachel puxou o travesseiro de Emma bruscamente.
– Vamos, eu trouxe até o seu café.
– Me dá só um minuto.
– Passou a noite conversando com aquela garota de novo?
    Emma estava saindo com Letícia a duas semanas, e costumava conversar até tarde com ela.
    Depois de tanta insistência de Rachel, Emma se levantou de sua cama e foi direto para o banheiro. Quando ela desceu, Rachel estava no balcão da cozinha tomando café.
– Aqui, esse é o seu. – ela apontava para um copo de café que estava ao seu lado.
    Emma pegou o seu café e se dirigiu ao sofá.
– Preciso ir. – anunciou Rachel apanhando um pequeno molho de chaves. – e você trate de terminar aquele quadro.
    Emma estava trabalhando em um novo quadro a cinco dias, tratava-se da grande obra de Alex Leblanc.
– Sim senhora capitã. – Emma bateu continência para Rachel, que já estava de saída.
      Emma tomou mais um gole de seu café, e subiu  para o seu estúdio.
    O estúdio de Emma não era muito grande, possuía uma janela com cortinas vermelhas. Era repleto de telas em branco e quadros que nunca foram expostos – se tratavam de obras mais pessoais, algo que ela queria guardar só para si. –, e havia jornais espalhados pelo chão. No meio estava o seu novo quadro, coberto por um pano. Ela colocou algo para tocar, removeu o pano que o cobria, e começou a trabalhar nele.

Já era tarde quando alguém bateu em sua porta, provavelmente se tratava de Bill, que costumava chegar cedo para ajudar Emma a arrumar o bar para a noite. Ela largou o pincel, e foi ver o que Bill queria. atravessou a sala com passos largos, precisava voltar ao seu quadro o mais rápido possível. Antes de abrir a porta ela ouviu mais três batidas.
– Já vou abrir. – ela anunciou.
    Quando Emma abriu a porta, viu que não se tratava de Bill, e sim de seu pai, que não via a anos.
– O que você está fazendo aqui? E quem te deixou entrar? – disse Emma nervosa.
– O Bill. – disse ele apontando com o polegar por cima dos ombros. – eu não acredito que ele ainda trabalha aqui.
    O pai de Emma era um homem alto e corpulento de pele escura, possuía uma barba grande e bem cortada, vestia uma jaqueta jeans e uma toca em sua cabeça.
     Emma se virou e saiu de perto, a única coisa que se passava em sua cabeça era que deveria sair dali o mais rápido possível. Ela vasculhava a casa à procura de algo.
– Onde estão aquelas Chaves. – disse ela consigo mesma.
– Elas estão aqui. – falou o pai de Emma apontando para as chaves, que estavam penduradas ao lado da porta.
    Emma arrancou as chaves de onde estavam, e saiu com a roupa que usava para pintar.
– Emma a gente precisa conversar. – disse o seu pai.
    Ela trancou sua porta e desceu as escadas. Quando chegou no bar, deu de cara com Bill, que estava organizando os copos. Ela o fuzilou com os olhos, e foi em direção a saída, seu pai vinha logo atrás pedindo para que ela o esperasse. Emma entrou em seu carro ignorando os pedidos dele, deu a partida e saiu dali, ela podia ver Bill falando com ele através do retrovisor.
 

Emma estava na frente do prédio da Dark House a espera de Letícia, estava precisando conversar com alguém. Esperou por um bom tempo até que viu Zoey saindo do prédio. Emma saiu correndo até Zoey, que destrancava o cadeado que prendia a corrente envolta do pneu de sua bicicleta.
– Ei Zoey. – disse Emma se aproximando.
– O que você tá fazendo aqui? – Zoey falou surpresa, olhando torto para a roupa que Emma usava.
    Era uma camisa masculina tamanho G, que estava suja de tinta.
– Eu vim me encontrar com a Letícia, estava querendo falar com ela.
– E por que você não ligou para ela? – Zoey subia em sua bicicleta.
– Eu esqueci o meu celular em casa.
– A Letícia não te falou que as tardes ela trabalha em um café?
  – Não, ela nunca me disse, você sabe onde fica?
– Claro, eu te passo o endereço.
    Emma pegou o endereço e voltou para o seu carro.

Emma estava escorada em seu carro quando Letícia saiu do café, ela a notou de imediato e andou até ela. Quando se aproximou de Emma, Letícia lhe beijou. Emma achava os lábios de Letícia macios e adocicados.
– O que você tá fazendo aqui? – disse Letícia com os braços em volta do pescoço de Emma, que segurava sua cintura.
– Queria te ver.
    Letícia notou pela a voz de Emma que havia acontecido algo.
– Você está bem? – perguntou preocupada.
– A gente pode conversar em algum outro lugar?
– Claro. Nós podemos ir para a sua casa.
– Não, não quero voltar para casa agora.
    Letícia parecia confusa.
– Para minha casa então.
– Está bem, só preciso avisar o Bill. Você pode me emprestar o celular?
    Letícia emprestou sem questionar.
 

As duas estavam sentadas na beira da cama. Era a primeira vez que Emma ia na casa de Letícia, ela queria que tivesse sido em uma situação menos caótica.
– O que aconteceu? – Letícia segurou a mão da Emma.
   Sua mão transmitia um calor que Emma achava reconfortante.
– Meu pai apareceu na minha casa hoje.
– Você tem problemas com ele?
– Sim. – Emma gesticulava com a cabeça.
– Que tipo de problemas?
– Como seus pais reagiram quando descobriram que você era gay? – perguntou Emma.
– Na verdade eles reagiram bem, me apoiaram. – ela explicava sem muita pressa. – quem não reagiu nada bem foram as minhas amigas.
– O que elas fizeram?
– Se afastaram de mim. Devem ter achado que eu iria dar encima delas, ou algo do tipo.
    Houve silêncio por um momento.
– Como seus pais reagiram? – perguntou Letícia quebrando o silêncio.
– Nada bem. Minha mãe ficou furiosa e me expulsou de casa, enquanto o meu pai a apoiou. Ela disse que só queria me ver de novo quando eu estivesse casada com um homem.
– Meu deus! Ela realmente fez isso?
– Sim, e se não fosse minha tia não sei o que seria de mim. Então quando eu o vi ali, parado na minha frente, a cena da minha mãe me expulsando de casa, e ele parado olhando, veio em minha mente. Entrei em pânico, a única coisa que eu queria naquele momento era sair daquele lugar. – Emma se desmanchou em lágrimas.
– Ei, não precisa chorar. – Letícia a abraçou, repousando sua cabeça sobre seu peito.
    Emma chorava com seu rosto abaixado, quando Letícia o levantou lentamente, fazendo com que Emma a olhasse.
– Eu estou aqui com você. – disse Letícia enxugando as lágrimas que escorriam pelo rosto de Emma.
     Emma olhava para Letícia, que segurou o seu queixo com delicadeza, e a beijou. Emma desabotoava a blusa que Letícia vestia, deixando seus seios à mostra. Elas se deitam sobre a cama, com Letícia por cima de Emma.
    Aquela foi a primeira noite que elas passaram juntas.