Capítulo 2

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Benedict finalmente bateu na porta, após ficar durante um bom tempo encarando o nada. O tempo estava nublado, e choveria a qualquer momento se Benedict continuasse com medo de entrar. O mordomo abriu em instantes, logo dizendo que avisaria a viscondessa sobre a chegada do cunhado.

- Tio Bene! – a pequena Charlotte correu para abraçar o mais velho. A menina tinha os famosos cabelos fartos e escuros da família Bridgerton, mas suas feições eram delicadas e a cor de seus olhos vinha de Edwina Sheffield, irmã de Katherine.

- Milorde. – A reverência de Kate o fez estremecer. Não era necessário entre os dois, apenas se seguissem o tratamento respeitoso imposto para a aristocracia. Benedict não fez o mesmo que Katherine, porque a puxou para um abraço. Ele não pôde ver a lágrima que caíra do olho da cunhada. Kate se virou para a filha, que começara a fazer biquinho, e pediu que a menina esperasse até que Benedict pudesse brincar com ela. 

- Não vou ao menos lhe oferecer um chá; precisamos de algo forte. – Kate seguiu decidida, com os passos firmes até o escritório do irmão de Benedict. Bene percebeu que Kate vinha muito ali, pois o lugar cheirava a sabonete de lavanda. Ela se sentou na poltrona de couro do marido, atrás de sua mesa.
– Conhaque? – Katherine não deu a chance de ele responder, porque serviu rapidamente dois copos. – Charlotte e Mary reclamam cada vez mais de sua ausência. – A cunhada decidiu que seria direta.

- Onde está Mary? –

- Aprendendo a tocar flauta. – Benedict fez uma careta, porque se esses sons que ouvira era música, a sobrinha precisava de uma tutora melhor. Apesar de que deveria ser de família, pois houve uma noite fatídica em que Anthony e Kate organizaram uma apresentação e todos ficaram atordoados com o quanto eles eram ruins. – Garanto que Mary ainda é melhor do que eu. – Os olhos de Benedict se arregalaram.

- Preciso providenciar uma tutora melhor para minha linda sobrinha. – Kate abriu um sorriso, mas Bene não deixou de ver a tristeza no olhar da mulher. Era Benedict que devia cuidar das meninas, e ele prometeu que faria um bom trabalho. Prometeu para o corpo do irmão e para si.

- E eu preciso providenciar minha saída da Casa Bridgerton. – Benedict não conseguira concordar porque observava a tela acima da cabeça de Kate. Era Edmund Bridgerton, seu pai. A casa era da viscondessa viúva antes de Anthony se casar e tomar posse da propriedade.

- Fique. Não me importo com a casa. – disse de repente. Se sentia péssimo porque parte do motivo era para evitar suas sobrinhas pequenas, mas também era a casa delas e ele não gostaria de morar ali sozinho. O espaço era muito grande e havia muitas memórias. Benedict devia oferecer o melhor para Charlotte e Mary, mas não significava que precisavam dele presente.

- Benedict, quando irá encontrar alguém para você? – perguntou Kate baixinho. Nos últimos meses, o segundo irmão mais velho parecia miserável. – Forme uma família e talvez suas preocupações fiquem um pouquinho menores. – Katherine tinha um coração bom, e Benedict acreditava que de fato queria isso, mas quando realmente pensava no assunto, seu peito doía. Talvez ele fosse ser um péssimo pai. Era Anthony quem assumia todo o trabalho de conversar com os irmãos, enquanto Bene apenas brincava com eles. Benedict pensava que poderia morrer como o irmão e o pai e deixar sua família para trás. Quem cuidaria deles? Jogaria a responsabilidade para Colin?

- Irei pensar sobre o assunto. – Era a resposta mais vaga e menos vaga que poderia dar, por nem ele mesmo saber.

Benedict conseguira sair da Casa Bridgerton antes que começasse a se sentir sufocado, mas não sem dar um beijo de despedida na sobrinha. Charlotte devia ser sua sobrinha mais querida – não que ele dissesse isso para os outros – pois tinha o mesmo dom que Bene resolvera deixar de lado. A criança também deveria ser a única pessoa que soubesse da existência da artes na vida de Benedict.

Chame meu nome, Penélope. Onde histórias criam vida. Descubra agora